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Lula versus Lula (por Mary Zaidan)

Comportamento errático do presidente emperra seu governo

atualizado

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Vinícius Schmidt/Metrópoles
Lula discursa durante reunião aberta em que recebe relatórios
1 de 1 Lula discursa durante reunião aberta em que recebe relatórios - Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles

Luiz Inácio Lula da Silva é o opositor mais efetivo ao governo Lula 3. Antes mesmo de completar 100 dias, age como seu antecessor, que também jogava contra o seu próprio mandato. Além da língua solta, que constrange até aliados, os dois têm como prática eleger culpados para pendurar nas costas deles seus insucessos. Jair Bolsonaro dizia que o STF não o deixava governar. Lula antecipa-se em debitar a conta no Banco Central, que estaria mantendo a taxa de juros em 13,75% só para inviabilizá-lo. Mais do que inverdades, trata-se de oportunismo barato. De ambos.

Bolsonaro já foi. Acabou seus quatro anos de forma desoladora, sem deixar saudade. Sua rixa com o Supremo animou vândalos e ainda vai render dores de cabeça a ele. Lula, ao contrário, tem todo um mandato pela frente, mas os sinais que emite são preocupantes. Se está queimando tanto combustível preventivamente para atribuir a outros um eventual fracasso, permite crer que ele próprio vislumbra essa hipótese.

Vamos aos fatos. A taxa Selic chegou em 13,75% em agosto do ano passado e tem sido mantida nesse patamar desde então. De lá para cá não houve um só movimento que apontasse melhoria no cenário econômico externo ou interno. Nadica. A não ser a promessa de uma nova âncora fiscal que, apesar dos esforços da equipe econômica e do ministro da Fazenda Fernando Haddad, continua na mesa de Lula.

Mesmo altos e portanto criticáveis, os juros agora apontados como imorais não tiveram eco na campanha eleitoral, muito menos frequentaram os discursos dos candidatos de ponta, Lula incluído. Entre empresários, se reclamações existiam, elas ficavam entre quatro paredes. Não se ouvia um pio. De repente, a tal Selic virou o mal de todos os males, as chamas do inferno.

Lula tem sido elogiado por provocar o debate sobre os danos que juros elevados impõem ao crescimento do país – tema sempre pertinente. Mas o aplauso se converte em apupo quando ele aponta o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, como o demônio a ser combatido, como se o BC tomasse suas decisões embalado por picuinhas pessoais.

A birra com Campos Neto, que estaria agindo para derrubá-lo, não é um fato isolado. Tal como seu antecessor, Lula tem enxergado inimigos por toda parte e, como um terraplanista, insistido em teorias conspiratórias. Mágoa e vingança têm emergido de suas falas, a exemplo das acusações levianas contra o ex-juiz e senador Sérgio Moro, alvo mortal de plano de facção criminosa, desbaratado pela Polícia Federal. Sua “desconfiança”, sem provas, de que Moro havia armado a operação, foi mais um tiro contra o seu governo. De uma só vez, detonou a PF e o ministro da Justiça, Flávio Dino, que um dia antes elogiara as investigações.

Esse comportamento errático emperra seu governo, aprisionando-o na narrativa de um chefe rancoroso. A volta do Bolsa Família, agora com adicional de R$ 150 por criança, teve baixa audiência até entre aliados, desorientados sobre o que deve ser exposto aos holofotes. Os Ianomâmis, salvos pelo novo governo, sumiram dos discursos; o mesmo ocorreu com a retomada das campanhas de vacinação. Em vez de despejar energia nesses temas, o PT seguiu o líder: entrou de cabeça na luta contra o Banco Central e ainda vocifera contra o ministro Haddad.

Tinha tudo para ser diferente, até porque a empatia zero e os erros fenomenais do antecessor facilitavam a tarefa. Mas, no avesso do dito popular, Lula escolheu pôr a faca entre os dentes e jogar o queijo no lixo. Quer manter o campo inimigo sob tensão. Sua promessa de pacificação era só promessa.

Mary Zaidan é jornalista 

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