metropoles.com

Existe um lado bom na quarentena? Veja o que dizem pesquisas

Restrições aumentaram a sensação de pertencimento e diminuíram a valorização de bens materiais em detrimento de relações pessoais

atualizado

Compartilhar notícia

Getty Images
aniversário na quarentena
1 de 1 aniversário na quarentena - Foto: Getty Images

Apesar do incômodo causado pelo lockdown, um estudo feito por pesquisadores da Otago University, na Nova Zelândia, mostra que o distanciamento social pode ter causado impactos psicológicos benéficos. Em vez de fazer perguntas sobre solidão, depressão e uso de drogas, a equipe de psicólogos questionou os participantes a respeito de aspectos positivos que eles teriam experimentado durante o bloqueio total feito no país no início da pandemia, em abril de 2020.

Os níveis de estresse, ansiedade e depressão aumentaram durante o lockdown, especialmente entre os mais jovens, de acordo com os pesquisadores. Ainda assim, o estudo apontou que as medidas de distanciamento social e uso de máscaras também possibilitaram sensações positivas relacionadas à saúde mental.

A sensação de assumir o controle da própria vida e ajudar os outros foram as atitudes que mais aliviaram o estresse sentido pelo bloqueio. Em contrapartida, a perda de apoio social foi o indicador mais forte e consistente de ansiedade e depressão.

O estudo, publicado na revista científica Plos One, foi feito a partir de um questionário online enviado a 2.010 participantes. Quase metade deles relatou ter vivido momentos de esperança pessoal e mais de um terço disse ter notado “uma fresta de esperança” para a sociedade como um todo.

Para Matthew Jenkins, psicólogo que liderou o trabalho, o lockdown representou um momento crítico na vida das pessoas, “criando uma oportunidade de parar, fazer um balanço, refletir e se conectar com os outros”. Segundo ele, muitas pessoas relataram que comportamentos de gentileza e ajuda ao próximo se tornaram mais comuns durante o período, bem como “um senso antiquado de comunidade e carinho que não era aparente antes do bloqueio”.

Os resultados positivos têm a ver com a condução da pandemia feita pelo governo neo-zelandês. O país foi um dos que adotou as medidas mais restritivas do mundo, e muitos participantes disseram que ficavam felizes em cumprir as restrições porque isso os fazia “sentir que estavam fazendo a sua parte por sua comunidade”.

Os sacrifícios feitos pela população durante os bloqueios totais fizeram com que alguns indivíduos sentissem que estavam contribuindo para um bem maior, ajudando a manter os membros vulneráveis ​​da comunidade seguros.

“Esse raciocínio destaca o papel crucial de mensagens claras do governo. O governo da Nova Zelândia forneceu atualizações diárias sobre números de casos, recuperações e testes; a alta transparência recebeu reconhecimento internacional”, escreveram os autores.

Espírito comunitário

A sensação de pertencer a uma comunidade parece ter nascido do próprio trauma da própria pandemia, de acordo com a pesquisa. Na interpretação dos especialistas, o sentimento crescente de conexão social teria sido estimulado por uma consciência das pessoas ao redor e de si próprio, o que pode ter sido uma forma de lidar com a incerteza a respeito dos rumos da pandemia.

Outro estudo, conduzido pela Universidade Mehmet Akif Ersoy, na Turquia, descobriu que o sentimento de pertencimento estava associado a um maior bem-estar psicológico entre os participantes durante a pandemia. Mais do que simplesmente sobreviver, as pessoas estavam buscando maneiras de prosperar. Na pesquisa, muitos disseram que reservaram um tempo para refletir pessoalmente sobre seus valores e futuro, para que pudessem “decidir o que é realmente importante”.

Pouco mais de 30% dos participantes afirmou sentir um maior senso de auto-responsabilidade, já que o lockdown permitiu com que eles estabelecessem seus próprios horários de trabalho e de atividades físicas. Durante o confinamento, os entrevistados também perceberam que passaram a valorizar menos as coisas materiais, direcionando o interesse para família e amigos.

Mais da metade dos entrevistados se considerou grato pelas novas interações sociais e por um “renovado senso de coesão comunitária” proporcionadas pela pandemia.

Adaptações criativas

De acordo com Juliana Gebrim, psicóloga clínica e neuropsicóloga pelo Instituto de Psicologia Aplicada e Formação de Portugal (Ipaf), a quarentena trouxe aspectos positivos para algumas pessoas. Ainda que a aproximação tenha acontecido majoritariamente via videoconferência ou pelo telefone, o período foi propício para fortalecer vínculos.

Outra consequência positiva apontada pela especialista foram pessoas que conseguiram se adaptar criativamente durante a pandemia, muitas vezes até mudando de profissão. “É uma forma de visualizar momentos de crise como uma oportunidade”, completa Gebrim. Para pessoas que trabalhavam em ambientes tóxicos, o home office pode ter representado uma forma de fugir dos estímulos negativos, o que contribuiu para a manutenção da saúde mental.

Uma forma de enfrentar os efeitos adversos desse período é investir em atitudes otimistas, de acordo com a psicóloga. Pode ser difícil visualizar oportunidades em meio ao caos, mas tentar manter o equilíbrio emocional é indispensável.

“Cultivar o otimismo leva a gente a ver o futuro com expectativa positiva. Então, a visualização otimista do futuro nos permitirá imaginar novos tempos em que a pandemia já fará parte do passado. As pessoas deixaram de pegar trânsito, tivemos mais aproximação no âmbito familiar. É só a gente detectar que tudo na vida tem dois lados. Com isso, a gente já facilita esse olhar mais positivo em relação à restrição de liberdade, além de lembrar que esta é uma situação temporária. A pandemia vai passar.”

Compartilhar notícia

Todos os direitos reservados

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comSaúde

Você quer ficar por dentro das notícias de saúde mais importantes e receber notificações em tempo real?