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Sobrevivente infectado anos atrás pode ter iniciado surto de Ebola

Cientistas acreditam que infecções detectadas em Guiné surgiram a partir de um paciente que sobreviveu a epidemia de 2014 no país

atualizado

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Maciej Frolow/GettyImages
ilustração do vírus Ebola
1 de 1 ilustração do vírus Ebola - Foto: Maciej Frolow/GettyImages

O surto de ebola detectado recentemente na Guiné, país da África Ocidental, pode ser uma continuação da epidemia que ocorreu no local de 2014 a 2016. De acordo com uma pesquisa feita pelo Ministério da Saúde da Guiné, o reaparecimento da doença pode ter sido causado por um paciente que sobreviveu ao primeiro surto. O vírus teria permanecido no corpo do homem por pelo menos cinco anos e foi transmitido via sêmen para um parceiro sexual. O atual surto no país africano foi identificado pela primeira vez em janeiro de 2021 e já infectou pelo menos 18 pessoas e matou nove.

A descoberta foi feita a partir do sequenciamento genético de amostras de vírus retiradas de pacientes no surto atual. Até o momento, acreditava-se que o vírus poderia sobreviver no organismo de pacientes sobreviventes por até 500 dias. Além do Ministério da Saúde africano, participaram do estudo laboratórios do Instituto Pasteur do Senegal, da Universidade de Edimburgo, do Centro Médico da Universidade de Nebraska e da empresa PraesensBio.

Na pesquisa, os cientistas explicam que, mesmo quando os pacientes se recuperam do ebola, algumas partes do corpo ainda podem abrigar o vírus, incluindo o olho, o sistema nervoso central e os testículos. Estas partes do corpo são chamadas locais privilegiados por estarem fora do alcance do sistema imunológico e são de difícil estudo por parte da comunidade científica.

As sequências genéticas de amostras de vírus dos pacientes atuais foram comparadas com as do surto de 2014-16 e foram consideradas tão semelhantes que deveriam estar intimamente relacionadas, disseram os pesquisadores. O relatório foi publicado na revista científica Science .

Em entrevista ao NY Times, William Schaffner, especialista em doenças infecciosas da Universidade Vanderbilt, afirmou que há “muito poucas mudanças genômicas” e, para que ocorram, o vírus precisa se multiplicar. “Acho que a maior parte do vírus está em hibernação”, completou.

Michael Wiley, virologista do Centro Médico da Universidade de Nebraska e presidente-executivo da PraesensBio, que forneceu materiais usados ​​para estudar as amostras, descreveu o surto atual como uma “continuação” do anterior. Segundo ele, infecções persistentes e transmissão via ato sexual já foram detectadas durante o primeiro surto na África Ocidental e em outra epidemia na República Democrática do Congo, mas não se sabia que o vírus poderia persistir por tanto tempo após a infecção inicial.

Thomas Skinner, porta-voz do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, afirmou em um comunicado que a agência revisou os dados de sequenciamento de amostras coletadas durante o surto atual na Guiné.

“Embora não possamos ter 100% de certeza, o CDC concorda que os dados apoiam a conclusão de que os casos no surto atual estão provavelmente ligados a casos na área durante o surto de Ebola na África Ocidental de 2014-2016”, afirmou Skinner.

Ainda de acordo com Skinner, a análise do CDC sugere que o novo surto provavelmente começou a partir de uma infecção persistente de um sobrevivente, e não uma nova introdução do vírus do reservatório animal. “Embora tenhamos visto surtos na República Democrática do Congo ligados a sobreviventes, o período de tempo entre 2014 e 2016 e o surgimento deste surto é surpreendente e destaca a necessidade de mais pesquisas para melhor compreender a complexa epidemiologia e ecologia do Ebola”, concluiu.

O primeiro surto de ebola infectou cerca de 28 mil pessoas e matou 11 mil. Se os sobreviventes da pandemia já enfrentavam preconceito por terem sido infectados pelo vírus, a nova descoberta pode ter implicações ainda mais profundas para estes pacientes, de acordo com os pesquisadores.

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