A vacinação infantil contra a Covid-19 começou no Brasil na última semana. Em todo o país, crianças entre 5 e 11 anos de idade já podem receber as doses dos imunizantes aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Inicialmente, apenas o fármaco desenvolvido pela Pfizer era autorizado para a faixa etária, mas, nessa quinta-feira (20/1), foi também aprovado o uso emergencial da vacina Coronavac.
Apesar de as vacinas já estarem disponíveis para a aplicação, muitas dúvidas sobre a segurança e eficácia dos imunizantes ainda rondam a cabeça de alguns pais, que temem vacinar seus filhos.
De acordo com a agência reguladora, todas as vacinas pediátricas no Brasil tiveram seus dados avaliados e aprovados por meio de estudos e, quando administradas no esquema de duas doses, são eficazes na prevenção da Covid-19 sintomática, doenças graves e outras condições que podem ser causadas pelo Sars-CoV-2. Portanto, não são consideradas experimentais.
Desenvolvimento rápido, mas vacina eficaz e segura
A diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Mônica Levi, explica que apesar das vacinas contra a Covid-19 terem sido desenvolvidas de forma emergencial em um período recorde, todos os imunizantes licenciados para crianças no Brasil passaram obrigatoriamente por pesquisas laboratoriais, chamadas de pré-clínicas, e uma série de estudos fase 1, 2 e 3.
“Os testes de segurança acontecem nas duas primeiras fases da pesquisa, em que há a participação de um grande grupo de pessoas que representa toda a população. Os resultados de eficácia partem da comparação entre o grupo de indivíduos vacinados e não vacinados, e após análises das três fases, o produto deixa de ser experimental e passa a ser considerado seguro e aprovado”, afirma a especialista.
Segundo Mônica, os dados são analisados rigorosamente pelos órgãos regulatórios e especialistas independentes, e continuam sendo monitorados nos estudos de fase 4 conforme as vacinas são aplicadas na população, um procedimento padrão chamado farmacovigilância.
“A vacina foi licenciada com agilidade graças ao avanço tecnológico e ao cenário pandêmico que exigiu a fabricação e liberação emergencial”, enfatiza a diretora.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, mais de 300 crianças entre 5 e 11 anos morreram em decorrência da Covid-19 no Brasil. Pelo menos 1.400 crianças foram diagnosticadas com a Síndrome Inflamatória Multissistêmica associada ao Sars-CoV-2, e atualmente, são elas que correm mais risco diante de novas variantes altamente transmissíveis, como a Ômicron, por não estarem protegidas.

A Anvisa aprovou, em 16 de dezembro, a aplicação do imunizante da Pfizer em crianças de 5 a 11 anos. Para isso, será usada uma versão pediátrica da vacina, denominada Comirnatybaona/Getty Images

A vacina é específica para crianças e tem concentração diferente da utilizada em adultos. A dose da Comirnaty equivale a um terço da aplicada em pessoas com mais de 12 anosIgo Estrela/ Metrópoles

A tampa do frasco da vacina virá na cor laranja, para facilitar a identificação pelas equipes de imunização e também por pais, mães e cuidadores que levarão as crianças para receberem a aplicação do fármacoAline Massuca/Metrópoles

Desde o início da pandemia, mais de 300 crianças entre 5 e 11 anos morreram em decorrência do coronavírus no BrasilER Productions Limited/ Getty Images

Isso corresponde a 14,3 mortes por mês, ou uma a cada dois dias. Além disso, segundo dados do Ministério da Saúde, a prevalência da doença no público infantil é significativa. Fora o número de mortes, há milhares de hospitalizaçõesGetty Images

De acordo com a Fiocruz, vacinar crianças contra a Covid é necessário para evitar a circulação do vírus em níveis altos, além de assegurar a saúde dos pequenosVinícius Schmidt/Metrópoles

Contudo, desde o aval para a aplicação da vacina em crianças, a Anvisa vem sofrendo críticas de Bolsonaro, de apoiadores do presidente e de grupos antivacinaHUGO BARRETO/ Metrópoles

Para discutir imunização infantil, o Ministério da Saúde abriu consulta pública e anunciou que a vacinação pediátrica teria início em 14 de janeiro. Além disso, a apresentação de prescrição médica não será obrigatóriaIgo Estrela/ Metrópoles

Inicialmente, a intenção do governo era exigir prescrição. No entanto, após a audiência pública realizada com médicos e pesquisadores, o ministério decidiu recuar Divulgação/ Saúde Goiânia

De acordo com a pasta, o imunizante usado será o da farmacêutica Pfizer e o intervalo sugerido entre cada dose será de oito semanas. Caso o menor não esteja acompanhado dos pais, ele deverá apresentar termo por escrito assinado pelo responsável Hugo Barreto/ Metrópoles

Além disso, apesar de não ser necessária a prescrição médica para vacinação, o governo federal recomenda que os pais procurem um profissional da saúde antes de levar os filhos para tomar a vacinaAline Massuca/ Metrópoles

Segundo dados da Pfizer, cerca de 7% das crianças que receberam uma dose da vacina apresentaram alguma reação, mas em apenas 3,5% os eventos tinham relação com o imunizante. Nenhum deles foi graveIgo Estrela/Metrópoles

Países como Israel, Chile, Canadá, Colômbia, Reino Unido, Argentina e Cuba, e a própria União Europeia, por exemplo, são alguns dos locais que autorizaram a vacinação contra a Covid-19 em criançasGetty Images

Nos Estados Unidos, a imunização infantil teve início em 3 de novembro. Até o momento, mais de 5 milhões de crianças já receberam a vacina contra Covid-19. Nenhuma morte foi registrada e eventos adversos graves foram raros baona/Getty Images

A decisão do Ministério da Saúde de prolongar o intervalo das doses do imunizante contraria a orientação da Anvisa, que defende uma pausa de três semanas entre uma aplicação e outra para crianças de 5 a 11 anosRafaela Felicciano/Metrópoles
Importância da vacina de uso infantil
Com o registro da Anvisa e a autorização para aplicar a vacina contra a Covid-19 em crianças a partir de 5 anos de idade, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), por meio de nota técnica, diz considerar a imunização como de grande relevância para a redução de óbitos nessa faixa etária.
Além disso, o órgão também considera que a vacinação de crianças vai diminuir a transmissão do coronavírus, sendo uma estratégia fundamental para o retorno presencial das atividades escolares.
O médico Leonardo Weissmann, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), afirma existir uma disputa política em torno da imunização de crianças que deixa os pais ainda mais confusos.
“A Covid-19 é menos frequente e, na maior parte das vezes, menos grave nas crianças do que nos adultos. Porém, foi a doença que se pode prevenir por vacina que mais matou crianças no último ano. Então, o benefício certamente supera os riscos, que são baixos”, afirmou ele, em entrevista ao Metrópoles.
Ele completa afirmando que a vacinação da faixa etária deve acontecer assim que possível, e é importante não só para as crianças, mas para toda a sociedade. “Primeiro, pela importância de se proteger esse público. Segundo, porque quanto maior a porcentagem da população vacinada, melhor para todos”, ensina.