Remover famílias do Jd. Pantanal é mais caro do que obras de drenagem
Estudos feitos pela própria Prefeitura de São Paulo contradizem fala de Ricardo Nunes (MDB) que disse que retirar população seria mais fácil
atualizado
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São Paulo – Estudos preliminares feitos pela Prefeitura de São Paulo mostram que a proposta de remover as famílias que vivem no Jardim Pantanal, na zona leste da cidade, é, na verdade, mais cara que a construção de obras de macrodrenagem no local, contrariando o que tem dito o prefeito Ricardo Nunes (MDB) sobre a região.
No último sábado (1º/2), Nunes afirmou que a obra para fazer um dique no local custaria R$ 1 bilhão, o que seria “muito caro” e que era “mais fácil tirar as pessoas” do bairro. Relembre:
“Tem uma obra que a gente estava orçando, para a gente fazer um dique, mas fica mais de R$ 1 bilhão. Veja, uma obra que vai custar R$ 1 bilhão não vale a pena. Não vale a pena. Vai ficar muito caro. Se você pegar o número de casas que tem lá e dividir por um R$ 1 bilhão, acho que é mais fácil tirar as pessoas. Aquelas pessoas vão ter que sair dali, não tem jeito. Vai ser isso. Está abaixo do nível do rio. É muito complicado”, afirmou Nunes.
Em um comunicado divulgado nesta terça-feira (4/2), no entanto, a administração municipal afirma que tem estudado três alternativas para solucionar as inundações no bairro. Duas delas envolvem obras de macrodrenagem, com remoção de algumas famílias, ao custo de aproximadamente R$ 1 bilhão cada.
Na terceira, que envolve justamente a retirada da população, o custo estimado do projeto foi orçado em R$ 1,9 bilhão. O valor pagaria o trabalho com remoções, desapropriações, reassentamentos e construção de novos conjuntos habitacionais, além da criação de um parque alagável no lugar.
A possibilidade de deixar o local de forma definitiva foi recebida com revolta por parte da população, que cobra outras soluções da prefeitura. Como mostrou o Metrópoles, o bairro passa nesse momento por um processo de regularização fundiária, promovido pela própria gestão Ricardo Nunes (MDB). A administração municipal não informou se o processo será interrompido.
As outras duas alternativas estudadas pela gestão para o bairro são direcionadas para grandes intervenções de drenagem.
Na primeira delas, a prefeitura prevê construir um dique, sete reservatórios, e um canal com 5,5 km para desviar a água da chuva. A opção também envolveria a transformação de parte da área no Parque Várzeas do Tietê, com custo total estimado em R$ 1,02 bilhão. Neste caso, 484 famílias teriam que deixar o local.
Já a segunda alternativa envolve uma parceria com a prefeitura de Guarulhos, com ações integradas entre as duas cidades. Um canal de transbordo seria construído na região, além de lagoas para o acúmulo da água. O projeto também prevê reverter o fluxo de água do rio Tietê temporariamente.
Além disso, a ideia estima a construção de “avenidas-parque”, com diques de proteção nas margens esquerda e direita; sistemas de comportas automatizadas; quatro áreas de lazer, com 45 mil m²; e dois reservatórios. O investimento, neste caso, também seria de aproximadamente R$ 1 bilhão.
A alternativa leva o nome de “Ações Intermunicipais Integradas para o Controle de Inundações Cidade-Esponja Pantanal” e também prevê algumas remoções, mas a Prefeitura não cita um número específico.
Nesta terça-feira (4/2), Nunes e o governador Tarcísio de Feitas (Republicanos) afirmaram que ainda não têm uma “situação definida para o Pantanal”.
“Existe uma complexidade, vamos tentar construir a melhor solução de engenharia que fique de pé, com todo senso de urgência que é necessário. Qual é o prazo? Eu não sei”, afirmou Tarcísio.
Historicamente afetado pelas enchentes, o Jardim Pantanal fica na várzea do Rio Tietê e está inundado desde as chuvas da última sexta-feira (31/1). Famílias perderam móveis e eletrodomésticos inteiros por causa do problema. Parte dos moradores foi abrigada em uma escola da região, onde a prefeitura tem feito atendimento às famílias e entregado doações.