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Como o hijabe pode ser sinônimo de feminismo para as muçulmanas

Mulheres denunciam preconceito e associação negativa às vestes islamitas

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Islamismo e o hijabe
1 de 1 Islamismo e o hijabe - Foto: Getty Images

A luta pelo direito das mulheres tem tomado cada vez mais proporção em todo o planeta. Nos últimos dias, a situação do Afeganistão tomou conta de noticiários ao redor do mundo. Uma das maiores preocupações relatadas pelas autoridades é a situação das cidadãs que vivem na região. Em alguns casos, o uso do hijabe e da burca chegaram a ser questionados por algumas pessoas. Mas, afinal, o que são essas peças e o que elas significam? 

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O hijabe é uma vestimenta antiga de grupos religiosos. Cristãos e judeus, há muitos séculos, tinham o costume de se cobrirem para orar. A prática deixou ser seguida com o passar dos anos. O islamismo, por sua vez, manteve o costume.  Ele se assemelha a um véu e cobre cabelos e pescoço das mulheres muçulmanas.

A burca, por outro lado, é um traje que deixa apenas mãos e olhos das mulheres visíveis. Em alguns casos, ela chega a ter uma telinha na altura dos olhos, dificultando a visibilidade de outras pessoas sobre quem está usando.

Erroneamente, há quem ache que vestir essas peças seja, apenas, um sinônimo de opressão e submissão. Na prática, não é bem assim que funciona. Apesar do que muitos pensam, os símbolos não são uma imposição feita às mulheres. “Não foi o pai, o marido e nenhum homem que obrigou o seu uso, foi Deus”, esclarece Sálua Omais. A muçulmana é filha de libaneses e faz o uso da peça há 16 anos. “É uma prescrição divina, representa uma ligação com Deus”, ressalta. Apesar da obrigatoriedade prevista no Alcorão, livro religioso do islamismo, o seu uso não é uma imposição.

O que as mulheres islâmicas explicam é que, assim como Deus falou de deveres, ele também concedeu o livre arbítrio. As escrituras preveem seu uso para que elas se preocupem mais com questões religiosas do que com aquelas referente ao corpo. A burca também é uma peça usada, preferencialmente, por muçulmanas que possuem uma concepção mais conservadora do livro.

“Eu precisei de um acompanhamento psicológico para conseguir lidar com o julgamento das pessoas, principalmente os olhares que eu sabia que enfrentaria”, relato de Sálua após decisão de usar o hijabe.

Símbolo feminista

Pode não parecer, mas há uma explicação bem feminista por trás dessas vestimentas. Assim como no Ocidente, onde as mulheres lutam por maior liberdade e a não associação do seu corpo à sua personalidade, Omais esclarece que as muçulmanas anseiam o mesmo objetivo. “O véu dignifica as mulheres, no sentido de que ela não seja vista ou valorizada na sociedade, somente pelos seus atributos físicos”, explica. 

“Se sou bonita, se tenho belas curvas, se estou fora do peso ou se não tenho um padrão de beleza aceitável… Não importa. Eu quero ser reconhecida pelo o que eu sou, pelas minhas experiências, minha formação e minha intelectualidade”, pontua. 

Em entrevista ao Metrópoles, ela relatou que é um erro associar problemáticas machistas ao uso das peças muçulmanas. Segundo ela, algumas mulheres percebem que há uma “imposição da cultura ocidental em cima de outras culturas”. “Ainda existe preconceito, principalmente no Brasil. Posso dizer que o país é atrasado em relação à cultura muçulmana”, pontua. 

“Já ocorreu de eu estar no aeroporto, pronta para embarcar, e um senhor começou a me dizer que ‘Jesus iria me salvar’ e que eu precisava ser salva. A gente já percebe o preconceito no início da frase, pois eu também acredito em Jesus”, conta.

 

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Preconceito

Por ser uma cultura ainda desconhecida por parte da população brasileira, essa comunidade enfrenta alguns dilemas em território nacional. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país contabilizava pouco mais de 35 mil seguidores do islamismo até 2010. Mas o Brasil vai no sentido oposto do resto do mundo. Enquanto a religião é a que mais ganha adeptos no planeta, o Centro de Pesquisas Pew avaliou uma baixa popularidade em terras brasileiras. 

“Eu tive a oportunidade de ir a vários países do mundo e sempre me deparei com mulheres usando hijabe nas lojas, nos consultórios médicos, nas salas de aula e em todas as camadas sociais. No Brasil, isso ainda não acontece”, observa Sálua, natural de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, e formada em odontologia, direito e psicologia.

Sálua Omais, 41 anos, é brasileira e muçulmana. Há 16 anos, aderiu ao hijabe

Apesar de não existirem dados que mostrem sobre a evasão de islâmicos no mercado de trabalho nacional, essa é uma das principais queixas de mulheres muçulmanas. Sálua também integra a União de Mulheres Muçulmanas no Brasil, uma rede de apoio e acolhimento para esse pequeno grupo no país. 

“Atendemos, em grande parte, mulheres que se sentem negligenciadas na busca pelo emprego. Muitas são capacitadas e possuem excelentes currículos, mas acabam sendo vetadas pelo simples uso do véu”, pontua. 

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