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Enlameados, artistas questionam impeachment na Praça dos Três Poderes

De vendas nos olhos, bem-vestidos em trajes executivos e enlameados do fio de cabelo aos pés, os performers de “Cegos” provocaram tensão e curiosidade entre anônimos, imprensa e polícia

atualizado

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O dia era especial para Vilani Bessa. Finalmente, ela veio de São José dos Campos (SP) conhecer Brasília sob os cuidados da prima Lucimara Gonçalves. Ainda estava deslumbrada com a arquitetura da Praça dos Três Poderes quando homens e mulheres, ordenados silenciosamente em fila, entraram por uma brecha na cerca que protegia o Supremo Tribunal de Justiça. Foi um corre-corre na segurança e, em minutos, um caminhão da Polícia Militar aportava no local para entender do que se tratava.

De vendas nos olhos, bem-vestidos em trajes executivos e enlameados do fio de cabelo aos pés, os performers de “Cegos” provocaram tensão e curiosidade entre anônimos, imprensa e polícia.

Daniel Ferreira/Metrópoles

 

Alguém tem um release, por favor, um release?

O grito era de um fotógrafo que garantiu ótimas imagens, mas não sabia do que se tratava.

Desorientado o primeiro tenente buscava no celular orientações do comandante.

Senhor, eles estão cegos, camuflados e andam muito devagar e sem destino. Não trazem bandeiras, não falam nada e parecem que não são contra nem a favor. O que faço?

Márcia Alves Ferreira, que vinha do Palácio da Alvorada, sabia exatamente o que fazer. Fotograva para mandar, segundo ela, para França, Europa e Bahia. Ela ficou extasiada com a performance do Desvio Coletivo (SP), que integra o Festival Internacional Cena Contemporânea. Falante, provocou um grupo de policiais.

Tá parecendo sessenta e quatro, né? Nunca vi tanto policial

Márcia

Daniel Ferreira/Metrópoles

Os soldados ficaram com aquela cara de quem não entendeu lhufas e um deles replicou.

A senhora devia agradecer porque assim está protegida

Márcia soltou um sorriso de deixa pra lá e seguiu com a romaria de enlameados para o Palácio do Planalto, onde o presidente interino conta os minutos para se tornar presidente de fato. No caminho, o grupo fez uma continência para bandeira do Brasil, aumentando a quantidade de curiosos, que estacionavam o carro e desciam para registrar.

Tava fazendo uma entrega, mas achei sinistro. Vim correndo. É uma manifestação?

O curioso entregador de pizza fez até selfie e seguiu o destino, enquanto a atriz Priscila narrava de forma particular a ação dos companheiros para o site do grupo, que transmitia ao vivo. Quem ficava próximo dela entendia perfeitamente a proposta do coletivo, que questiona a legitimidade do processo de impeachment ou melhor, do  “golpe democrático”, como ela narrava com ênfase.

Daniel Ferreira/Metrópoles

Os policiais, antes perdidos, ajudaram os performers a atravessar a rua e seguir para o Congresso Nacional. Antes, eles pararam diante do monumental Congresso, símbolo dúbio da democracia e das falcatruas, e levantaram as malas enlameadas.

A essa altura, Vilani e Lucimara tinham desistido de entender a geografia de Brasília. Estavam emocionadas com a performance e traziam esse calor à flor da pele.

Eles representam a Justiça cega, suja e que desrespeita à população. Tô me sentindo de alma lavada

Lucimara

É o retrato do nosso país

Vilani

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“Cegos” é o cartão-postal que Vilani vai levar de uma Brasília epicentro de uma crise de credibilidade.

Na sexta-feira (26/08), às 15h, “Cegos” faz performance na plataforma superior da Rodoviária. O recado é para a enlameada Câmara Distrital.

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