Ilhada no Jardim Pantanal: menina é levada a UPA em colchão inflável
Em meio a enchentes, moradores do Jardim Pantanal usaram colchão inflável para levar menina de 11 anos que desmaiou de febre, a UPA
atualizado
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São Paulo — Ilhada dentro de casa pelo quarto dia consecutivo devido ao alagamento que atinge o Jardim Pantanal, na zona leste de São Paulo, desde sábado (1º/2), a ambulante Netinha Batista contou com a ajuda de vizinhos, que utilizaram um colchão inflável, para transportar sua neta, de 11 anos, para Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Jardim Helena, na região.
A menina, que apresentava diarreia e febre desde a manhã dessa segunda-feira (3/2), chegou a desmaiar no começo da tarde. Ela teve 39ºC de febre.
Netinha relatou ao Metrópoles que ligou para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e para os bombeiros, mas ninguém veio prestar socorro.
“Nós pedimos ajuda para os vizinhos e vieram quatro rapazes aqui do bairro com um colchão inflável, que resgataram a minha criança”, contou a ambulante.
Segundo Netinha, o médico que a atendeu avalia que a menina tenha pego uma infecção por ter ingerido água da torneira nestes dias em que a região está alagada. Além disso, a criança, que é filha de Paulyanne Oliveira, também moradora da região, é diagnosticada com urticária gigante e dermatite atópica. Desde os 2 anos, ela vai regularmente a consultas com hepatologista, pediatra e alergologista.
“É uma vergonha, cadê os bombeiros? Cadê os socorristas? Cadê o Samu? Esse maldito desse prefeito ainda fala em remover o povo. Nós não queremos ser removidos. Será que o prefeito vai ter dinheiro suficiente para pagar todo mundo? Ele acha que com R$ 20 mil, R$ 50 mil, a gente compra uma casa? Minha filha rala no Brás há 12 anos, comprou uma casa que, se ela for vender hoje, vale R$ 200 mil. Aqui não foi invadido o terreno, foi comprado, tem documentos”, lamentou Netinha.
Ao Metrópoles, foi informado que uma equipe do SAMU chegou a se deslocar até o local indicado, mas que encontrou dificuldades de acesso devido ao alagamento da via. “Diante da impossibilidade de prosseguir com segurança, foi solicitado apoio do Corpo de Bombeiros”, afirmaram.
Os bombeiros, então, se dirigiram ao endereço informado, porém, ao chegar lá, não encontraram nenhuma vítima ou solicitante. Os agentes tentaram contato telefônico com Netinha, mas não tiveram retorno. “Diante dessa situação, e sem novas informações que permitissem a continuidade da busca, a viatura se tornou disponível para outros chamados”, explicaram.
Na manhã dessa terça-feira (4/2), a casa onde a ambulante mora permanecia com água. Em vídeo enviado ao Metrópoles, é possível ver a residência toda suja e os móveis destruídos por causa da enchente. Veja:
“Nós confiávamos no prefeito. Nós votamos nele. A minha família elegeu esse maldito. Eu estou com tanta raiva. Faz três dias que eu não sei o que é comida, porque não tem como cozinhar. Dentro da nossa casa tem barata, rato, cocô, lesma. Já era, perdemos tudo”, falou.
Entenda
- O Jardim Pantanal, que fica ao redor do Rio Tietê, na zona leste de São Paulo, foi uma das mais castigadas pela chuva que atingiu todo o estado na sexta-feira (31/1).
- Os moradores da região amanheceram no sábado com as ruas inundadas de água até a altura da cintura. Até esta terça-feira, a água ainda não havia baixado completamente.
- No sábado, Nunes afirmou, em entrevista a jornalistas, que “é mais fácil tirar as pessoas [da região]. Aquelas pessoas vão ter que sair dali, não tem jeito. Vai ser isso. Está abaixo do nível do rio. É muito complicado”.
Processo de regularização
O prefeito Ricardo Nunes (MDB) afirmou nessa segunda-feira que estuda oferecer uma ajuda financeira de até R$ 50 mil para que os moradores do Jardim Pantanal deixem o bairro. O local, que está alagado há quatro dias, passa, no entanto, por um processo de regularização fundiária promovido pela própria Prefeitura de São Paulo.
A promessa de entregar títulos de propriedade para os moradores da área foi feita por Nunes ainda em 2022, quando o prefeito anunciou que regularizaria os imóveis de 8 mil famílias da região.
Em nota divulgada à imprensa neste fim de semana, a Prefeitura chegou a citar o projeto de regularização e disse que, desde julho de 2024, a gestão municipal “acompanha as ações de urbanização na região e o processo de regularização fundiária”.
Segundo o texto, 4 mil famílias serão atendidas pelo processo, metade do que o prometido inicialmente por Nunes, e 900 devem receber o título de propriedade ainda neste ano.