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Gê Martú é o elo entre amadores e profissionais do teatro de Brasília

A série Teatro 061 homenageia um dos mais importantes atores da cena local

atualizado

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Ge Martu e Jones de Abreu
1 de 1 Ge Martu e Jones de Abreu - Foto: null

Era para ser só uma homenagem ao Procópio Ferreira no projeto “Mitos do Teatro Brasileiro”, que desenvolvemos no Teatro I do CCBB em 2010. Os atores Jones de Abreu e Gê Martú viviam personagens das obras encenadas pelo grande intérprete brasileiro, enquanto Benvindo Siqueira e Lauro Cezar Muniz contavam peculiaridades sobre a trajetória do artista.

A sala estava apinhada de gente e Gê interpretava um faz-tudo do teatro, que observava o cotidiano de Procópio. Neste momento, a voz de Jones ecoa no teatro: “Vem Gê, vem viver o Coelho Juju. Vem fazer de Brasília a sua história”.

As palmas tornaram-se incessantes e Gê, dono do maior coração de ator que eu conheço, chorava como o menino pela homenagem-surpresa. Não há como esquecer aquele dia. Uma energia de amor elevou-se ao ar. Um Gê curvou em agradecimentos.

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Qualquer celebração à trajetória deste homem de teatro é merecida. Aliás, pode-se contar a evolução do teatro de Brasília por meio da história de Geraldo Martuchelli. Ele é um elo entre o empenho dos amadores e o estabelecimento dos profissionais.

Gê trouxe do Rio uma considerável experiência. O homem que começou, no teatro, varrendo as coxias e foi, gradualmente, entrando em cena ensinou muito. Gê era o chamado “furão”, aquele que estava ali por detrás das cortinas de olho numa oportunidade para pisar no palco.

Não tinha problema algum em ser figurante. A humildade sempre esteve a serviço de sua grandeza. Quando Gê veio a Brasília pela primeira vez era contrarregra de teatro no show “Primeiro Tempo 5 x 0”, de Peri Ribeiro e Leni Andrade, e ator num infantil “O Príncipe Valente Herói da Floresta”. Nesse último, vivia o marcante Coelho Juju.

Foi tão especial essa passagem que, quatro anos depois, estava aqui para viver essa maravilha de cidade

Gê Martú

A Brasília sem arranha-céus tinha um inimigo que ele desconhecia: o tédio. Gê deixou Copacabana por uma cidade de horizonte largo e não pensou duas vezes: procurou um grupo amador de teatro e riscou a sua história.

E eu comecei a gostar de Brasília a partir do teatro. Nesse começo, a gente tirava leite de pedra

Gê Martú

Autodidata e intuitivo, Gê construiu sua carreira tijolo a tijolo até erguer um respeitável alicerce, que teve ápice com a peça “Bella Ciao, de Mangueira Diniz, encenada na Oficina do Perdiz. Uma das apresentações mais marcantes da cidade, de 1991, pôs o nome de Gê Martú no primeiro time de intérpretes.

Na memória de quem viu a peça, os vestígios do teatro sobrevivem no cheiro de café e do molho de macarrão da família de imigrantes italianos que levou 5 mil pessoas ao espaço alternativo em 1991. Um fenômeno para o teatro brasiliense.

Premiado, Gê passa a encabeçar uma série de montagens e a ser convidado para desenvolver uma respeitável carreira no cinema. Com a filha, Luciana Martuchelli (cria da relação com a poeta e atriz Gisele Lemper), torna-se um cúmplice, participando ativamente do processo de criação dela, em diversos espetáculos.

É um figura presente nos espetáculos como espectador que torce pelo trabalho do outro. Mistura-se com facilidade a diversas gerações. Dono de um humor único, celebra a vida com leveza.

Filhão, até hoje eu não paro de aprender. Abraceijos

Gê Martú

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