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A vida depois de… Participar do “pior ataque do mundo”

Sávio Bortolini, 42 anos, fez parte do time do centenário do Flamengo ao lado de Romário e Edmundo

atualizado

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Felipe Menezes/Metrópoles
Brasília (DF), 08/07/2016A vida depois de… Jogador SávioLocal: Iate Clube de Brasília Foto: Felipe Menezes/Metrópoles
1 de 1 Brasília (DF), 08/07/2016A vida depois de… Jogador SávioLocal: Iate Clube de Brasília Foto: Felipe Menezes/Metrópoles - Foto: Felipe Menezes/Metrópoles

Conversar com o ex-jogador Sávio Bortolini, 42 anos, foi uma verdadeira batalha. Cercado por crianças, a mão do meia deve ter doído de dar tantos autógrafos. Ele estava em Brasília acompanhando um evento do Real Madrid, seu ex-clube. As mais de 200 crianças que participavam, foram correndo pedir uma lembrança e quase não sobrou espaço para entrevistas.

Os meninos mais velhos que o cercavam, perguntados, sabiam quem era o jogador. Os mais jovens, seguiam o exemplo dos outros e, mesmo sem saber, ganhavam um autógrafo — quase ilegível — daquele que fez história no Real Madrid. A identidade de Sávio com o clube espanhol é tamanha que foi fácil ouvir muitas crianças perguntando: “Mas ele é do Real e brasileiro?”.

Sou uma espécie de diretor-técnico do time agora. Depois de aposentado, passei a acompanhar essas clínicas que o Real faz por todo o mundo em busca de talentos. Eu ainda tenho um relacionamento muito forte com o clube, por conta do meu passado. Só aqui em Brasília recebemos mais de 200 crianças

Sávio, ex-jogador

No entanto, mal sabem as crianças, que até confundiram Sávio com um “gringo”, que foi no Flamengo que o jogador apareceu para o mundo do futebol, ganhou fama e apelidos carinhosos. Foi o Anjo da Gávea para uns, o Diabo da Gávea para os adversários e para os mais otimistas até mesmo “o novo Zico”.

Sávio participou de uma grande fase do Flamengo, deixando saudade nos torcedores até hoje. “Foi um processo de aprendizagem ir para o rubro-negro, estar pela primeira vez em um grande clube. Eu não imaginava o tamanho da marca e só percebi lá de dentro. Fui conquistando meu espaço e ganhando caminho em cada categoria que eu passava”, explica o jogador.

Sávio esteve no rubro-negro na fase batizada de “melhor ataque do mundo”, ao lado do craque e matador Romário e do sempre polêmico Edmundo. Ou seria, na época do “Pior Ataque do Mundo”?

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Sávio Bortolini em meio a autógrafos e crianças

 

“Pior ataque do mundo”
O futebol e sua mágica de mexer com emoções, corações e, porque não, imaginações. Sabe aquela música de torcida das mais criativas e que não sai da sua cabeça? Você que já acompanhava o esporte na década de 1990, com certeza irá lembrar.

Pior ataque do mundo, pior ataque do mundo, pare um pouquinho, descanse um pouquinho, Romário, Sávio e Edmundo

Grito da torcida

A música é engraçada, gruda como chiclete, mas para quem viveu aquilo ali, de dentro do campo, não foi nada fácil. Se essa fase não foi a mais complicada na vida do ex-meia, com certeza, foi uma das que mais deixou marcas. “A história do ‘Pior Ataque do Mundo’ foi muito rápida, foram cinco meses só. Nós tínhamos tudo para dar certo, mas não demos”.

E não deu mesmo. Sávio, que em 1995 já era um dos grandes jogadores do Flamengo, viu o clube investir pesado na contratação de jogadores para comemorar o centenário. O rubro-negro contratou Romário, que havia ganhado o título de melhor jogador do mundo e estava no Barcelona. Depois, veio ainda Edmundo, o Animal, que estava louco para sair do Palmeiras e retornar ao Rio de Janeiro.

