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Veja quatro emocionantes histórias de superação de deficientes físicos

No Dia Nacional da Pessoa com Deficiência, moradores do DF contam como venceram obstáculos para viver de forma plena e feliz

atualizado

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Myke Sena/ Esp. Metrópoles
1 de 1 - Foto: Myke Sena/ Esp. Metrópoles

“Pés, para que te quero, se tenho asas para voar”. A famosa frase de Frida Kahlo, uma das artistas plásticas mais importantes da atualidade, descreve seu processo de aceitação da deficiência física, adquirida aos 18 anos em virtude de um acidente. Uma forma de expressar que nenhuma condição física pode obstruir o caminho dos que sonham e se dedicam.

Como Frida, outras personalidades também superaram limitações para escrever seu nome na história. Beethoven, surdo, se tornou um dos pilares da música ocidental. Stephen Hawking realizou seu trabalho a partir de uma cadeira de rodas para se consolidar como um dos cientistas mais importantes do mundo. O brasileiro Daniel Dias, que nasceu com má formação dos membros superiores e na perna direita, descobriu o natação aos 16 anos e hoje é um dos principais atletas paralímpicos do mundo.

A lista é extensa, e não é preciso ir longe para encontrar histórias inspiradoras de pessoas que superaram obstáculos para encontrar sua melhor versão.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística,  no Distrito Federal, há cerca de 574 mil pessoas com alguma deficiência física, intelectual ou sensorial, o que equivale a 22% da população. No Dia Nacional da Pessoa com Deficiência, comemorado neste sábado (21/09/2019), o Metrópoles conta a história de quatro moradores do DF que driblaram as dificuldades e relatam como foi o processo de aceitação em busca de realização, amor próprio e autoestima.

Conheça Bruna Dornelas, Estevão Lopes, Igor Ruscher e Martha Freitas.

Estevão Lopes, atleta 

Em 2012, aos 34 anos, o advogado e educador físico Estevão Lopes viu sua vida “virar de cabeça para baixo”. Ele saía de uma festa de aniversário no Riacho Fundo, em Brasília, quando foi atingido por uma bala perdida. Levado às pressas para o hospital, lutou cerca de 60 dias pela vida, até sair da Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) e descobrir que, como consequência de uma lesão na medula, não recuperaria os movimentos da cintura para baixo.  

“Naquele instante, soube que precisaria me reinventar”, recorda. Foi exatamente o que fez. Pouco tempo depois do acidente, foi convidado por sua fisioterapeuta a se voluntariar no projeto conhecido como EMA Trike – Empowering Mobility and Autonomy, ou, em bom português, Empoderando mobilidade e autonomia. Conduzido por um grupo de pesquisadores da UnB, o EMA une a Estimulação Elétrica Funcional (EEF) ao triciclo para permitir que cadeirantes pedalem com as próprias pernas. Um avanço importante para atletas que precisam manter o corpo em movimento e a musculatura forte para competir em alto rendimento. 

A partir da experiência bem-sucedida, Estevão se convenceu de que o acidente inaugurava uma nova fase em sua vida. Passou a se dedicar ainda mais ao esporte – mais especificamente à vela, ao remo e à canoagem –, representou o DF e o Brasil em competições pelo mundo e decidiu ajudar outras pessoas com deficiência a alcançarem uma vida com mais qualidade. “Queria compartilhar as oportunidades que tive”, afirma. 

Assim, em 2016, surgiu a  Capital do Remo – que, em 2019, já  figura entre as maiores escolas de remo e canoagem paralímpica da América Latina. São cerca de 50 alunos “eficientes”, como Estevão prefere chamá-los. “A única diferença entre mim e as demais pessoas é a forma de andar. Hoje, minha vida é 10 vezes melhor do que era antes do acidente. Aprendi a dar mais valor.”

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Bruna Dornelas, publicitária e modelo 

A goiana Bruna Dornelas não lembra como era a vida antes de ter a perna amputada, aos 4 anos, em virtude de um acidente de carro que culminou na morte de sua mãe. “Nosso carro bateu em alguma coisa na pista e, na colisão, meu pé foi esmagado. Nunca quis questionar o que aconteceu ou encontrar culpados. Fui levada para o hospital às pressas e quando fiquei estável, encaminhada para a rede Sarah. Entre idas e vindas, foram 16 anos lá dentro. Fazendo fisioterapia, trocando as próteses. Me sinto privilegiada por ter tido acesso à instituição e aos profissionais”, recorda. 

Com o suporte hospitalar, da família e de amigos que fez, Bruna teve uma vida como a de qualquer outra jovem de sua idade. Exceto por um detalhe. “As próteses do Sarah vinham com uma espuma que simulava o formato da perna. Eu gostava, mas precisava estar sempre de calça jeans ou saia longa. Além disso, não podia entrar na água. Ela não era adaptada para isso”, desabafa. 

