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Morte de cantor coreano reacende temor sobre suicídio de adolescentes

Fãs de Kim Jonghyun (foto em destaque) ainda choram pela perda do ídolo e pais temem que caso seja gatilho para jovens com depressão

Autor Juliana Cézar Nunes

atualizado

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1 de 1 Kim_Jonghyun_at_the_SHINee_Festival_Tour_in_Shanghai_03-840×577[1] - Foto: WIKIMEDIA COMMONS

A virada do ano mexe com as emoções e lembranças. O número de suicídios chega a aumentar 20%, segundo estimativas do Centro de Valorização da Vida (CVV). Para muitas famílias, a preocupação é ainda maior com os adolescentes. Em 2017, a onda da baleia azul tirou o sono dos pais. Em 2018, será preciso continuar alerta.

Há 18 dias, o astro sul-coreano Kim Jonghyun (foto em destaque), da banda Shinee, cometeu suicídio depois de anos sob a pressão de uma poderosa indústria de entretenimento. Aos 27 anos, Jonghyun foi encontrado morto em seu apartamento pela irmã mais velha, após intoxicação por monóxido de carbono. A morte do cantor levou muitos k-popers (amantes da cultura pop da Coreia) ao desespero em todo mundo. No Brasil, não foi diferente.

O funeral do cantor foi acompanhado pelo noticiário e pelas redes sociais. A mãe de duas adolescentes k-popers, moradoras de Brasília, escreveu um relato sobre o que a família passou nos dias que se seguiram e compartilhou entre amigas. Ela prefere não revelar sua identidade para preservar as meninas, mas faz um apelo: precisamos dialogar, dar atenção e carinho para nossos filhos e filhas.

“No dia da morte, ao chegar do trabalho, encontrei minhas filhas em um pranto aterrador. Elas choravam copiosamente, soluçavam. E eu, que tinha pensado que as encontraria muito tristes, me surpreendi com o que presenciei. Era como se eu tivesse morrido ou o pai delas, ou a avó, o avô. Para uma k-poper, um ídolo não é só um ídolo. É como se fosse o membro da família mais querido”, conta a mãe.

Uma das meninas, que vem sendo tratada de síndrome do pânico e tendência à depressão (após bullying na escola) passou horas trancada no quarto, cantando músicas do Shinee. Ela dizia: “por que você foi fazer isso, meu amor? Eu te amava tanto. Todo mundo te amava tanto.”

A paixão das irmãs pelas bandas da Coreia começou há dois anos. Desde então, elas aprenderam palavras em coreano, coloriram o cabelo como os ídolos e passaram horas infindáveis em busca de vídeos, fotos e informações sobre as bandas. As baladas românticas e as letras intimistas criam identificação imediata com uma grande parcela dos jovens, que também se identificam com a estética ousada dos artistas.

“Meu medo em meio a tudo isso? Que o desespero de Jonghyun tomasse conta da mente das minhas filhas a tal ponto de a mais velha, com seus problemas ainda em tratamento, chegasse à conclusão de que não valia mais a pena continuar”, confidencia a mãe. “Se um dos ídolos que ela mais ama, com toda sua beleza, inteligência, charme, fama e sucesso chegou a esse ponto, essa também não poderia ser uma opção para ela, se assim ela considerasse factível diante de algum sofrimento imenso?”, questiona.

A psicóloga Ananda Christina Alves Martins ressalta que é natural a morte de ídolos causar comoção. O problema no caso de Jonghyun é que mexe com as emoções do seu público principal: adolescentes.

“Essa fase acaba sendo mais complicada não apenas por questões hormonais. O adolescente é mais vulnerável pois não sabe ainda lidar com sentimentos, frustrações, cobranças e perdas”, explica Ananda.

Ela acrescenta: “Independentemente se um astro morreu ou não, os pais devem estar atentos aos sinais e não desmerecer o sentimento dos filhos. Se além da tristeza, o adolescente se isola e passa a falar de forma recorrente de morte, é importante procurar ajuda de um psicólogo.”

Juliana Cézar Nunes é jornalista, com especialização em Bioética e mestrado em Comunicação Social pela Universidade de Brasília (UnB).

Infografia/Metrópoles

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