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Covid derrubou expectativa de vida no Brasil em três anos, diz estudo

Pesquisa publicada na revista Nature estima que impacto será ainda maior por conta da degradação social e econômica decorrente da pandemia

atualizado

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Fábio Vieira/Metrópoles
Sepultadores enterram à noite corpo de vítima de Covid-19 no Cemitério da Vila Formosa, em São Paulo
1 de 1 Sepultadores enterram à noite corpo de vítima de Covid-19 no Cemitério da Vila Formosa, em São Paulo - Foto: Fábio Vieira/Metrópoles

O excesso de mortes causadas pela pandemia de Covid-19 diminuiu em 3,1 anos a expectativa de vida dos brasileiros em 2020. A estimativa dos especialistas é que o indicador caia pelo menos 1,8 ano ainda neste ano.

Os dados são de um artigo entituladoReduction in life expectancy in Brazil after Covid-19″ (Redução da expectativa de vida no Brasil pós Covid-19), publicado nesta terça-feira (29/6) na revista Nature, uma das publicações científicas mais respeitadas do mundo.

No estudo, foram usados dados sobre o total de mortes relatadas em 2020 e entre janeiro e abril de 2021 para medir e comparar o número de mortes entre os estados brasileiros.

“O número de mortos de Covid-19 no Brasil foi catastrófico. Os ganhos estaduais em longevidade alcançados ao longo de anos, ou mesmo décadas, foram revertidos pela pandemia. A falta de uma resposta coordenada, rápida e equitativa informada pela ciência, bem como a promoção da desinformação, tem sido a marca do atual governo”, diz o estudo, assinado por Marcia Castro, Susie Gurzend, Cassio Turra, Sun Kim, Theresa Andrasfay e Noreen Goldman.

Segundo o artigo, os números de  2020 levaram o Brasil ao mesmo nível de 2014. O declínio na expectativa de vida foi maior para os homens (1,57 ano) em comparação às mulheres (0,95 ano).

“A maior queda absoluta e relativa entre os estados foi estimada para o Amazonas (3,46 anos), seguido por Amapá (3,18 anos) e Pará (2,71 anos), todos na região Norte. Rio Grande do Sul, na região Sul, foi o único estado com aumento estimado de 2019 a 2020 para ambos os sexos (0,07 ano), mas um declínio para os homens de 0,11 ano”, aponta o estudo.

Os pesquisadores apontam que, para além da persistência da pandemia do coronavírus, outras causas ajudam a explicar a queda de expectativa, como a diminuição da vacinação infantil, menor diagnóstico e tratamento de HIV, câncer e tuberculose, além de aumento de casos de diabetes e piora geral nas condições de saúde da população.

Eles apontam esses exemplos “de deterioração das condições de saúde que não só irão gerar uma maior demanda por serviços de saúde, mas também podem afetar os padrões de mortalidade futuros”.

Além disso, estimam que as sequelas causadas pela Covid-19 entre os pacientes, a degradação social e financeira do país e o corte de investimentos em saúde devem agravar o cenário nos próximos anos.

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