Funcionário público baleado por PM no litoral tem alta; vídeo
Gravações feitas por moradores do Parque Bitaru, em São Vicente, mostram momento em policial dá dois tiros em Ruan Araújo durante abordagem
atualizado
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Santos – O funcionário público da Prefeitura de São Vicente baleado pela Polícia Militar durante abordagem no último dia 9 no Parque Bitaru teve alta hospitalar nessa quarta-feira (28/2), após passar 21 dias internado. Ruan Ribeiro de Araújo, de 27 anos, foi alvo de dois disparos após se recusar a ser revistado por um policial.
Vídeos feitos por moradores mostram o momento em que o PM atira contra Ruan, diante de dezenas de pessoas, no pé e no tórax. O caso é citado no relatório entregue pela Ouvidoria das Polícias ao Ministério Público de São Paulo contra abusos cometidos durante a 2ª Fase da Operação Escudo, batizada pela Secretaria da Segurança Pública de 3ª Fase da Operação Verão.
Assista:
Ao Metrópoles, Ricardo de Araújo, pai de Ruan, afirma que, após a alta médica, o filho teve uma crise de convulsão nessa quarta-feira (28/2) e precisou ser levado às pressas à Santa Casa de Santos.
“Ele começou a convulsionar do nada, tremendo. Acabei conseguindo segurar ele e deitar ele no sofá. Fomos correndo para o hospital, o médico medicou e ele melhorou. Mas o Ruan está muito abatido, cansado. Foram oito dias em coma, mais um bom tempo no quarto”, afirma Ricardo.
“Ele tinha esse problema de convulsões faz tempo. Mas estava controlado. O que deve ter acontecido é que todo esse estresse faz isso voltar”, completa.
Segundo Ricardo, a equipe médica entendeu que seria arriscado remover o projétil alojado no tórax de Ruan. “Ele passou por uma cirurgia para retirar a bala que estava na perna. Tirou um bom ‘bife’. Mas no caso do tórax, eles acharam que era melhor deixar a bala onde ela está. Seria menos perigoso do que abrir ele todo para tirar. Ele poderia não resistir”, afirma.
Funcionário da Prefeitura
De acordo com a Prefeitura de São Vicente, Ruan ocupa o cargo de coordenador na Secretaria de Serviços Públicos. Ele atua ao lado do pai no projeto “Pra Cima”, voltado à capacitação e oferta de trabalho para desempregados na cidade.
Segundo Ricardo, no momento da abordagem, eles estavam trabalhando na zeladoria do bairro Parque Bitaru, ao lado de outros funcionários. “Eu sou o supervisor desse projeto da prefeitura e ele é o meu coordenador. A gente estava trabalhando”, diz ele.
Abordagem
Nas gravações feitas por moradores, não é possível ver o que acontece antes do primeiro disparo do policial, na perna de Ruan. Mesmo após levar o primeiro tiro, ele segue em pé e continua resistindo à abordagem. Em certo momento, ele parte para cima do policial, que efetua o segundo disparo. O homem, então, cai no chão.
Ricardo aparece nas imagens de bengala, tentando apartar a confusão. É possível vê-lo sendo empurrado pelo PM e caindo no chão após o filho ser baleado.
A versão dos policiais, que consta no boletim de ocorrência, diz que uma equipe fazia patrulhamento “numa comunidade onde ocorre o tráfico de drogas” quando se envolveu em uma ocorrência de desacato, “culminando em disparos de arma de fogo”.
Segundo a versão, Ruan teria dado um tapa no rosto de um dos policiais e tentado tomar sua arma. O PM teria, então, feito um “disparo de advertência” em direção ao solo, que atingiu a perna da vítima.
O policial afirma que, diante da revolta dos populares, se viu cercado e, após Ruan novamente tentar tomar sua arma, efetuou um novo disparo, que atingiu sua axila.