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Sancta Maggiore: o hospital onde 80 pessoas morreram de Covid-19

Rede voltada para idosos em São Paulo registrou mais mortes do que o Rio de Janeiro inteiro e enfrenta desconfiança do governo

atualizado

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Reprodução/Tv Globo
fachada hospital sancta maggiore
1 de 1 fachada hospital sancta maggiore - Foto: Reprodução/Tv Globo

São Paulo é a unidade federativa com o maior número de casos e óbitos por coronavírus no Brasil. Segundo a última atualização feita pelo Ministério da Saúde, na tarde desta sexta-feira (03/04), há 4.048 pacientes diagnosticados e 219 mortes relacionadas à doença no estado. Porém, um “ponto fora da curva” chama a atenção na estatística: pelo menos 36% dos pacientes fatais do estado faleceram na mesma rede de hospitais, os da Sancta Maggiore.

Administrado pelo plano de saúde Prevent Senior, os centros médicos são especializados no atendimento à idosos, que são justamente o grupo de risco para a Covid-19. No começo da epidemia, a operadora chegou a alocar todos os pacientes com suspeita de coronavírus no mesmo hospital, o Sancta Maggiore do bairro Paraíso. Com o crescimento dos casos, já passou a atender também nas unidades de Santa Cecília e Mooca – a rede tem mais seis hospitais que não estão recebendo pacientes de coronavírus.

Nesta semana, o ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta afirmou que cerca de 80 pessoas teriam morrido nos hospitais da rede vítimas da Covid-19 (reportagem da revista Época desta semana dá conta de 96 vítimas), e que parte dos idosos contaminados teria tido contato com o Sars-Cov-2 dentro das unidades hospitalares, ou seja, os centros de saúde teriam se tornado áreas de transmissão.  “A partir do momento que o vírus entrou, o hospital já constituiu um ambiente de transmissão elevado. Não dá pra tirar as pessoas de lá. Tenho dialogado com o governo local e estamos conversando sobre uma intervenção”, afirmou o ministro, em entrevista coletiva.

O Ministério Público de São Paulo instaurou uma investigação para apurar se houve omissão de notificação de mortes no local, o que seria uma indicação de que medidas de vigilância sanitária para evitar o alastramento do vírus podem ter sido ignoradas pelos dirigentes.

O ministro questionou ainda o plano de negócios da Prevent Senior, que é mais barato do que a concorrência e visa uma faixa etária da população que fica doente com mais frequência. Mandetta sinalizou que este esquema não deveria ter sido aprovado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

De acordo com a assessoria de imprensa da Prevent Senior, a taxa de mortalidade dos pacientes que faleceram sob os cuidados da rede é de 12%, enquanto a Organização Mundial de Saúde considera normal uma média de 15% para a faixa etária acima dos 80 anos.

Os hospitais usam o protocolo de pesquisa com hidroxicloroquina em associação com azitromicina e dizem já ter dado alta para mais de 200 idosos que usaram os medicamentos. Questionado pelo Metrópoles, a rede Sancta Maggiore não divulgou, entretanto, a quantidade de óbitos e casos confirmados em tratamento.

Em entrevista ao jornal O Globo, o presidente da Prevent Senior, Fernando Parrillo, classificou a fala do ministro como “irresponsável”. “Incomoda o desconhecimento dele sobre a companhia. Ele não sabe os números, como a gente está estruturado. Ele fala por falar, simplesmente sem ter a informação, é uma irresponsabilidade vinda de um ministro de Estado”, afirma o empresário. A Prevent Senior afirma ainda que os pacientes internados não foram contaminados dentro dos hospitais, conforme atestariam exames feitos fora da instituição.

A Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo pediu intervenção imediata do Estado nas três unidades do Sancta Maggiore que atendem pacientes do novo coronavírus. A secretaria estadual, o órgão competente para a intervenção, ainda não respondeu o pedido.

A reportagem da Época, publicada na quinta-feira (02/04), teve acesso a três laudos de inspeção feitos pela Vigilância Sanitária de São Paulo após o começo da investigação regida pelo Ministério Público. Na segunda (31/03), os fiscais descobriram que o hospital está realmente notificando os óbitos com atraso e que exames não estão sendo feitos em pacientes com suspeita da doença, como afirmava a denúncia inicial.

Segundo a Prevent Senior, a justificativa para o atraso é o sistema, que estava fora do ar. A vigilância epidemiológica preconiza que, nesses casos, a notificação, que é obrigatória, seja feita por telefone. “Imagina se eu vou tirar um médico do atendimento num momento de pandemia para ficar ao telefone”, respondeu Parrillo à reportagem. “Eu não sei do que estamos sendo vítimas. Se de uma perseguição ou de uma falta de informação”.

Em nota, Nelson Wiliams, advogado que representa a Prevent Senior afirma que “São mentirosas as alegações de que há subnotificações, falta de funcionários e problemas na estruturação do hospital da operadora. A Prevent Senior informa que acionará a prefeitura, judicialmente, pelo descumprimento dos princípios constitucionais e administrativos, pilares do Estado Democrático de Direito”.

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