metropoles.com

Boulos: Governo Tarcísio é “laboratório bolsonarista” em SP

Guilherme Boulos, deputado federal mais votado em SP, afirma que a gestão Tarcísio tenta manter um “laboratório bolsonarista” no Estado

atualizado

Compartilhar notícia

Fábio Vieira/Metrópoles
Imagem colorida mostra Guilherme Boulos de camisa azul marinho, sentado e com um quadro ao fundo - Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida mostra Guilherme Boulos de camisa azul marinho, sentado e com um quadro ao fundo - Metrópoles - Foto: Fábio Vieira/Metrópoles

São Paulo – Deputado federal mais votado de São Paulo, com pouco mais de 1 milhão de votos, o coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), Guilherme Boulos (PSol), assume seu primeiro mandato nesta quarta-feira (1º/2) de olho na próxima eleição municipal, em 2024.

Em entrevista ao Metrópoles, Boulos compara o prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), contra quem deve concorrer no ano que vem, a um “administrador de condomínio”, e classifica a gestão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) como um “laboratório bolsonarista”.

O líder dos sem-teto se prepara para o primeiro cargo público se dividindo entre a organização de uma “posse popular” com as bases de seu movimento e um jantar oferecido pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), seu adversário político, como fez na última quinta-feira (26/1) — ele deixou claro, contudo, que apoiará o correligionário Chico Alencar na eleição da Casa.

Tido por setores da direita como “radical”, Boulos falou ainda sobre atuação para impedir que deputados que apoiaram os atos de 8 de janeiro mantenham seus mandatos e sobre punição para quem participou da tentativa de golpe, “tenha ou não tenha farda”.

Confira os principais trechos da entrevista de Boulos ao Metrópoles:

Como será o começo de seu mandato?
O primeiro projeto que a gente pretende apresentar é a política pública de cozinha solidária. Nosso mandato vai ter o papel principal de combate às desigualdades sociais e isso passa antes de tudo pelo combate à fome. É o grande tema do País hoje. Temos temos uma experiência feita por sociedade civil e movimentos sociais que deu muito certo. Foi na ponta, no lugar onde as pessoas mais precisavam. Mais de 1 milhão de refeições distribuídas pelo projeto Cozinhas Solidárias. Levei o presidente Lula para almoçar em uma das cozinhas durante a campanha, em Santo André e ele também se impressionou. Vai ser o primeiro projeto que vamos apresentar na Câmara.

Qual será o papel do partido, agora na base do governo? 
Será, primeiro, de ajudar Lula a reconstruir o Brasil. Temos noção de quanto o Bolsonaro devastou as políticas públicas e a capacidade de atuação e investimento do Estado brasileiro. Em segundo lugar, estar na linha de frente de forma intransigente na defesa do enfrentamento ao golpismo. O Psol vai adotar uma linha de enfrentamento, vamos pedir cassação de deputados golpistas na Câmara, vamos defender a bandeira de nenhuma anistia para quem tentou dar golpe de estado no Brasil.

Há espaço para um deputado defender Bolsonaro depois do que ocorreu?
Acho que não tem nenhum. Acho que quem defende golpe de estado não pode estar no parlamento. Golpe de estado é devastação da democracia. Quem não só defende o golpe como incentivou ou participou direta ou indiretamente de uma tentativa golpista tem de ter seu mandato popular cassado.

Naturalmente, a bancada do PSol vai ter também um papel mais propositivo, porque o presidente Lula ganhou as eleições mas nós sabemos que no parlamento não existe uma maioria favorável à sua agenda. Então, o PSol vai batalhar para que essa agenda seja implementada. Estamos falando aqui de uma reforma tributária progressiva, de uma política ambiental ousada, com desmatamento zero e transição energética, revogação do teto de gastos e da reforma trabalhista, temas que são essenciais para que o Estado brasileiro sirva à maioria.

Antes dos acontecimentos do dia 8, você dizia que seu mandato levaria movimentos sociais à Brasília para pressionar pela aprovação desses projetos. Depois do dia 8, a presença de massas populares no Congresso pode estar prejudicada?
Pelo contrário. Quando movimentos sociais, o campo democrático, deixa as ruas, é uma forma de abrir espaço para a extrema direita. Não existe espaço vazio. Inclusive chamamos uma grande mobilização no dia seguinte dos atos golpistas em várias capitais. Inclusive, no dia 1º, vamos fazer uma posse popular, com movimento sem teto, movimento indígena, vários setores de movimentos sociais, que vão se reunir a frente do Congresso para a posse da nossa bancada.

