Nos últimos dias, o Brasil registrou os primeiros casos da subvariante BA.2, da Ômicron. Apesar de só ter sido identificado agora no país, o subtipo já é dominante na Dinamarca e vem crescendo em outros países, como o Reino Unido.
O médico infectologista Marcelo Daher, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), explica que o subtipo herdou da cepa original uma grande capacidade de propagação. Segundo ele, dados mostram que a BA.2 é bem mais transmissível que as versões anteriores do vírus.
Apesar de existir o temor de que a nova versão continue mantendo os casos de Covid-19 em patamares altos – o que sobrecarrega a rede hospitalar, as informações até aqui dão conta de que o subtipo também não estaria relacionado a manifestações mais graves da doença.
“A Dinamarca, apesar do crescimento de casos e da prevalência da BA.2, decidiu abandonar as medidas de contenção e encarar a Ômicron como uma doença respiratória normal, como a influenza e os resfriados comuns”, aponta o especialista.

Detectada pela primeira vez na África do Sul, a variante Ômicron foi classificada pela OMS como de preocupaçãoAndriy Onufriyenko/ Getty Images

Isso porque a alteração apresenta cerca de 50 mutações, mais do que as outras variantes identificadas até o momentoGetty Images

Segundo a OMS, a Ômicron é mais resistente às vacinas disponíveis no mundo contra as demais variantes e se espalha mais rápidoPeter Dazeley/ Getty Images

Dores no corpo, na cabeça, fadiga, suores noturnos, sensação de garganta arranhando e elevação na frequência cardíaca em crianças são alguns dos sintomas identificados por pesquisadores em pessoas infectadasUwe Krejci/ Getty Images

Em relação à virulência da Ômicron, os dados são limitados, mas sugerem que ela pode ser menos severa que a Delta, por exemploPixabay

O surgimento da variante também é uma incógnita para cientistas. Por isso, pesquisadores consideram três teorias para o desenvolvimento do vírusGetty Images

A primeira é que a variante tenha começado o desenvolvimento em meados de 2020, em uma população pouco testada, e só agora acumulou mutações suficientes para se tornar mais transmissívelGetty Images

A segunda é que surgimento da Ômicron pode estar ligado ao HIV não tratado. A terceira, e menos provável, é que o coronavírus teria infectado um animal, se desenvolvido nele e voltado a contaminar um humanoAndriy Onufriyenko/ Getty Images

De qualquer forma, o sequenciamento genético mostra que a Ômicron não se desenvolveu a partir de nenhuma das variantes mais comuns, já que a nova cepa não tem mutações semelhantes à Alfa, Beta, Gama ou DeltaAndriy Onufriyenko/ Getty Images

Com medo de uma nova onda, países têm aumentado as restrições para conter o avanço da nova varianteGetty Images

De acordo com documento da OMS, a Ômicron está em circulação em 110 países. Na África do Sul, ela vem se disseminando de maneira mais rápida do que a variante Delta, cuja circulação no país é baixaGetty Images

Mesmo em países onde o número de pessoas vacinadas é alto, como no Reino Unido, a nova mutação vem ganhando espaço rapidamenteMorsa Images/ Getty Images

No Brasil, 32 casos foram registrados, segundo balanço divulgado no fim de dezembro pelo Ministério da SaúdeMorsa Images/ Getty Images

Por conta da capacidade de disseminação da variante, a OMS orienta que pessoas se vacinem com todas as doses necessárias, utilizem corretamente máscaras de proteção e mantenham as mãos higienizadasAndriy Onufriyenko/ Getty Images

A entidade ressalta ainda a importância de evitar aglomerações e recomenda que se prefiram ambientes bem ventiladosJuFagundes/ Getty Images
Estudo feito no país mostra que a BA.2, da Ômicron, é até 33% mais transmissível do que a versão original (BA.1) e tem maior capacidade de infectar os imunizados.
Os dados constam de análise feita por pesquisadores do Statens Serum Institut (SSI) com moradores de 8,5 mil residências dinamarquesas, entre dezembro de 2021 e janeiro deste ano.
“A doença vem repetindo uma característica que a Ômicron já apresentava. Uma tendência a ter um quadro muito mais nas vias aéreas superiores do que nas vias aéreas inferiores, o que torna a infecção mais branda”, diz Daher.
Dificuldade de identificação
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a subvariante é mais difícil de ser identificada em testes de sequenciamento genômico. Por isso, a entidade recomenda que os países refaçam análises para casos que não foram sinalizados anteriormente.
A virologista da OMS na África, Nicksy Gumede-Moeletsi, explicou em entrevistas que a versão original é mais fácil de ser rastreada porque tem a ausência de um dos três genes-alvo usados em testes de PCR comuns, gerando um padrão para a detecção.
A BA.2, por sua vez, não tem a ausência desse gene-alvo, o que dificulta sua classificação por exames de menor precisão.
Sintomas e proteção
Segundo a infectologista Ana Helena Germoglio, o aparecimento de mutações é uma estratégia de sobrevivência dos vírus. Ela explica que o subtipo também se mostra mais transmissível, mas não é mais mortal.
De acordo com as informações disponíveis, os sintomas não são diferentes entre as subvariantes. “Hoje, o que a gente vê mais são os sintomas gripais. Os pacientes que foram identificados com ela evoluíram com formas leves, mas não significa que não existirão quadros graves”, aponta Germoglio.
A especialista ressalta a importância do uso contínuo de máscaras, do distanciamento social e da vacinação como medidas fundamentais para conter também o avanço dessa cepa do coronavírus.
“Ainda não há motivo para pânico. Mas isso tudo nos serve de alerta, pois quanto maior a circulação viral maior a probabilidade de surgimento de novas variantes com maior ou menor capacidade de infecção”, pondera Germoglio.
Reinfecção e a importância da vacina
Germoglio considera que existe um período de alta proteção até três meses depois da infecção. “É muito pouco provável que quem teve um quadro de infecção pela Ômicron, ou por qualquer outra variante, apresente uma nova infecção dentro dos próximos três meses”, explica a médica.
O diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri, segue defendendo a importância da vacinação. “Não há nenhuma suspeita de que a gente precise revacinar, ou mudar as vacinas, nem por conta da Ômicron nem da BA.2”, afirma Kfouri.
Ele acrescenta que os estudos realizados para atualizações de vacinas buscam tornar os imunizantes mais eficazes a fim de evitar as formas leves da Covid-19. “O que as vacinas têm mantido com altíssima eficácia é o risco de evolução para as formas graves. Nós precisamos de vacinas que funcionem também para quadros leves, para diminuir a sobrecarga em hospitais”, diz.