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“É muito triste”, lamentam os frequentadores da Livraria Cultura

O Metrópoles passou uma tarde na livraria e conversou com quem estava por lá atrás de uma boa história, um best seller ou para se despedir

atualizado

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Fábio Vieira / Metrópoles
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1 de 1 imagem colorida livraria cultura - Foto: Fábio Vieira / Metrópoles

O aposentado Flávio Mugnaini, de 82 anos, vai quase todos os dias à Livraria Cultura do Conjunto Nacional, na região central de São Paulo, para ler um livro. De uns tempos para cá, não conseguia terminar nenhum dos títulos que começava porque simplesmente desapareciam da prateleira.

“Agora entendi porque os livros sumiam”, diz ele, ao Metrópoles, sobre o processo de falência da empresa. “Tenho lido nos jornais o que está acontecendo. Na sexta-feira, carrinhos cheios de livros não paravam de sair. O cenário estava bem triste.”

Na última sexta-feira (10/2), o juiz Ralpho Waldo De Barros Monteiro Filho, da 2ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo, decretou a falência da Livraria Cultura. A empresa ainda pode recorrer.

Flávio gosta de histórias policiais, mas essas andam em falta nas prateleiras da Cultura. Naquela tarde, escolheu “A vida mentirosa dos adultos”, de Elena Ferrante, para ler algumas páginas. “Peguei esse porque tinha bastante, então, acho que vai dar para terminar”, torce.

#Livros

A Livraria Cultura já chegou a ter 13 filiais. Hoje, segundo o site, restam apenas as lojas da avenida Paulista e de Porto Alegre. A megastore da Paulista, aberta em 2007, foi chamada de “catedral de livros” pelo escritor português José Saramago (1922–2010). Os funcionários, nos últimos dias, tentam disfarçar o vazio das prateleiras dispondo as publicações espaçadamente e repetindo os títulos.

“Está uma vibe bem triste por aqui”, nota a estudante Isabela Trentin, 17. “Tem os mesmos livros repetidos em vários lugares diferentes.”

Ela e as amigas Isabela Reis, 18, Juliana Yukihara, 17, foram à livraria porque Gabriela Hirata, 18, outra integrante da turma, tinha um voucher do “Vale Cultura” para trocar por livros. Em meio a escassez de oferta, a jovem deu sorte e achou dois títulos sobre os quais já tinha visto recomendações no Tiktok: “A pequena padaria do Brooklyn”, de Julie Caplin, e “Teto para dois”, de Beth O’Leary.

As estudantes costumam comprar livros por e-commerce, mas estavam chateadas em ver a Cultura com poucas opções “É muito triste ver a livraria nessa situação. Ela é a mais bonita de São Paulo”, lamenta Gabriela.

Amores de livraria

O estudante de psicologia João Lima, 18 anos, visitou Cultura, nesta terça-feira (14/2), para se despedir. “Eu passava aqui de duas a três vezes por semana”, diz. João frequentava a livraria para ler, fazer amigos e paquerar. “Meu último peguete encontrei aqui. A livraria é um excelente cupido.”

Dependendo do que o pretendente pegasse na prateleira, João entendia como um aceno de que poderia rolar algo. “Quando passava perto da seção de psicanálise e a pessoa tirava um livro do (psicanalista) Contardo Calligaris era um bom sinal”, lembra.

A técnica do estudante, no entanto, andava prejudicada devido à escassez de ofertas, especialmente na seção de filosofia. “Quer coisa mais triste do que não encontrar livros de (Friedrich) Nietzsche e (Jean-Paul) Sartre?”, lamenta.

João ressalta que, mais do que uma livraria, a Cultura é um ponto turístico, onde muitos nem sempre vão para comprar um livro, mas para conhecer. Segundo os funcionários, que não quiseram se identificar, o movimento da livraria está normal durante todos os dias.

Enquanto a reportagem esteve no lugar, o espaço apresentou um bom movimento para um dia útil no período da tarde. Era difícil encontrar vazia qualquer uma das poltronas espalhadas pelos andares. Havia também um número considerável de pessoas circulando entre as prateleiras.

Neste dia, aconteceu o ato “Ocupe a Livraria Cultura”, em que os gestores do Teatro Eva Herz convocaram atores e autores para ocupar o espaço. O movimento não teve muita adesão da classe artística.

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