Em 2016, após uma série de viagens com amigos e familiares para Jericoacoara, decidiu comprar uma prótese à prova d’água. O recurso não contava com a espuma e Bruna decidiu assumir a condição pela primeira vez, em um post do Instagram. Rapidamente recebeu uma série de mensagens de incentivo dos amigos. 

 “A decisão de não continuar escondendo  minha deficiência foi importante. De um lado,  queria fazer esportes, tomar sol, viver. De outro, tinha o receio de assumir pro mundo. Hoje, tenho certeza da escolha que fiz. Postar aquela foto e me livrar das amarras foi a melhor coisa da vida. Me libertei.”

Hoje, além de integrar a equipe de marketing de uma marca de cervejas, trabalha como modelo e ajuda a empoderar outras pessoas. “Cada um tem seu tempo, sua aceitação. Mas é  importante que ela chegue um dia. Não deixo de ir à academia, de fazer uma trilha, de entrar na cachoeira. Parei de me perguntar ‘por que comigo’. Tenho noção de que só tenho uma vida e que não estou disposta a gastá-la me lamentando”, resume. 

Apesar do relato otimista, Bruna reconhece que os recursos a que teve acesso ainda não estão disponíveis a grande parte das pessoas com deficiência. A prótese à prova d’água, por exemplo, custou cerca de R$ 50 mil. Outra, adquirida no ano passado, com um sistema inteligente, R$ 100 mil. “Tenho consciência de que sou uma pessoa privilegiada. Gostaria que todas as pessoas tivessem acesso a isso, porque foi fundamental para mim e para minha autoestima”, finaliza. 

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Igor Alessandro, drag Ayobambi

Igor Alessandro Ruscher, 21 anos, nasceu com uma má formação no braço esquerdo, que nunca o impediu de alçar voos altos. “Quando se tem uma deficiência congênita, você não tem memória de como era antes. Então, sempre lidei bem. Eu não posso mudar quem eu sou”, relata. 

Ainda que a deficiência não tenha sido um fator limitante, foi no palco que Igor ganhou confiança e autoestima. “Aos 17 anos, assistia ao reality RuPauls Drag Race, que me apresentou a arte drag. Achei empoderador e comecei a me montar”, relembra. Nascia, então, a personagem Ayobambi, uma espécie de alter ego do artista brasiliense.

“O palco é minha maior fonte de autoestima. É onde, de fato, me mostro para as pessoas. E onde elas me veem do jeito que eu sou”, diz. 

Em meio a maquiagens, performances e looks invejáveis, ele encontrou um ambiente acolhedor. “O meio drag é muito inclusivo. É um espaço que abraça as pessoas que sofrem preconceito, como drag queens, pessoas LGBTI, negros e gordos. Não me recordo de episódios de preconceito, acho que nunca sofri. Mas sei que eles ainda existem. Não aqui”, sentencia. 

 

 

Martha Freitas, cantora

Martha Freitas, 54 anos, não experimentou o mesmo acolhimento no cenário artístico do DF.  “Uma noiva já disse que não queria uma cadeirante no casamento, que não seria bonito”, lamenta. Demonstrações de ignorância como essa foram usadas por Martha para se fortalecer como mulher e cantora. 

Diagnosticada com um tumor na medula em 1987, teve de se submeter a uma cirurgia de risco que a deixou paraplégica. Na época com 22 anos, adiou planos de fazer um intercâmbio fora do país e contou com o apoio de amigos para retomar a rotina. Ainda no período de adaptação, conheceu um rapaz com quem teve um filho, Ícaro, hoje com 30 anos. “O relacionamento acabou e decidi fazer uma mudança radical na minha vida. Estava me sentindo muito parada”, recorda.

Em 1994, passou no curso de letras na UnB e começou a cantar em um coral da universidade. Foi quando se descobriu como artista. “A música move a minha vida. Inclusive me ajudou a superar um câncer de mama, que descobri logo depois. A partir da primeira vez no coral, passei a estudar canto erudito, fazer apresentações solo e participar de um projeto chamado Remédio Musical. Uma forma de levar alegria para alas de quimioterapia dos hospitais”, resume. 

Mesmo com o currículo artístico invejável, Martha têm dificuldade em encontrar espaço no cenário brasiliense. “Muita gente ainda olha as pessoas com deficiência de forma assistencialista. Não precisamos desse tipo de preconceito. Eu levo uma vida perfeitamente normal, com algumas limitações, principalmente em locais que às vezes são inacessíveis.”

Servidora do Ministério da Educação, ela também teve a oportunidade de participar ativamente da formulação de políticas para pessoas com deficiência no âmbito da pasta. “Lembro que, quando entrei na UnB, era a única cadeirante. Foi um período difícil e de invisibilidade. Hoje, sei que se voltar lá será diferente. E sei que posso brigar pelos meus direitos em qualquer lugar. Mas eu não deveria ter de brigar para exercê-los. As políticas são boas, mas ainda não são totalmente cumpridas”, finaliza.

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