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São 184 na briga em que 15 disputam oito vagas

O sistema para eleger deputados federais é ruim, e a péssima qualidade da composição da Câmara é uma consequência dele

Autor Hélio Doyle

atualizado

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Daniel Ferreira/Metrópoles
Votação na Câmara dos Deputados do impeachment ao afastamento da presidenta Dilma Rousseff – Brasília – DF 17/04/2016
1 de 1 Votação na Câmara dos Deputados do impeachment ao afastamento da presidenta Dilma Rousseff – Brasília – DF 17/04/2016 - Foto: Daniel Ferreira/Metrópoles

Não é fácil ser deputado federal por Brasília, e não é apenas porque há 184 candidatos disputando oito vagas – formalmente, pois na realidade há no máximo 15 deles com chances reais de vitória. Como os 19 que querem chegar ao Senado, os que concorrem a uma cadeira na Câmara dos Deputados não têm cobertura de imprensa (a não ser que paguem por fora para alguns veículos e blogueiros), não são chamados para debates e têm pouquíssimo tempo nos horários eleitorais gratuitos.

Para piorar a situação, os candidatos a deputado federal, de modo geral, contribuem financeiramente com os que disputam as 24 cadeiras da Câmara Legislativa, para assim fazer as dobradinhas que podem ampliar seu eleitorado. Não são todas as alianças com distritais que têm custo financeiro para os federais, pois há candidatos que estabelecem suas dobradinhas por razões apenas políticas ou ideológicas, mas esses são a exceção, não a regra.

A contribuição do federal à campanha do distrital pode ser maior ou menor, podendo ir do gasto com a impressão de panfletos a valores que sustentam toda a campanha. Comenta-se que uma candidata a federal está pagando R$ 30 mil a cada “distrital” que promete apoiá-la. Esse dinheiro, naturalmente, costuma transitar pelo caixa dois.

Há quem se candidate a distrital apenas para faturar esse extra no período de campanha. Basta conseguir a indicação partidária (e cada partido ou coligação pode lançar 48 candidatos), obter o registro e se colocar no mercado. Um candidato com 3 mil votos não vai se eleger, mas esses votos ajudam a somar para o partido ou coligação e podem ser vendidos aos que disputam as eleições para deputado federal, senador e até para governador.

Picaretagem
Os “federais”, do mesmo jeito que os “senadores”, têm ainda de participar de outro mercado eleitoral, o de líderes comunitários, dirigentes de entidades, pastores, padres e outros que dizem controlar determinado número de votos, os quais serão dados ao candidato mediante alguma quantia. Como há candidatos abonados que aceitam pagar, os que não querem ser cúmplices da picaretagem ou não têm recursos para isso ficam em desvantagem.

Nesta eleição haverá uma renovação obrigatória na bancada de Brasília na Câmara porque apenas três dos oito deputados disputam a reeleição, e de nenhum dos três pode-se dizer que a vitória está garantida – embora Erika Kokay, do PT, pareça ter mais chances do que Augusto Carvalho (Solidariedade) e Laerte Bessa (PR).

Os favoritos são candidatos já conhecidos dos eleitores: por terem exercido mandatos; por representarem alguma corporação ou igreja; por serem parentes de políticos conhecidos; ou por terem dinheiro para “comprar” distritais e cabos eleitorais. Pode haver algum eleito que fuja a isso, mas sem grandes expectativas.

O sistema adotado no Brasil para eleger deputados federais é ruim em todos os sentidos, e a péssima qualidade da composição da Câmara é uma consequência dele:

– as listas de candidatos e as coligações são formadas por decisões autoritárias de chefes de partidos;

– ao votar em um candidato, o eleitor pode estar elegendo outro ou alguém de posições opostas às suas;

– não há nenhum compromisso dos candidatos com os partidos e seus programas;

– os maiores adversários dos candidatos são seus correligionários e afins, que disputam o voto do mesmo segmento;

– como a área eleitoral é a unidade da Federação, a campanha eleitoral é cara devido à extensão territorial;

– além disso, os candidatos nos estados têm de comprar, literalmente, o apoio de prefeitos e vereadores. Em todos os lugares, eles precisam contratar cabos eleitorais e pagar a “influenciadores”;

– levam vantagem os candidatos que têm muito dinheiro para a campanha ou uma base corporativa, religiosa ou territorial;

– os eleitos não estabelecem identidade com os eleitores, que pouco tempo depois da eleição nem lembram mais em quem votaram.

Há fórmulas de eleição que poderiam aumentar a representatividade dos deputados eleitos, possibilitar a identidade com os eleitores, vincular mais os candidatos aos partidos e a um programa e tornar as campanhas muito mais baratas, inclusive reduzindo substancialmente a influência do poder econômico. Em um debate qualificado, várias alternativas surgiriam. Mas, se assim está bom para os que se elegem, não serão eles que mudarão alguma coisa.

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