O que mudou na relação entre os partidos de centro-direita e a esquerda depois do dia 8?
O dia 8 isolou o bolsonarismo. Tentaram, e precisamos dizer com todas as letras, dar um golpe. Foi justamente isso que planejaram. Envolvendo o ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, possivelmente o próprio Bolsonaro, o governo do Distrito Federal, forças de segurança estaduais e federais. Houve uma conspiração e sabotagem para um golpe de estado no Brasil. A reação da sociedade foi contundente. Mesmo parte da sociedade que votou no Bolsonaro, a maior parte dos eleitores do Bolsonaro, não concorda com o que aconteceu no dia 8. Acho que isso isolou a violência política. Não é um capítulo final: o bolsonarismo vai continuar atuante na sociedade e vamos precisar derrotá-lo, mas acho que eles saíram mais isolados, do centrão e da direita mais tradicional brasileira.

Como você vê a relação entre os militares e a política neste momento?
Todo mundo que participou da tentativa de golpe de estado, tenha ou não tenha farda, tem que ser punido. Agora, em relação aos militares, acho que o papel do governo Lula é retomar a função de Estado das forças armadas. Forçar armadas não são milícias ideológicas. Acho que o governo Lula saberá fazer esse freio de arrumação.

Em São Paulo, como você avalia o começo do governo Tarcísio?
Me preocupa muito que queiram ainda inflectir em fazer um laboratório bolsonarista em São Paulo. Ele botou na segurança pública um capitão bolsonarista, que é o (Guilherme) Derrite, botou na Política para Mulheres uma bolsonarista (Sonaira Fernandes). Mas o governo do Tarcísio é híbrido. Tem também setores  mais ao centro, à centro-direita. Acredito que a população de São Paulo também deixou claro, e aqui digo particularmente da capital, que não aceita o bolsonarismo e que aqui, não se cria.

Na capital, há algumas semanas, em entrevista à Veja São Paulo, o presidente da Câmara, Milton Leite, disse que se a Prefeitura não fizer a tarifa zero o sr. ganha a eleição em 2024. Qual é sua avaliação sobre isso?
Primeiro, fico satisfeito em saber que mesmo sem ser candidato oficialmente já estou melhorando a vida dos paulistanos (risos). Agora, me preocupa muito você pautar a gestão da maior cidade do Brasil, um orçamento que vaa chegar a mais de R$ 100 bilhões, por cálculo eleitoreiro, pequeno, mesquinho. O Ricardo Nunes não se comporta como um líder, se comporta como um administrador de condomínio. A cidade está sem rumo, sem projeto.

A questão da tarifa zero, por exemplo: defendemos a tarifa zero. Seguimos defendendo, mas não pode ser uma tarifa zero ligada aos interesses da máfia do transporte, ligada aos interesses do setor das empresas de ônibus e não da população. Sem abertura de planilhas, sem determinação do custo real do sistema de transporte. Me preocupa também fazer uma tarifa zero a toque de caixa pautada pelo calendário eleitoral e acabar se criando uma tragédia. Se você tem tarifa zero e o metrô a R$ 5, você vai ter uma migração de passageiros e o sistema pode colapsar. Para que isso aconteça e dê certo, que é o que defendo, precisa ser feito de forma planejada.

Lula e Fernando Haddad já falaram do acordo do PT em apoiar sua candidatura para a Prefeitura em 2024. Mas há setores do partido, como o do ex-secretário Jilmar Tatto, que tentaram recentemente uma aproximação com Nunes. Dá para confiar no apoio do PT?
Eu confio no compromisso do presidente Lula, que aliás foi reiterado há algumas semanas em conversa comigo. Confio no compromisso dos dirigentes do PT, das lideranças, do partido como um todo. Vamos construir uma frente progressista em São Paulo para ganhar as eleições no ano que vem e já estou construindo neste ano um diálogo com lideranças, parlamentares petistas, com espaço no processo para todos. Não vejo o compromisso firmado pelo presidente Lula, em hipótese alguma, ameaçado.

 

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comPolítica

Você quer ficar por dentro das notícias de política e receber notificações em tempo real?