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Atleta das Olimpíadas dos Transplantados chama atenção para a causa

Quatro vezes medalhista, Haroldo fala da importância da doação de órgãos e espera que um dia os atletas brasileiros recebam apoio necessário

atualizado

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Arquivo Pessoal
Haroldo Costa
1 de 1 Haroldo Costa - Foto: Arquivo Pessoal

Ainda durante a faculdade, o engenheiro elétrico Haroldo Rodrigues da Costa, 51 anos, teve um problema nos rins. Acabou perdendo o semestre e a função renal, que aos poucos foi diminuindo. Precisou fazer hemodiálise e recebeu a notícia de que a cura só viria com um transplante. Felizmente, todos os oito irmãos se prontificaram para doar e dois deles eram bastante compatíveis. Foi assim que, após nove meses de hemodiálise, ele recebeu o órgão da irmã, Salete Rodrigues da Silva.

“Meu sofrimento foi meio controlado, porque eu tinha uma luz no fim do túnel. Foi mais ameno em comparação com quem está na fila para receber um órgão, sem previsão, sem perspectiva, indo dormir com a esperança do telefone tocar”, fala o morador de Brasília.

O engenheiro explica que conviveu com pessoas que estavam na fila durante o tratamento, que ele define como muito agressivo e sofrido. “Hoje em dia as coisas estão bem melhores, mas ainda sim não é fácil. E se temos tantos transplantes de rins é porque os pacientes aguentam esperar, fazendo hemodiálise”, diz. E foi durante esse período difícil que Haroldo descobriu um novo amor: o tênis.

Amante dos esportes desde sempre, ele aproveitava as sessões do tratamento para assistir pela televisão às partidas do tenista Gustavo Kuerten em Roland Garros, em 1997. Guga ganhou seu primeiro título e Haroldo a vontade de aprender a modalidade. Na primeira consulta após a cirurgia teve o aval do seu médico.

Eu tinha 32 anos e deu muito certo. Comecei a treinar, a jogar, e em 2011 ganhei a primeira medalha de bronze no tênis em dupla com outro brasileiro transplantado, Edson Arakaki, em Gothenburg, Suécia, durante o ‘World Transplant Games‘ – a Olimpíadas dos transplantados. A segunda de bronze veio em 2013, em Durban, na África do Sul. Em 2015, conseguimos a prata na Argentina e agora acabamos de voltar de Málaga, na Espanha, onde conseguimos outro bronze.

conta orgulhoso – e com razão

E a alegria em participar dos jogos mundiais tem dois lados: o esportivo, e, o mais importante, a celebração da vida. O engenheiro acredita que todos os atletas passaram por dificuldades, momentos difíceis e estão ali representando seus países, celebrando a oportunidade de estarem vivos.

“Os atletas vão mostrar para as pessoas esperando transplante que é possível viver. Da mesma forma que a gente já esteve como eles, hoje estamos saudáveis. A maior motivação é mostrar para as pessoas que, assim como nós vencemos, elas também podem vencer”, desabafa.

O grupo de atletas transplantados conta com 20 pessoas e apenas seis conseguiram participar da competição mundial este ano. O motivo? Cada um precisa arcar com os próprios custos, pois eles não contam com apoio ou patrocinadores. Nesta edição, Haroldo, por exemplo, desembolsou cerca de R$ 7.500. Só para participar do World Transplant Games é preciso pagar US$ 1.100, incluso inscrição, hospedagem e alimentação. As passagens são por fora. Sem contar equipamentos e o dinheiro que gastam treinando, pagando professores e treinadores particulares.

Sem o patrocínio, o grupo de atletas acaba não treinando de forma adequada. O Brasil tem um dos maiores programas de transplantes do mundo e uma das menores delegações da competição mundial. Este ano, contra nossos seis atletas, a Grã Bretanha levou 200 e a nossa vizinha Argentina levou 60. Vários países apoiam seus atletas transplantados. Foram 2.214 competidores de 52 países.

“O apoio é importante não só para a gente, atletas, mas para fomentar a doação de órgãos no Brasil. Na competição existem todas as modalidades e a gente tem certeza que através disso é possível promover a importância do transplante. Com uma maior visibilidade, mais gente vai pensar em doar e avisar suas famílias”, acredita o atleta.

Outro ponto positivo, enquanto os transplantados estão praticando esportes, melhoram expectativa de vida e ficam mais saudáveis. Para as Olimpíadas de 2019, em Newcastle, Inglaterra, Haroldo tem alguns sonhos.

“Com apoio necessário, espero que muito mais gente possa entrar nesse time. E já temos três bronzes, uma prata, quem sabe dessa vez a gente pegue um ouro. Mas a maior medalha é estar vivo e participando”, diz o atleta.

Que venha o ouro!

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