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“Sou cada vez mais paulista”, diz a atriz mineira Regina Braga

Em cartaz com “São Paulo”, a atriz Regina Braga conta sobre o processo criativo da peça e sua relação com a cidade, que completará 469 anos

atualizado

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Roberto Setton
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1 de 1 imagem colorida Regina Braga - Foto: Roberto Setton

Ao ler “A Capital da Solidão”, de Roberto Pompeu de Toledo, sobre a história de São Paulo, a atriz Regina Braga ficou impressionada com o que descobriu: durante quase quatro séculos, essa agitada capital, que dizem que não dorme, viveu isolada do país, numa tremenda solidão. Assim que terminou o livro, sentiu que precisava compartilhar aquela história com mais pessoas. O resultado está na peça “São Paulo”, que chega aos palcos do teatro do Sesc Santo André neste fim de semana.

Regina é mineira de Belo Horizonte, mas mora em São Paulo há muitos anos — desde quando veio para a cidade estudar na Escola de Artes Dramáticas, nos anos 1960. “Uma das principais maneiras de você ser paulista é não ter nascido em São Paulo”, diz em entrevista ao Metrópoles, citando o músico e ensaísta José Miguel Wisnik.

“Eu conhecia mais sobre a história do Rio de Janeiro, sobre a da Bahia, do que sobre a de São Paulo, onde moro há tantos anos. Fiquei pensando como seria bom contar a história da cidade para as pessoas. É daí que nasceu a vontade de realizar a peça.”

Com a ajuda da atriz Isabel Teixeira, que assina a direção, Regina desenvolveu o roteiro que mistura o seu relato pessoal de quando chegou à cidade e suas vivências aos de outras pessoas — nascidas ou que se mudaram para a capital paulista. E não esconde as mazelas e momentos trágicos do desenvolvimento de São Paulo.

Confira os principais trechos da entrevista:

Como surgiu a ideia da peça?
Foi um longo processo. Quando li o livro “A Capital da solidão”, do Roberto Pompeu de Toledo, fiquei muito tocada, porque percebi que eu não sabia nada sobre a história de São Paulo. Eu conhecia mais sobre o Rio de Janeiro, sobre a Bahia, do que sobre São Paulo. Comecei a brincar de procurar os lugares que ele contava no livro quando saía para caminhar. Eu chegava ao local, fechava o olho e imaginava o que ele havia contado. Essa experiência é muito forte: estar em um lugar e se relacionar com o passado dele. O que mais me comovia na história da cidade era o fato de saber que São Paulo, durante quatro séculos, foi uma vilinha isolada. Fiquei pensando como seria bom contar isso para as pessoas. Assim nasceu a vontade de realizar a peça.

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Como foi o processo de tirar essa vontade do papel?
Eu precisava de alguém para me ajudar a contar a história. Nessa época, a Isabel Teixeira, que estava morando em Paris, veio passar um mês em São Paulo. Ela topou fazer um intensivo comigo de 20 dias para montarmos a peça. A Bel é ótima ouvinte. Ela ouve e fala: “peraí, aqui está confuso, vamos parar aqui, vamos ali”. Ela te ajuda a encontrar o que você quer dizer. Porque às vezes você fica com apego ao que acha que tem de ter.

A peça traz muitas músicas sobre São Paulo, mas a sua seleção não é nada óbvia. Você já conhecia essas músicas? Como foi feita essa curadoria?
Há uns 15 anos, ou até mais, eu resolvi fazer um projeto de uma série na televisão sobre samba e havia um episódio sobre sambas de São Paulo. Por isso eu já tinha realizado uma enorme pesquisa. E esses músicos com quem trabalho são maravilhosos. Eles me ajudaram muito. Cada vez em que a gente se reunia, eles traziam ideias.

São Paulo é uma cidade que faz as pessoas de fora se sentirem em casa. Pelo menos, é o que já ouvi de muitas pessoas que vieram de outros estados. No cenário, você usa uma mesa igual à da sua casa. A ideia era trazer para a peça essa sensação de casa que a cidade oferece para as pessoas?
A ideia de trazer a mesa foi da Bel. É isso mesmo que você falou. Desse ponto de vista, o trabalho da Bel foi absolutamente fundamental. Eu podia ter levado esse espetáculo para outro lugar se fosse outro diretor. Essa habilidade da Bel de nos puxar para o nosso lugar — trazer o seu quarto, trazer as suas anotações, o seu diário, o seu segredo. Isso deixa o ator mais à vontade. E as pessoas também adoram conhecer a história.

Na peça, você mistura relatos pessoais seus e de outras pessoas. Essa ideia veio nos ensaios ou você já tinha essa vontade de fazer um relato confessional?
Um dia, li para Bel a história da minha chegada à São Paulo que havia escrito. Porque eu queria mostrar de onde eu vim, pois também não sou daqui. “Regina, isso é maravilhoso, tem que entrar”, ela disse. Em algumas leituras abertas que fiz da peça, as pessoas me diziam que essa parte pessoal era muito interessante. Eu tinha um pouco de pudor de ficar falando muito de mim, sabe? Mas a opinião das pessoas me deu confiança e eu fui colocando.

“Mesmo não sendo paulista, sou cada vez mais paulista, conscientemente paulista. Brinco com essa esquisitice, com a tristeza da cidade, mas considero que é a minha cidade.”

Essa é a terceira temporada no estado de São Paulo. Você acha que a peça funcionaria em outros estados?
Tenho amigos no Rio — inclusive jornalistas e pessoas ligadas à divulgação — que acham que devo ir. Então, eu acho que sim. Mas dependo de convites para ter estrutura e ampliar o público. Porque viajar sem apoio é difícil.

Dia 25 de janeiro é aniversário de São Paulo. Qual mensagem você deixaria para cidade?
Esse espetáculo me deixou ainda mais ligada a São Paulo. Mesmo não sendo paulista, sou cada vez mais paulista, conscientemente paulista. Brinco com essa esquisitice, com a tristeza da cidade, mas considero que é a minha cidade. Contar essa história tem me dado uma satisfação enorme. Eu sinto que as pessoas gostam muito de ouvir essa história e eu me sinto fazendo o que eu tinha que fazer, que acertei, sabe? Eu tinha um objetivo de fazer esse espetáculo, era difícil, podia não dar certo, mas deu! Então, esse espetáculo é o presente que dou para São Paulo.

Sesc Santo André: R. Tamarutaca, 302 — Vila Guiomar, Santo André. Sex.: 20h, sáb.: 19h. Site: sesc.org.br. Ingressos a partir de R$ 12. Até 11/2.

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