Pouco tempo depois de entrar na casa, a mineira Natália Deodato foi protagonista de uma das primeiras polêmicas do BBB22. Em uma conversa à mesa com colegas de confinamento, na madrugada de terça-feira (18/01), a sister falou sobre escravidão no Brasil e afirmou que pessoas negras foram escravizadas por serem “eficientes e fortes”.
“Eu sou preta e realmente tem a história de que a gente veio como escravo. Por que? Porque a gente era forte. Por que a gente veio como escravo? Porque a gente era bom no que fazia. Se colocasse uma outra pessoa para fazer aquilo, não conseguiria”, afirmou.
A conversa sobre racismo gerou revolta nas redes sociais, sobre uma possível relativização da escravidão, e acendeu o debate fora da casa.

Natália Deodato, de 22 anos, é modelo, empreendedora e promotora de eventos. Natural de Sabará, em Minas Gerais, a jovem se considera uma “faz tudo”, sonha em ser famosa e trabalhar na TVReprodução/Instagram

De família humilde, Natália começou a trabalhar aos 8 anos vendendo bombom e ajudando a mãe no salão de beleza da família. Aos 12, deixou o negócio da progenitora e passou a ganhar dinheiro na área de recreação infantilReprodução/Instagram

Aos 9 anos, foi diagnosticada com vitiligo, doença autoimune, e precisou aprender a lidar com a situação que a acompanharia pelo resto da vidaReprodução/Instagram

Natália chegou a fazer tratamentos dolorosos durante a infância para conter o vitiligo, mas, após alguns anos, decidiu que as marcas não seriam um problema em sua vida e as assumiuReprodução/Instagram

“O que mais gosto no meu corpo é o meu vitiligo! Quando falam que sou manchada, agradeço. Não tenho problema nenhum e sinto prazer em falar sobre ele, porque, infelizmente, o que falta nas pessoas é informação”, disse a modelo

A empreendedora casou-se aos 15 anos, pois “era bem religiosa” e “não queria viver em pecado”. Após dois anos, no entanto, os jovens perceberam que queriam coisas diferentes e resolveram colocar fim à relaçãoReprodução/Instagram

Com a pandemia, a mineira precisou voltar a trabalhar no salão da mãe. Contudo, não desistiu do sonho de trabalhar na TV durante o período. Apesar das dificuldades, continuou fazendo trabalhos como figurante, modelo e dançarinaReprodução/Instagram

Segundo a mineira, ela tem a personalidade forte e quando quer alguma coisa, corre atrás. “Tenho 22 anos e já vivi coisas que muitas mulheres não viveram. Essa sou eu, tudo isso é a minha história”, afirmou NatáliaReprodução/Instagram

A história da jovem chamou atenção da equipe do Big Brother Brasil, que a escolheu para ser uma das integrantes da 22ª edição do programa. Após ser indicada ao 13º Paredão, no entanto, Natália foi eliminada com 83,43% dos votos. Ela disputava a permanência no programa com Gustavo e Paulo AndréReprodução/Instagram


Para repercutir o tema, o Metrópoles conversou com a pesquisadora em gênero e raça da Universidade de Brasília (UnB) Kelly Quirino, e com o psicólogo Alexander Bez, a fim de entender como esse tipo de discurso se relaciona com o racismo estrutural.
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“A fala da Natalia diz muito sobre como o pensamento europeu sobre a escravidão, disseminado no nosso país há mais de 5 séculos, entrou na mente das pessoas. O que faz com que até uma mulher negra reproduza isso”, explica Kelly Quirino.
Apesar de um discurso equivocado, a especialista ressalta que a mineira é uma vítima desse sistema. “O próprio oprimido incorporou a fala do opressor. O que mostra que o discurso do racismo é tão forte quanto as práticas racistas que existem na sociedade”, completa.
A justificativa de que os negros eram mais rápidos, mais fortes ou que possuíam outras vantagens físicas sustentou práticas racistas durante séculos, e se perpetuou por gerações de brasileiros, ensinados a pensar de forma equivocada. Contudo, como explica a professora, isso não passa de um mito.
“Na realidade, estamos falando de seres humanos que compartilham das mesmas aptidões e força física. É importante destacar como esse discurso é eficiente, pois está presente em todas as instituições. Por isso, exige de nós um sacrifício muito grande para erradicá-lo”, pondera.
Visibilidade e peso
Reproduzir essa temática de forma positiva ou “romantizada”, na visão do psicólogo Alexander Bez, deve ser combatido a todo custo, em busca de uma postura antirracista. “Independente do contexto, toda fala que envolva elogios a ter sido escravo, se perfaz num erro gigante”, afirma.
“Psicanaliticamente falando, quando a Natália profere a sua fala, ela mesmo sem querer está concordando com as atrocidades cometidas contra a população negra”, adianta. “Entretanto, não podemos ignorar o fato de que ainda vivemos em uma sociedade racista, com ensinamentos racistas.”
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