metropoles.com

Respeite o seu tempo (e o do outro)

Precisamos aprender a conviver com aquilo que o relógio impõe. Sem esse encontro pacífico, não há como experimentar a adequação na vida

atualizado

Compartilhar notícia

samir
1 de 1 samir - Foto: null

Vivo lutando contra o tempo. É uma tarefa inglória: encaramo-nos fixamente, mas eu sempre pisco antes. E, ao abrir novamente os olhos, a realidade é outra. Eu sou outro. O momento passou e eu preciso me readaptar. Assim, vou vivendo.

Um cabelo branco a mais, um dia a menos. Um amigo se vai. Alguém ocupa o espaço vazio. Tudo é uma questão de tempo. A impermanência das coisas é a constatação de que o apego é uma tolice.

Fico mais confortável ao perceber que não estou sozinho nessa lida. Pessoas sentam diante de mim e, numa tentativa de aliança inútil, querem me convencer de que o tempo está sendo injusto com elas. Deveriam ter feito mais, amado mais, vivido mais. Travam embate com calendários e ponteiros.

Muitas vezes, ignoram que o mesmo tempo rege a si e o outro. Interpretam como se dias fossem medidas subjetivas, capazes de promover privilegiados e punir condenados. Ou tratam eles mesmos de valorizar mais seus minutos, depreciando as horas de seus semelhantes.

De fato, este deus é terrível. Exige reverências, mas não cede aos nossos caprichos. Precisamos aprender a conviver com aquilo que nos é imposto. Sem esse encontro pacífico com o tempo, não há como experimentar a adequação na vida.

Somos capazes de recuperar grande parte dos valores que nos são subtraídos no trajeto: postos, relações, crenças, poderes. O tempo, não. Ele vai e não volta. Costumamos tomar consciência disso quando parece ser tarde demais – muitas vezes, realmente é.

Nunca acreditei que o tempo corrige as coisas, resolve os problemas. Delegar uma resolução a ele é semelhante a transferi-la à morte: deteriora, atrofia, míngua. Vejo, nele, o velho Saturno com sua foice, disposto a ceifar aquilo que é devido. Especialmente, as nossas negligências e procrastinações. Primeiro, o compromisso e, depois, o prazer ensinam.

O culto do tempo pede fidelidade ao dia atual. Hoje: uma matéria tão óbvia, por ser a única verdade e, ao mesmo tempo, tão fugidia… Ficamos distraídos na gangorra oscilante entre o ontem e o amanhã, e esquecemos do que o presente nos chama a fazer.

Aceitar que tudo tem uma hora certa para começar, e terminar, é um desafio para todos. Seja para quem quer prorrogar momentos bons, ou adiantar o fim da dor. Essa inconformidade abrange grande parte do sofrimento humano.

O tempo é bom com quem sabe reconhecê-lo, a quem se adapta ao seu convívio sem teimosia. Um dia aprendo.

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?