Com a dupla de craques Romário e Edmundo e a até então revelação Sávio, ficou fácil para a torcida batizar o trio de “Melhor Ataque do Mundo”. Só que o futebol amigo, como se diz, é uma caixinha de surpresas. As grandes contratações falharam e os sonhados títulos para comemorar os 100 anos do Flamengo ficaram só na vontade. Não teve bons resultados, os gols foram poucos e a cobrança da torcida só aumentava.

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Segundo Sávio, o que teve ali foi uma briga de egos entre Romário e Edmundo, tanto que os dois, até então amigos, tornaram-se inimigos.

Não tinha nada dentro do clube para fazer dar certo. Não tinha estrutura, não tinha união, não tinha companheirismo, não tinha nada

Sávio

E a torcida adversária nunca perdoa. Sem resultados, cercado de egos e de brigas, o “Melhor Ataque do Mundo” foi rebatizado como o “Pior Ataque do Mundo” pelos vascaínos. Se não bastasse o nome, ainda virou jingle, grito de guerra e viralizou (em uma época que nem internet tinha direito).

O jingle da então companhia aérea Varig, que falava sobre a diminuição da quantidade de escalas, teve uma versão da torcida e passou a representar um pesadelo para os jogadores durante os 90 minutos de jogo.

De preguiçoso a lento, de falta de vontade a excesso de baladas, de falta de amor à camisa a preciosismo, muitos foram os adjetivos que o trio foi obrigado a ouvir das torcidas adversárias e até mesmo dos próprios flamenguistas. “Nós vivemos bons momentos, mas muita gente coloca esse período como o principal da minha carreira, esse foi apenas um momento que de fato não deu certo”.

Por mais que o jogador tente amenizar. Romário, embasado em um ego que tanto cresceu com o título de melhor do mundo dado pela Federação Internacional de Futebol (Fifa), pediu a cabeça de Sávio que muito se destacava e se identificava com o torcedor. O “Pior Ataque do Mundo” fez uma vítima, marcou a carreira do meia e o transferiu para o Real Madrid.

Lá, mesmo tendo se identificado de imediato com o clube, nunca mais foi o mesmo jogador. As contusões passaram a perseguir o craque, que não conseguiu se fixar como titular. Mesmo assim, estava no grupo que ganhou três Champions League e um Campeonato Mundial.

“Foi muito rápido. Eu saí do Flamengo com 23 anos e não é fácil ir para um clube como o Real Madrid. Confesso que fui feliz e triste ao mesmo tempo. Era contratado por um grande clube, mas deixei um time que amo. Foram cinco anos que nós tivemos um sucesso muito grande e que eu aprendi muito, sobre posicionamento, eu recuei mais, melhorei defensivamente”.

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A bola não tem feito muito mais companhia para Sávio

 

Depois do Real Madrid, Sávio foi vendido para o Zagaroza, em 2003, mas já não era mais o mesmo. Em 2006 retornou rapidamente para o Flamengo, mas disputou apenas 10 jogos e não balançou as redes. De lá, voltou para o futebol internacional até que em 2010 acertou com o Avaí, mas sua passagem durou apenas sete meses e também não foi muito boa. No clube catarinense, o craque se aposentou.

Agora, o jogador não quer saber muito de estar nos gramados, até as peladas anda evitando. Ele apenas vive de negócios. “Hoje eu estou focado totalmente no lado empresarial, nas áreas de investimento financeiros, imobiliários e tenho uma empresa também que faz a gestão de carreira de novos atletas. Sou também comentarista de um canal de esporte, além das escolinhas do Real Madrid”.

Frustrações

Divulgação
Sávio teve poucas chances com a camisa da Seleção

Sávio pode se gabar de ter jogado em um dos maiores times do Brasil, o Flamengo, como também, um dos maiores do mundo, o Real Madrid. Mas se tem uma coisa que faltou na carreira do meia-atacante é mesmo ter se destacado na Seleção Brasileira.

“Não ter jogado uma Copa do Mundo realmente faltou. Principalmente em 1998 e 2002, dava para ter ido. Tinha condições, mas não fui, foi uma opção do treinador. Ter ganhado uma Copa do Mundo seria mesmo a cereja do bolo. Mas a cada não-convocação, me dava mais força ainda no clube que eu estava para jogar mais, me dedicar mais e superar aquela frustração.”

 

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