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“Orgulho da própria cor”: sarau inspira alunos negros em escola de SP

Evento criado em 2008 debate cultura e história afro-brasileiras e homenageia personalidades negras; projeto acontece em escola de Guarulhos

atualizado

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Jessica Bernardo / Metrópoles
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1 de 1 imagem colorida mostra estudantes em escola pública de são paulo. eles estão em uma biblioteca e seguram uma imagem do cantor milton nascimento - metrópoles - Foto: Jessica Bernardo / Metrópoles

São Paulo — O mês da Consciência Negra é marcado por uma grande agitação nos corredores da Escola Estadual Maria Aparecida Rodrigues, localizada na periferia de Guarulhos, na Grande São Paulo.

Alunos e professores da unidade correm para ajustar os últimos detalhes antes do Sarau Resistência, evento que completa 15 anos em 2023 e reúne apresentações artísticas no palco da escola.

Criado em 2008 pela professora de história Veruschka Sales Azevedo, o sarau surgiu com o objetivo de mostrar aos alunos a riqueza das manifestações culturais da população negra e fortalecê-los na luta contra o preconceito.

“A ideia era exatamente trazer a cultura preta do bairro e o empoderamento dos alunos porque a escola é um ambiente que reproduz muito o racismo”, afirma Veruschka.

Desde então, o projeto cresceu e hoje colabora para elevar a autoestima dos estudantes negros e conscientizar a escola sobre práticas racistas.

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Todos os anos, desde 2012, os professores escolhem uma personalidade negra para ser homenageada no sarau e trabalham o tema da vez em sala de aula.

Neste ano, o cantor Milton Nascimento, que fez sua turnê de despedida dos palcos recentemente, será o homenageado.

A aluna Isabela Gonçalves conheceu o artista depois das aulas sobre o sarau e diz que ficou inspirada pela história do cantor. “Apesar de ter passado por dificuldades, ele conseguiu resistir. Eu aprendi através do Milton a ter forças para não desistir”, diz.

Isabela conta que foi vítima de racismo aos 12 anos, quando foi seguida por uma funcionária em uma farmácia e precisou ser defendida pela avó. Para ela, o sarau ajuda os estudantes a terem “orgulho da própria cor”.

“O sarau é importante porque os meninos e meninas negras que não têm quem os defendam vão poder aprender a se defender sozinho, vão ter orgulho da própria cor”, diz a adolescente.

Além de Milton Nascimento, também já foram homenageados no evento nomes como a escritora Carolina Maria de Jesus e as cantoras Elza Soares e Lia de Itamaracá.

Lia gravou um vídeo para os estudantes da escola na edição em que foi homenageada (veja trecho abaixo).

 

Para celebrar as personalidades escolhidas, os alunos desenham diferentes versões dos homenageados e montam painéis que decoram o pátio onde acontecem as apresentações.

O sarau é aberto à comunidade e recebe artistas da região, além de reunir recitais, danças, vídeos e shows feitos pelos próprios alunos.

Para este ano, a estudante Ana Carolina da Silva fez um vídeo sobre a Mãe Stella de Oxóssi, uma das mais importantes líderes religiosas do Candomblé.

“É importante para você tentar conscientizar as pessoas. Não é só porque a gente usa uma guia, uma roupa branca, que a gente é diferente deles”

Entre as atrações do evento está também um desfile do qual só participam estudantes negros. Os alunos podem escolher a própria roupa. Alguns decidem usar looks de festa, enquanto outros apostam em peças inspiradas em artistas de rap, por exemplo.

O aluno Gabriel Fernandes da Silva diz que o desfile faz com que os adolescentes fiquem mais confortáveis com o próprio corpo.

“Às vezes, a pessoa está na adolescência e se sente meio insegura com seu próprio corpo. Ao ver outras pessoas negras desfilarem, sem nenhum medo de serem julgadas pelo próximo, elas falam: ‘Por que não vou me juntar a ele?’”, diz Gabriel.

Membro do grêmio da escola, Thiago Gomes diz que muitos alunos também passam a rever práticas racistas depois do evento.

Ele lembra de uma edição anterior em que alguns estudantes perguntaram se poderiam “ir de carvão” para o sarau, em uma referência ao blackface – prática racista em que uma pessoa branca pinta o rosto de preto.

“Eu vi essas pessoas participando do sarau da Lia [de Itamaracá] alguns anos depois. Hoje, elas sentem vergonha de falar a mesma coisa que elas falavam antigamente. É uma semente que a gente põe”, diz o aluno, que é um dos organizadores do evento neste ano.

Laura Eliza Coelho, aluna do 3º ano, conta que o sarau também faz com que os adolescentes tenham mais contato com a arte. “Eu descobri que gosto muito de poesia no sarau”, dz. Para ela, que é branca, o evento é também uma oportunidade das pessoas aprenderem mais sobre a história e a cultura negra.

“A luta antirrascista não vem só da pessoa negra”, diz a aluna.

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