“Menstruar tá na moda”: grupos femininos querem naturalizar o ciclo
Mulheres tentam reconciliar a relação com o próprio corpo, sem vergonha ou nojo
atualizado
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“Aquela época do mês”, “mar vermelho”, “cena de crime” e “vazando” são apenas algumas formas para falar de menstruação. Por ser um tabu e parecer assunto proibido em certos ambientes, a falta do termo apropriado dificulta discussões sobre o organismo e a saúde feminina. Para resgatar a autonomia do corpo da mulher, novos movimentos apostam na espiritualidade e no afronte para debater e naturalizar o assunto.
Historicamente, o período menstrual é associado à impureza. Por isso, muitas pessoas pensam na menstruação com nojo e até irritação. Uma pesquisa recente descobriu que 58% das mulheres têm vergonha de menstruar e 42% revelaram ter sido constrangidas por amigos e homens da família.
Nos últimos anos, artistas passaram a usar o sangue menstrual como inspiração e matéria-prima para ensaios fotográficos. Produtos específicos para facilitar o sexo durante o período também indicam que normalizar é o caminho. Formas alternativas para estancar o sangramento, como copinhos, calcinhas absorventes e opções ecológicas apontam para a naturalização do ciclo feminino.
A Pantys, marca de calcinha especial para menstruação, conta que a reação do público tem sido surpreendente. “Estamos vendo uma resposta muito forte e uma conexão emocional das clientes. Em parte, porque pensamos na mulher inteira, não só na sexualidade. Isso já cria uma conversa diferente”, afirma a empresa.
A insegurança da pílula anticoncepcional e outros tratamentos hormonais levaram à insatisfação de pacientes nos consultórios médicos. “Mais mulheres buscam uma interação entre qualidade de vida e métodos naturais, elas querem viver e se alimentar melhor”, explica a ginecologista Janaína Stouri.
Ginecologia natural
A ginecologia natural não é uma especialidade reconhecida no campo médico, mas um movimento. “Começou na América Latina, em países como Peru, Chile e Argentina. Resgata saberes ancestrais e valoriza o feminino. É um olhar mais profundo e holístico sobre a mulher, as questões dela e a menstruação”, diz a médica ginecologista, adepta da linha natural e autora Bel Saíde.
Ambas concordam que a procura pelo método aumentou de forma significativa nos últimos anos. Bel atribui a demanda à popularização do feminismo e busca por estilo de vida saudável. “Muitas vezes, a única proposta dos ginecologistas convencionais é o uso de hormônio. Quando as mulheres pesquisam, elas ficam assustadas e querem outra forma de se cuidar”, diz Ana Carolina.
Os grupos de discussão sobre o assunto, nas redes sociais, também ganharam mais adeptas. Ana Carolina administra a página Laboratório de Ginecologia Natural e Autônoma para ajudar a naturalizar a menstruação. Produtos como aplicativos, cadernos lunares e mandalas do ciclo feminino estão cada vez mais populares e ajudam a acompanhar as mudanças do corpo ao longo do mês.
Formas de ligar a menstruação à natureza também estão em alta. No início do mês, a atriz Bianca Bin causou estranhamento ao falar sobre realizar um ritual com sua menstruação. “Quando você usa coletor, existem dois convites: de estudar o sangue e de plantar a lua, prática na qual você honra o fluxo e derrama na planta ou na horta, para fertilizar”, afirma Ana Carolina.
Bel percebe mais mulheres confortáveis com o próprio corpo. “Menstruar e ter TPM eram sinais de desequilíbrio. Atualmente, encontramos força no nosso ciclo. Isso é transformador”. Para Ana Carolina, o assunto está deixando de ser um tabu.
“As mulheres estão ficando mais amigas dos seus ciclos. Na ginecologia natural, muitos processos de cura e alívio de desconfortos acontecem por meio da reconciliação com a menstruação”, afirma. Bel e Ana Carolina enxergam vários benefícios para o sexo feminino durante esse período.
“Vejo como uma bênção, é uma oportunidade para se regenerar todo mês e um termômetro de saúde feminina”, diz Ana Carolina. Bel acredita que a ginecologia natural não é para todas, mas, mesmo assim, recomenda o método. “Somos diferentes, algumas buscam algo diferente. Para quem se interessa, indico a prática. Afinal, as mulheres têm gostado bastante”.