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Nenhum gesto é gratuito. Todo mundo tem uma intenção ou finalidade

Aquele que se beneficia, de alguma forma, o faz a despeito e prejuízo de algum outro ser

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Handshake jigsaw puzzle pieces on blue charts.
1 de 1 Handshake jigsaw puzzle pieces on blue charts. - Foto: iStock

Não existe almoço grátis. Acreditar na despretensão é uma marca da ingenuidade. Sempre há uma intenção. O que vai variar é o grau de honestidade ao apresentar os verdadeiros objetivos de cada gesto. É bem provável que o verdadeiro propósito esteja nas entrelinhas.

E não há nada de errado nisso. Busque na natureza algum movimento gratuito, piedoso. Tudo tem uma finalidade. Aquele que se beneficia, de alguma forma, o faz a despeito e prejuízo de algum outro ser. É cruel, mas também justa: nada é além da medida da necessidade.

Por esse motivo, nos diferenciamos dos (demais) animais. É a consciência das nossas intenções que apazigua parte desse ímpeto, antes que se converta em agressividade e violência. Entendemo-nos seres melhores, até superiores. No entanto, distanciamo-nos da medida da justiça.

É essa mesma consciência que nos permite praticar o delito, a dissimulação e a dubiedade de propósitos. Deixamos a lei do mais forte para adotarmos a lei do mais esperto.

Particularmente, acho ainda mais cruel do que ocorre na lei da selva, onde o bicho reconhece seu predador com mais facilidade e se previne. Nem sempre temos tempo e habilidade suficiente para escapar. Na lista das características, ingenuidade é colocada na coluna dos defeitos.

Esse deve ser um dos fatos que nos proporcionam um mundo cada vez mais desconfiado e intolerante: o diferente é interpretado, rapidamente, como ameaça. Nossas fronteiras estão cada vez mais sensíveis, tornando-nos mais brutos que muitos animais.

Atacamos não só para defender o território e saciar a fome, mas por desfrutarmos do sofrimento do outro. Como se isso, por si, gratificasse e fortalecesse. Somos impiedosos com quem julgamos ser mais fracos.

Minha fala não é a de quem desacredita no bem, na generosidade ou no reconhecimento legítimo. Meu posicionamento no mundo é justamente por acreditar na gratificação que deriva da prática de atitudes em nome desses valores. Mas, não está sendo fácil.

Quando vemos carros de alto valor estacionados em duas vagas, para não correrem o risco de dano. Quando o outro se mostra ávido para tirar vantagem de nosso engano. Quando tentam nos fazer desistir dos nossos direitos com burocracias inúteis. Quando aquele telefonema vem sempre acompanhado por um pedido embutido. Quando os compromissos só são lembrados quando é conveniente. São incontáveis “quandos”.

Nisso, uma disponibilidade irrestrita precisa ser revista – ela pode ser o chamamento para uma gaiola de ouro, sob o argumento de que “você deve agradecer pela honra de estar aí dentro”. A todo momento há alguma forma de colaborar positivamente com o mundo e com o outro. Nem sempre será como resultado de uma bela proposta.

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