Elo com PCC: 23 celulares são encontrados em celas de policiais presos
Operação Video Vocacionis, do MPSP, Corredoria da Polícia Civil e outros órgãos, nesta terça (4/2) apreendeu 23 celulares, dinheiro e drogas
atualizado
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São Paulo — Uma operação realizada em conjunto pela Corregedoria da Polícia Civil e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo (MPSP), nesta terça-feira (4/2), apreendeu 23 aparelhos celulares dentro de celas do presídio da Polícia Civil, na avenida Zaki Narchi, zona norte da capital paulista, onde estão presos agentes suspeitos de ligação com o Primeiro Comando da Capital (PCC). Entre eles, Valmir Pinheiro, conhecido como Bolsonaro (à esquerda na imagem), e Valdenir Paulo de Almeida, apelidado de Xixo (à direita).
Foram encontrados na vistoria: 23 celulares (o presídio mantém, atualmente, 69 presos); R$ 21.672,15; 11 smartwatches; 14 carregadores de celular; 26 fones de ouvido; pequena quantidade de droga; dólares, euros e um notebook.
O objetivo da Operação Video Vocacionis é apreender aparelhos celulares por meio dos quais dois policiais civis que estão recolhidos preventivamente no presídio da corporação fizeram contato com pessoas que se encontravam fora do estabelecimento prisional.
Mais de 80 agentes foram mobilizados na operação, cujo nome faz referência à expressão “vídeo chamada” em latim, já que foi desta forma que os presos contataram seu interlocutor.
Também foi cumprido mandado de busca e apreensão contra um delegado investigado por participar do esquema.
Na ação, também houve a participação da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP), Controladoria-Geral do Estado, Polícia Científica e Guarda Civil Metropolitana (GCM).
Xixo e Bolsonaro
Os policiais civis Valmir Pinheiro, conhecido como Bolsonaro, e Valdenir Paulo de Almeida, apelidado de Xixo, são suspeitos de ligação com o PCC. Eles são acusados de receber propina para arquivar investigações sobre tráfico de drogas.
Ambos estão presos preventivamente desde setembro passado. Nesta terça-feira, os investigadores foram alvo de busca e apreensão em uma Operação Video Vocacionis.
Segundo as investigações, os policiais usavam celulares dentro do presídio para se comunicar com comparsas por meio de videochamadas e pressioná-los a omitir informações em depoimento. O MPSP afirma que os celulares entraram na cadeia com ajuda de dois familiares dos suspeitos.
Relembre o caso
- Os policiais foram indiciados por crimes contra a administração pública, usura, tráfico de drogas e lavagem de dinheiro. Eles são acusados pelo MPSP de receber R$ 800 mil do narcotraficante João Carlos Camisa Nova Júnior para livrá-lo de uma investigação sobre envio de toneladas de cocaína para a Europa.
- As investigações indicam que o pagamento de propina aos policiais era feito mensalmente por advogados do PCC entre 2020 e junho de 2021. A propina resultou no arquivamento de apurações e na interrupção de um inquérito policial realizado pelo Departamento de Narcóticos (Denarc).
- O delator do PCC Vinícius Gritzbach, morto com 10 tiros de fuzil no Aeroporto de Guarulhos em 8 de novembro, teria informado a Bolsonaro e Xixo a localização de 15 casas cofre da facção, onde ficavam escondidos milhões de reais em espécie.
- Os policiais teriam ido aos locais, sem mandado, e se apropriado dos valores, causando prejuízo de R$ 90 milhões para os criminosos. Bolsonaro e Xixo foram citados por um integrante do PCC identificado como Tacitus em mensagens enviadas ao próprio Gritzbach e a delegados.
- “O Vinícius passou informações das ‘casas cofre’ para o Xixo e o Pinheiro, esses policiais invadiram as casas ‘cofre’ sem mandado judicial, roubando milhões de reais em espécie da ’empresa’”, afirma o faccionado.
Em 2015, Valdenir Paulo de Almeida, de 57 anos, o Xixo, trabalhava na 6ª Delegacia de Investigações Sobre Facções Criminosas e Lavagem de Dinheiro, ligada ao Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).
Na ocasião, ele participou de uma ação conjunta com a Polícia Civil de Sergipe, cumprindo mandados em São Paulo, contribuindo para desbaratar uma organização criminosa especializada em roubo de veículos, adulteração de sinal identificador e falsificação de documentos no Detran.
O reconhecimento público foi publicado no Diário Oficial, no qual o então delegado geral paulista determinou que o trabalho destacado fosse incluído nos registros de quatro policiais civis, entre eles Valdenir, “em razão da extraordinária dedicação havida no cumprimento do dever”.
Valmir Pinheiro, conhecido como “Bolsonaro” por sua semelhança física com o ex-presidente, era investigador da polícia e passou a ser investigado por suspeita de cobrar suborno para interromper apurações sobre o PCC e desviar drogas apreendidas com a quadrilha.