metropoles.com

Youtuber Léo Viturinno faz vídeos para LGBTs em Libras

O jovem deseja promover a representatividade e inclusão de surdos na sociedade

atualizado

Compartilhar notícia

Divulgação
IMG_0039
1 de 1 IMG_0039 - Foto: Divulgação

Há algumas semanas, Leandra Leal compartilhou um canal do YouTube voltado para pessoas falantes de Libras. Dentre os vários assuntos que o apresentador abordava, estava a questão LGBT tratada sob a ótica de alguém surdo. Senhoras e senhores, eu lhes apresento Léo Viturinno.

Léo criou em 2011 um Tumblr que fez bastante sucesso, principalmente porque ele era muito bom em criar gifs. Viturinno já acompanhava alguns youtubers ouvintes e as pessoas lhe cobravam a criação de um canal próprio. Em seus vídeos, ele trata de tudo – séries, dia a dia da surdez, fatos curiosos – sempre em Libras e com legenda em português.

Aliás, foi em um desses vídeos que eu descobri uma série de informações interessantes. Por exemplo, surdo geme? Frequentemente pessoas surdas escrevem com dificuldade, pois, sua primeira língua é Libras, e português, a segunda. Então eles fazem uso dele como um estrangeiro. Por isso, Léo conta com a ajuda de uma amiga na revisão das legendas do canal.

Seus vídeos são muito bem editados e filmados (Léo também é fotógrafo, além de formado em letras/Libras pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia). É interessante ver como, apesar da limitação, ele consegue transpor barreiras e adquirir o mesmo vocabulário LGBT dos ouvintes. Ainda mais se você considerar que vídeos e músicas brasileiras (fonte de boa parte do nosso linguajar) não têm legenda para surdos.

Vou dar um exemplo. Que tiro foi esse?, da Jojo Maronttinni, a expressão do Carnaval. Depois do meu papo com o Léo, fui rever o clipe e, realmente, não tem legenda. Nem mesmo nos vídeos da Pabllo Vittar. Isso provoca uma sensação de exclusão muito forte. Qual o custo (de tempo e dinheiro) para fazer uma legenda num vídeo em português? Só há interesse em “traduzir” coisas estrangeiras por ser algo estranho à maioria.

Léo conta nos vídeos que sua referência em produção nacional cinematográfica é zero. Ele mora em uma cidade do interior baiano, onde não chegam festivais de cinema com legenda especial para surdos. É desolador saber, mas a cinematografia do Brasil segue inacessível a uma grande parcela da sociedade.

Alô, galera dos sites que fazem legendas, vocês são tão bacanas e ágeis em traduzir coisas estrangeiras. Que tal dar uma moral para a comunidade surda?

Já o vídeo da música Flutua, de Jhonny Hooker e Liniker, conta a história de amor de dois caras, sendo que um deles é surdo e utiliza Libras. Para nós, pode soar como metáfora, mas para pessoas como o Léo, é representatividade direto na veia.

Viturinno diz que, nos canais em Libras, raramente fazem os sinais de LGBTs ou trazem informações básicas sobre o assunto. Afinal, ele não é o único gay surdo no mundo, né? Léo é um dos administradores da comunidade SLibras LGBT no Facebook. E, se as questões de gênero e sexualidade não são consideradas discussões de primeira ordem, mais raro é alguém ter interesse em encontrar uma forma de falar com eles sobre isso.

O canal do Léo Viturinno já apareceu no Instagram da Leandra Leal e foi divulgado no Nerdologia, que tem mais de 1,8 milhão de seguidores. O próximo passo deve ser o programa da Fátima Bernardes. Mas, até lá, se alguém puder legendar Do Começo ao Fim para ele assistir, esse texto valeu a pena ter sido escrito.

Compartilhar notícia