Um estudo brasileiro realizado no Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Oswaldo Cruz, em São Paulo, indicou que a cirurgia metabólica é uma alternativa muito eficaz no controle da diabetes em pacientes obesos e com doença renal crônica. O procedimento também é conhecido como derivação gástrica em Y de Roux.
A pesquisa foi publicada na revista científica The Lancet no dia 11/11 e revelou que houve melhores resultados na perda de peso, no controle glicêmico e na qualidade de vida das pessoas que fizeram a cirurgia, em comparação aos que usaram os melhores medicamentos para controlar a diabetes e a doença renal crônica disponíveis no mercado.
O estudo contou com a participação de 100 pacientes, que foram acompanhados por cinco anos — 50 deles foram submetidos à cirurgia metabólica no terceiro ano de análise. A outra metade teve acesso aos medicamentos mais modernos e eficazes para o tratamento clínico das condições.
Para o cirurgião Ricardo Cohen, autor principal do estudo, o tratamento cirúrgico superou a terapia medicamentosa em relação à perda de peso, controle de açúcar no sangue e qualidade de vida. A intervenção resultou em um perfil de segurança semelhante ao dos tratamentos clínicos.
“Entre os pacientes tratados com medicação, 22,5% deles perderam pelo menos 15% do peso. Já naqueles que fizeram a cirurgia, o número foi de 90%”, afirma o especialista.
A remissão da doença renal crônica e da diabetes nos pacientes que utilizaram a medicação foi de 52,8%. Enquanto isso, em indivíduos que fizeram a cirurgia, a porcentagem foi de 63,1%.
Além disso, a diminuição de microalbuminuria nos rins (proteína que, em grande quantidade, indica insuficiência renal) foi de 59,6% em pessoas que usaram apenas os medicamentos. Já nas que fizeram a cirurgia, a melhora foi de 69,7%.

A diabetes é uma doença que tem como principal característica o aumento dos níveis de açúcar no sangue. Grave e, durante boa parte do tempo, silenciosa, ela pode afetar vários órgãos do corpo, tais como: olhos, rins, nervos e coração, quando não tratadaOscar Wong/ Getty Images

A diabetes surge devido ao aumento da glicose no sangue, que é chamado de hiperglicemia. Isso ocorre como consequência de defeitos na secreção ou na ação do hormônio insulina, que é produzido no pâncreasmoodboard/ Getty Images

A função principal da insulina é promover a entrada de glicose nas células, de forma que elas aproveitem o açúcar para as atividades celulares. A falta da insulina ou um defeito na sua ação ocasiona o acúmulo de glicose no sangue, que em circulação no organismo vai danificando os outros órgãos do corpoPeter Dazeley/ Getty Images

Uma das principais causas da doença é a má alimentação. Dietas ruins baseadas em alimentos industrializados e açucarados, por exemplo, podem desencadear diabetes. Além disso, a falta de exercícios físicos também contribui para o malPeter Cade/ Getty Images

A diabetes pode ser dividida em três principais tipos. A tipo 1, em que o pâncreas para de produzir insulina, é a tipagem menos comum e surge desde o nascimento. Os portadores do tipo 1 necessitam de injeções diárias de insulina para manter a glicose no sangue em valores normaisMaskot/ Getty Images

Já a diabetes tipo 2 é considerada a mais comum da doença. Ocorre quando o paciente desenvolve resistência à insulina ou produz quantidade insuficiente do hormônio. O tratamento inclui atividades físicas regulares e controle da dietaArtur Debat/ Getty Images

A diabetes gestacional acomete grávidas que, em geral, apresentam histórico familiar da doença. A resistência à insulina ocorre especialmente a partir do segundo trimestre e pode causar complicações para o bebê, como má formação, prematuridade, problemas respiratórios, entre outrosChris Beavon/ Getty Images

Além dessas, existem ainda outras formas de desenvolver a doença, apesar de raras. Algumas delas são: devido a doenças no pâncreas, defeito genético, por doenças endócrinas ou por uso de medicamentoGuido Mieth/ Getty Images

É comum também a utilização do termo pré-diabetes, que indica o aumento considerável de açúcar no sangue, mas não o suficiente para diagnosticar a doençaGSO Images/ Getty Images

Os sintomas da diabetes podem variar dependendo do tipo. No entanto, de forma geral, são: sede intensa, urina em excesso e coceira no corpo. Histórico familiar e obesidade são fatores de riscoThanasis Zovoilis/ Getty Images

Alguns outros sinais também podem indicar a presença da doença, como saliências ósseas nos pés e insensibilidade na região, visão embaçada, presença frequente de micoses e infecçõesPeter Dazeley/ Getty Images

O diagnóstico é feito após exames de rotina, como o teste de glicemia em jejum, que mede a quantidade de glicose no sangue. Os valores de referência são: inferior a 99 mg/dL (normal), entre 100 a 125 mg/dL (pré-diabetes), acima de 126 mg/dL (Diabetes)Panyawat Boontanom / EyeEm/ Getty Images

Qualquer que seja o tipo da doença, o principal tratamento é controlar os níveis de glicose. Manter uma alimentação saudável e a prática regular de exercícios ajudam a manter o peso saudável e os índices glicêmicos e de colesterol sob controleOscar Wong/ Getty Images

Quando a diabetes não é tratada devidamente, os níveis de açúcar no sangue podem ficar elevados por muito tempo e causar sérios problemas ao paciente. Algumas das complicações geradas são surdez, neuropatia, doenças cardiovasculares, retinoplastia e até mesmo depressãoImage Source/ Getty Images
O presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, Fábio Viegas, explica que o resultado do estudo vai na mesma direção de outras pesquisas, apontando a cirurgia bariátrica e metabólica como ferramentas potentes para controlar a diabetes e a obesidade.
Além disso, o procedimento também se mostrou eficaz no controle das comorbidades associadas, como é o caso da doença renal crônica.
“A diabetes apresenta sérios riscos para a saúde, podendo afetar órgãos como olhos, rins, fígado, coração e sistema vascular. O tratamento cirúrgico é uma opção segura e com excelentes resultados para a saúde e qualidade de vida destes pacientes”, afirma Viegas.
Cirurgia metabólica
A cirurgia metabólica foi aprovada no Brasil em 2017 pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) para o tratamento da diabetes tipo 2. A intervenção é recomendada para pessoas que tiveram a doença diagnosticada há menos de 10 anos e que têm índice de massa corporal (IMC) entre 30 kg/m² e 34,9 kg/m².
A indicação cirúrgica é para pacientes de 30 a 70 anos de idade que tiveram encaminhamento feito por dois médicos especialistas em endocrinologia. Ambos devem apresentar um parecer mostrando que o indivíduo teve resistência ao tratamento clínico com antidiabéticos orais e injetáveis e às mudanças no estilo de vida.
De acordo com a organização onde a pesquisa foi realizada, a cirurgia metabólica é definida como qualquer intervenção do tubo digestivo com a finalidade de controlar a diabetes tipo 2.
O procedimento regulamentado pelo CFM é o mesmo utilizado na bariátrica, mas enquanto o primeiro é usado para controle de doenças, o segundo é feito para diminuição da massa corporal.
De acordo com os médicos, a cirurgia metabólica ainda tem como vantagem, além do controle da diabetes, a diminuição dos custos com medicamentos e benefícios mais duradouros para a qualidade de vida do paciente .
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