Em comemoração ao Dia da Consciência Negra, nessa terça-feira (22/11), os alunos do 7° ano do Centro Educacional 11 de Ceilândia transformaram a quadra de esportes da escola em palco para a exibição de uma releitura do livro Quarto de Despejo: o diário de uma favelada, de Carolina Maria de Jesus.
Segundo a professora Áquila Borges, 30 anos, a intenção do evento foi proporcionar um momento de “reflexão, crítica e construção” aos alunos do ensino básico que moram, em sua maioria, em bairros periféricos, expostos à violência e à pobreza.
“Decidimos optar por Quarto de Despejo, justamente em decorrência da vivência dos meninos. Essa turma tem uma questão muito peculiar, o comportamento agressivo. Os meninos gostam muito de contar intrigas, falando um do outro. Então, nada melhor do que a obra de Carolina Maria”, explicou Borges.

Estudantes do Centro Educacional 11 de Ceilândia fizeram uma releitura do livro Quarto de Despejo: o diário de uma favelada, de Carolina Maria de JesusVinícius Schmidt/Metrópoles

Trata-se de um livro que relata o triste cotidiano de uma mulher que sobrevive como catadora de papel e luta para criar seus filhos na favela do Canindé, em São PauloVinícius Schmidt/Metrópoles

A finalidade do espetáculo foi proporcionar um momento de "reflexão, crítica e construção"Vinícius Schmidt/Metrópoles

Ana ReulmaVinícius Schmidt/Metrópoles

Áquila BorgesVinícius Schmidt/Metrópoles

Mônica Blanco, Renan Brasileiro e Larissa CairesVinícius Schmidt/Metrópoles

Vinícius Schmidt/Metrópoles

Edinaldo TeixeiraVinícius Schmidt/Metrópoles
A fim de reproduzir o barraco humilde onde Carolina viveu, os alunos tiveram o auxílio de professores e ex-alunos de arquitetura do Instituto de Educação Superior de Brasília (Iesb) para construir uma casa de garrafa pet. Foi três dias de bastante empenho e trabalho, que gerou bastante inspiração para as crianças, é o que falou o diretor da escola, Kiko Gadelha. “Eles veem uma casa, um arquiteto […]. Eles vão falar, eu posso virar um arquiteto, posso construir uma casa, posso ser alguém na vida”, aponta.
Quando participou da apresentação, Edinaldo Teixeira, 13 anos, conseguiu absorver a mensagem que o 20 de novembro transmite: “Foi bom. É importante falar sobre a Consciência Negra e sobre os pretos, sobre o que é ser preto é como respeitá-los”.
Quarto de Despejo: o diário de uma favelada
O livro escolhido relata o triste cotidiano de uma mulher que sobrevive como catadora de papel e luta para criar seus filhos na favela do Canindé, em São Paulo. Mesmo escrito na década de 1950, a obra de Carolina Maria de Jesus é bastante atual ao retratar desigualdade de classe, de gênero e de raça, no dia a dia de quem não tem amanhã, mas que ainda sim resiste diante da miséria, da violência e da fome.
Consciência Negra
Instituído oficialmente pela Lei n° 12.519, de 10 de novembro de 2011, o Dia da Consciência Negra remete ao dia em que zumbi, líder do Quilombo dos Palmares, situado na Serra da Barriga, em Alagoas, foi morto, em 1695, aos 40 anos.
A destruição do quilombo foi efetuada por um grupo de bandeirantes liderados por Domingos Jorge Velho, também responsável pela morte de Zumbi.
Portanto, o Dia da Consciência Negra é fruto da reivindicação de valorização de um símbolo histórico, que começou na década de 1970, quando o Movimento Negro Unificado contra a Discriminação Racial, em congresso realizado em 1978, elegeu a figura de Zumbi como símbolo da luta e resistência dos negros no Brasil.
As comemorações do dia 13 de maio, data em que a abolição da escravatura aconteceu, foi deixada de lado pelos movimentos negros, pois, para o grupo, a data representa uma “falsa liberdade”, uma vez que, após a Lei Áurea – Lei n° 3.353, de 13 de maio de 188, os negros foram lançados largados à própria sorte e ficaram sem nenhum tipo de assistência. Com isso, o 20 de novembro tornou-se a data para comemorar e relembrar a luta dos negros contra todo o tipo de opressão no Brasil.