The OA é uma das séries mais apaixonantes dos últimos tempos – tenho plena consciência da alta dose de provocação contida nessa frase (e das omissões críticas, igualmente). A parte 2 da produção da Netflix mantém o nível alto, entregando, em oito episódios, uma narrativa envolvente. Na primeira sequência, o debate beirava o misticismo, agora, Praire e seus amigos mergulham (a escolha do verbo é intencional) no universo científico.
No mundo sci-fi, a noção de multiverso – conceito que coloca a existência concomitante de diversas dimensões paralelas – se faz presente há anos. Uma das mais recentes atrações a trabalhar a ideia é o desenho Rick and Morty. A 2ª temporada de The OA incorpora esse debate.

No primeiro ano, acompanhamos Praire e seu estranho grupo de seguidores (e colegas) tentando desvendar, em um jeito mais simples, as mudanças na vida pós-morte. Sob a batuta do médico Hap, ela, Homer, Scott, Renata e Rachel eram submetidos a experiências de quase morte e tentavam provar cientificamente a continuidade da existência.
Assim, ao receber um tiro no peito no fim da primeira temporada, Praire deixava no ar a dúvida: ela era uma charlatona? Uma moça atormentada por transtornos mentais?
No começo da segunda temporada, em um estilo narrativo bastante próprio, anula todas essas questões. Praire volta ao nome de batismo: acorda em um hospital de São Francisco, como a senhorita Nina Azarova. A partir dessa mudança de foco, vamos acompanhando a tentativa da protagonista em se reencontrar com Homer, sua “alma gêmea”.

Nesse processo, Praire é novamente capturada por Hap, ficando presa em um manicômio. Lá, ela é encontrada por Karim, um detetive particular que tenta desvendar o sumiço de uma adolescente. No desenrolar de toda a trama, as partes 1 e 2 do seriado vão se conectado: por meio da teoria do multiverso. As tais experiências de quase morte eram, portanto, viagens interdimensionais.
Assim, Praire/OA/Nina segue se opondo a Hap (que, nesta nova dimensão, é o respeitado psiquiatra Dr. Percy). Ele quer dominar o controle do fluxo, enquanto ela deseja impedi-lo de continuar massacrando todos para atingir seus objetivos científicos.
A dinâmica entre antagonista e protagonista é, certamente, ponto alto da série. OA e Hap são, à sua maneira, egoístas que usam os outros ao vento dos próprios objetivos. Porém, ela enxerga sua falha e vê da onde e como pode se recuperar. E que isso em nada tem a ver com uma suposta divindade de sua existência: “Fui comprimida feito carvão. Eu sofri. É isso que é um anjo. Pó comprimido até virar diamante pelo peso deste mundo”.
As pontas abertas pela primeira sequência diminuem, mas há ainda vários caminhos livres em uma terceira temporada. Quem é a misteriosa mulher francesa? Steve foi o único a viajar? Qual o impacto das viagens em todas as dimensões?
Ao transicionar de um misticismo quase religioso para o universo científico, The OA ganha pontos e cria uma narrativa mais interessante, factível (dentro dos limites flexíveis do sci-fi) e filosófica. Afinal, busca responder a uma das grandes questões humanas: para onde vamos?
Avaliação: Ótimo