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Distrito Federal registra 13 suicídios nos primeiros 19 dias de abril

Só na última segunda-feira (17/4), houve quatro casos. Dados foram obtidos com exclusividade pelo Metrópoles

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1 de 1 suicidio - Foto: iStock

Com a preocupante popularização do jogo Baleia Azul e o sucesso da série norte-americana “13 Reasons Why”, um tema geralmente tratado como tabu pelas autoridades e pela mídia tem voltado à tona: o suicídio. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde, a cada ano, 800 mil pessoas acabam com a própria vida. No Brasil são cerca de 12 mil ocorrências por ano. No Distrito Federal, o número de casos também preocupa.

Dados sigilosos obtidos com exclusividade pelo Metrópoles indicam que, em 2016, foram 191 casos no DF e, apenas nos primeiros 19 dias deste mês de abril, 13 pessoas cometeram suicídio na capital federal. Só na última segunda-feira (17/4), foram registrados quatro casos. Dois dias depois, uma mulher morreu após se jogar do 9º andar do prédio da Controladoria-Geral da União, no Setor de Autarquias Sul.

Entre as ocorrências atendidas na segunda (17), há uma variedade de perfis de vítimas. O primeiro caso foi o de um homem de 44 anos, que sofria de depressão após passar por uma cirurgia, no Itapoã. Já em Taguatinga Norte, a vítima foi uma mulher de 29 anos. O terceiro caso foi registrado no Riacho Fundo e levou a óbito uma mulher de 62 anos, que sofria de depressão. A última vítima foi um homem de 39 anos que também tinha a doença e passava por tratamento psiquiátrico.

Apesar do grande número de casos, o assunto continua sendo tratado como tabu na sociedade e pelo Estado. Acionada pelo Metrópoles, a Secretaria de Segurança Pública do DF afirmou que não tinha dados sobre o número de suicídios registrados na capital federal. O Corpo de Bombeiros também não costuma divulgar casos desse tipo.

Debate necessário
No entanto, negligenciar o tema não é a melhor forma de tratar do suicídio. Segundo a psicóloga Wenddie Dutra, “a discussão sobre esse assunto é muito importante, já que é um problema de saúde pública em nível mundial. Falar sobre o suicídio é essencial até para que o tema deixe de ser considerado tabu e passe a ser tratado como uma enfermidade”, argumenta.

De acordo com a psicóloga, no entanto, o tópico não pode ser abordado de qualquer maneira. “É essencial que o tema seja discutido com a complexidade que ele tem. A mídia, por exemplo, tem que expor os fatores que podem levar uma pessoa ao suicídio, as formas de prevenção e os locais que oferecem tratamento”, finaliza.

Depressão, esquizofrenia e o uso de drogas ilícitas são os principais problemas identificados pelos médicos em um potencial suicida. Problemas que poderiam ser tratados e evitados em 90% dos casos, segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria.

No Distrito Federal, o Centro de Valorização À Vida (CVV) oferece apoio gratuito a pessoas com depressão, 24 horas por dia. Os interessados podem entrar em contato pelo telefone, no número 141. Cerca de 50 voluntários atuam no local, que chega a receber uma média de 1 mil chamados por mês.

Baleia Azul
Com o surgimento de casos envolvendo o jogo “Baleia Azul” no Brasil, a preocupação com o suicídio, principalmente de adolescentes, também tem ficado maior. Na última sexta (21), uma família registrou ocorrência na Polícia Civil depois que a filha adolescente do casal sofreu ameaças ao desistir da competição. Supostamente criado na Rússia, o jogo propõe desafios aos participantes que vão desde uma maratona de filmes até a automutilação. A última tarefa é o suicídio.

Para a psicóloga Stéphanie Sabarense, especializada em terapia cognitivo-comportamental e com experiência em depressão e suicídio de adolescentes, não é possível apontar um único fator que explique a aderência cega desses jovens à tal “brincadeira”. Muito menos pode-se dizer que eles já possuíam tendências suicidas antes do encontro com o Baleia Azul.

“Não acho que seja a busca do suicídio propriamente dito”, sublinha. “Tem a ver com a procura por adrenalina, pelo proibido, que é própria do adolescente”, diz. A necessidade de autoafirmação, de diferenciação da família e de pertencimento a um grupo – qualquer que seja – também pode estar relacionada às aparentes “filas de espera” que essas comunidades têm para novos participantes.

Para a especialista, é importante que os pais tenham sempre controle do que crianças e adolescentes fazem na internet, além de atenção total à rotina do filho, se ele tem chegado em horários diferentes ou tem andado com grupos diferentes, por exemplo. “Hoje, as pessoas são muito ocupadas e deixam a educação dos filhos com a escola ou com psicólogos e não têm participação ativa na vida deles”, diz.

Infografia/Metrópoles

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