“Brasil em Constituição”:jornalismo e emoção no JN (Vitor Hugo Soares)
O documentário tem sido um antídoto poderoso contra as venenosas tentações golpistas emanadas do centro do poder no Palácio do Planalto
atualizado
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A série “Brasil em Constituição”, que o Jornal Nacional (TV Globo) vem mostrando, nas edições diárias, merece desde já – pelo visto, ouvido e repercutido – especial destaque como uma das melhores e mais relevantes produções da televisão brasileira, desde a inauguração das suas transmissões no País, graças à ousada antevisão do futuro de Assis Chateaubriand, à frente dos Diários Associados. Confesso: não recordo ter assistido, antes, uma produção jornalística na TV nacional (ou internacional) capaz de mexer tanto e tão diversamente com sentimentos pessoais e profissionais, deste rodado habitante de redações, com passagens por alguns dos destacados veículos de imprensa nacional, a exemplo do Jornal do Brasil, Revista Veja e A Tarde, na Bahia, este último, então, diário regional de maior circulação do Nordeste – desde quando iniciei a carreira, nos anos loucos da ditadura, de experiências inclusive de cárcere político. Isso tem acontecido desde o primeiro capítulo da Série (com maiúscula mesmo), conduzida por William Bonner e Renata Vasconcelos.
Desde o começo, dia 29 de agosto, o documentário tem sido um antídoto poderoso contra as venenosas tentações golpistas emanadas do centro do poder no Palácio do Planalto, na figura do presidente Jair Bolsonaro – em campanha de reeleição – e aliados, cada vez mais desatinados, como se viu dia 7 de Setembro, nas inglórias e eleitoreiras celebrações oficiais do Bicentenário da Independência, principalmente em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. No dia seguinte, felizmente, um ato grandioso e expressivo de celebração, promovido no Congresso, serviu para começar a apagar a nódoa da véspera.
Depois deste interlúdio, voltamos ao seriado do JN e à envolvente, atordoante e comovente sucessão de imagens, falas (impressionantes as pontuações do timoneiro da Constituinte, Ulysses Guimarães, dando ritmo e vigor à narrativa), reuniões e atos de rua, documentos e situações marcantes da história e da vida nacional dos últimos 40 anos. Em alguns casos ainda submersos na sombra alienante do sigilo imposto pelos ditadores e donos do poder militar e civil daqueles dias de perdas e danos insanáveis às normas da convivência democrática.
Para a maioria da sociedade – em especial os mais jovens, mas também aqueles quase esquecidos do que vivenciaram nos anos que antecederam a Constituição de 1988 – cito, em especial, as imagens do episódio de força real e documental arrepiante da invasão da Faculdade de Direito, em São Paulo, por policiais militares comandados pelo chefe da Segurança Pública da época, o duro coronel Erasmo Dias. Fato que me remontou à memória o triste e desesperador caso semelhante, acontecido na Bahia: o cerco e invasão da Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia, com permissão de sua diretoria, em março de 1968, por agentes da Polícia Federal, comandados pelo então chefe da corporação, coronel Luiz Arthur de Carvalho, quando vários alunos (incluindo o autor destas linhas, com matrículas cassadas no pós AI-5) foram presos, dentro da sala de aula, algemados e levados para cela do Quartel do 19º Batalhão de Caçadores( 19 BC do Exército, no Cabula, em Salvador… e aro por aqui. “Brasil em Constituição, segue a caminho de prêmios e do justo reconhecimento da crítica e do público. Viva a Constituição de 1988 e viva o bom e livre jornalismo.
Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta. E-mail: vitors.h@uol.com.br