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Parada LGBT tem conteúdo político, festa e pegação

A Parada é uma festa? É também, pois não existe nada que obrigue que protesto deve ser sisudo

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parada jay istambul
1 de 1 parada jay istambul - Foto: iStock

Na expectativa da Parada do Orgulho LGBTS de Brasília, que rola nesse domingo (26/6), encontro um conhecido e pergunto animado:

– Te vejo na parada domingo, né?

– Eu não, não vou em parada. Aquilo não tem mais nenhum conteúdo político, é só festa e pegação.

Se ao menos fosse a de São Francisco (EUA), eu iria – me responde como se tivesse dito algo extremamente interessante.

– Mas na de São Francisco o povo não se pega, não?

Silêncio sepulcral.

Quantas e quantas pessoas (gays e héteros) repetem a mesma baboseira da ausência de conteúdo político das paradas, com destaque hipócrita para a “balada e pegação”? Honestamente, eu não compreendo quem diz isso, pois apenas os LGBTs têm a alegria dentre as principais formas de protestarem.

A tradução da palavra “gay” na língua inglesa é “alegre”. Já foi xingamento e passou a ser identificação com orgulho. Em português seria o equivalente ao “rapaz alegre”, numa conexão explícita entre alegria e homossexualidade.

Estranho pensar em acabar com a alegria de alguém justamente dizendo que ela é alegre e, irônico ainda, responder a esta ofensa sendo superalegre, ou seja, não se deixando sucumbir à tristeza da vergonha. É você pôr em prática a máxima de Oscar Wilde – mega gay – “A maior vingança é viver bem”.

E quando a gente vê alguém feliz, o sentimento é bastante contagioso. Nessa hora a maior vontade é dizer que você também gosta de ser do jeito que é, beijar a pessoa que você ama na boca sem medo ou culpa e curtir seu corpo balançando ao som da música que mais expressa o que você está sentindo.

Nem sempre eu vi as coisas desse jeito. Também já achei super esquisito ao perceber que todas as outras manifestações políticas eram austeras e as manifestações pelo direito dos LGBTs viravam quase boates a céu aberto, com ótimas trilhas sonoras, cores, brilhos, plumas & paetês, até o dia que vi “The Normal Heart“.

O filme conta a descoberta da Aids do ponto de vista dos homossexuais e como isso os afetou sobretudo nos Estados Unidos. Logo nas primeiras cenas, a médica interpretada por Júlia Roberts, promove um encontro com alguns poucos gays e avisa que há uma doença que já matou algumas pessoas, todas gays, que ninguém sabe direito como se transmite, mas parece que é através do sexo.

Os convidados da reunião então perguntam, meio desconfiados, como poderiam fazer para se proteger e ela fala que eles poderiam parar de fazer sexo. Todo mundo vai embora achando que ela devia estar louca, pois eles não haviam lutado no Stonewall pelo direito de amar e de transar com quem quisessem, para agora ela vir dizer que deveriam parar.

Na hora foi um choque, mas logo compreendi, afinal era por aquilo que eles tinham lutado. Transar com quem quisesse era a expressão maior de quem eles eram naquele contexto. Que eles eram livres para amar e que não concordavam com o modelo de vida que a sociedade lhes queria impor. No fim, eles provaram que estavam certos, pois não precisava deixar de transar, bastava usar camisinha e a vida seguiria como antes.

Viver de forma alegre é um grande tapa na cara de uma sociedade que espera que a gente viva com vergonha. Uma vez vi um broche com a bandeira do arco-íris que dizia: Não é orgulho, é prazer. Sim e muito prazer! Tanto prazer que quando a gente vai à rua demandar por nossos direitos, vamos também dizer que somos felizes do jeito que somos.

Talvez o movimento LGBT seja o único que tem a bandeira da alegria nos seus protestos.

A Parada é uma festa? É também, pois não existe nada que obrigue que protesto deve ser sisudo. A sisudez é muito mais uma característica que a sociedade triste, reprimida e conservadora quer impor, dizendo que, sem ela, a manifestação política não é séria. E os gays, só por serem alegres, já estão se posicionando politicamente contra a caretice. Portanto, por que suas manifestações organizadas também não seriam assim?

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