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Profissional “ciborgue”: como o ChatGPT vai mudar o mundo do trabalho

Especialistas afirmam que o ChatGPT não substituirá todo o trabalho humano, mas os profissionais terão de atuar em parceria com robôs

atualizado

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Andriy Onufriyenko/Getty Images
inteligência artificial
1 de 1 inteligência artificial - Foto: Andriy Onufriyenko/Getty Images

Você pode não perceber, mas a inteligência artificial (IA) já faz parte da sua vida cotidiana. Ela se faz presente quando sua caixa de e-mail bloqueia mensagens indesejadas, classificadas como spam. Ou quando sua assistente de voz dá informações sobre as condições meteorológicas e de trânsito antes de você sair de casa. No GPS que você utiliza para se locomover com o seu carro. E até mesmo nos filmes sugeridos nas diversas plataformas de streaming, de acordo com as suas preferências.

Com o ChatGPT, chatbot (robô de bate-papo) desenvolvido pela startup americana OpenAI, com apoio da Microsoft, a IA parece ter alcançado o “estado da arte”, com a produção de textos e informações sobre diversos assuntos – é possível conversar e até fazer amizade com o robô inteligente.

Como o Metrópoles mostrou, o modelo, que superou a marca de 100 milhões de usuários em apenas dois meses, pode significar o início de uma nova revolução digital, capaz de mudar a forma como lidamos com a tecnologia e como nos comunicamos. Nesse contexto, o mundo do trabalho não passa incólume e já começa a ser impactado.

Parceria entre homem e máquina

Segundo uma pesquisa do site de empregos Glassdoor, com 4,5 mil funcionários de gigantes como Amazon, Google, Twitter, Meta, JP Morgan e Bank of America, 30% dos profissionais revelaram já ter usado o robô inteligente da OpenAI no ambiente de trabalho.

No Brasil, até o momento, o meio jurídico se destaca como aquele que mais tem utilizado a IA nas atividades do dia a dia. Em linhas gerais, são trabalhos mais burocráticos, como análise de documentos, elaboração de memorandos e minutas de e-mails, contratos ou reuniões, avaliação de jurisprudência ou protocolação de processos judiciais.

“Hoje, o ChatGPT pode ser visto como uma espécie de estagiário, para quem você pede que sejam feitas algumas pesquisas, organizadas e apresentadas em forma de texto. A melhor maneira de entendermos o que representa hoje o ChatGPT é pensar nesse ajudante”, compara Isac Costa, professor do Ibmec e especialista em tecnologia.

Para Costa, o profissional do futuro – ou do presente, dada a importância cada vez maior da IA no cotidiano das empresas – não será ameaçado pelo ChatGPT, desde que aprenda a trabalhar em parceria com o robô digital.

“O profissional do futuro vai ser um ciborgue. Um misto entre o ser humano, com a capacidade analisar criticamente os resultados e direcionar o produto para o seu cliente, e a máquina, com uma capacidade de processar informações de forma muito mais acurada”, afirma Costa. “A IA não vai, necessariamente, substituir os profissionais. Mas nós, necessariamente, não vamos conseguir viver sem ela.”

O advogado Paulo Lilla, da área de Tecnologia, Proteção de Dados e Propriedade Intelectual do Lefosse, destaca a diminuição dos custos para os escritórios de advocacia e a maior otimização da força de trabalho como pontos positivos do uso da IA. “A IA otimiza o trabalho e diminui o custo para os próprios clientes. Em um futuro próximo, deve impactar até mesmo os custos dos honorários. Os clientes não vão mais aceitar pagar por trabalhos de repetição que hoje são feitos por advogados mais novos e poderiam ser feitos por ferramentas de IA”, aposta.

Um estudo do Boston Consulting Group (BCG) confirma essa avaliação, mostrando que um investimento inicial em ferramentas de IA dentro das empresas resulta em um ganho de até 6% em receita. Com investimentos crescentes na área, o aumento pode chegar a 20%.

“Uma equipe que hoje conta com cinco estagiários talvez precise de menos pessoas. Isso pode levar a uma maior eficiência em termos de otimização de equipe, o que é bom. Não vai diminuir a oferta de trabalho, mas vai forçar as pessoas a buscarem outras qualificações”, ressalta Paulo Lilla.

Lisa Worcman, sócia da prática de Tecnologia, Inovação e Negócios digitais do escritório Mattos Filho e sócia sponsor do Attix (plataforma que mapeia soluções tecnológicas inovadoras no mercado), entende que os advogados, sejam mais novos ou mais experientes, devem ser incentivados pelas empresas a incorporar a IA ao seu trabalho. “A tecnologia não vai substituir o trabalho do advogado, que é personalíssimo e envolve características humanas muito próprias. Mas é importante termos acesso ao que existe de mais inovador na IA”, afirma.

Paulo Lilla tem avaliação semelhante. “Essa discussão de que a máquina vai substituir os seres humanos não é nova. Isso norteou todo o século XX, quando tivemos uma revolução tecnológica”, observa. “A IA tem limitações. A máquina não pensa sozinha. Ela faz correlações, faz análise de dados e traz resultados que ajudam na tomada de decisões, mas tem uma limitação. Não vai substituir o ser humano. É um complemento.”

O empresário Tiago Morelli, criador do ZapGPT, iniciativa brasileira que integra a IA com o WhatsApp e já supera 100 mil usuários, também descarta a substituição completa do trabalho humano pelas máquinas. Ele afirma, no entanto, que quem não usar IA no trabalho ficará para trás e pode perder o bonde da história – e o emprego.

“Não vamos ser substituídos pela inteligência artificial, mas os profissionais que não a utilizarem para potencializar e aumentar a sua produtividade serão substituídos”, diz Morelli. “Quando você começa a interagir com a IA no seu dia a dia, para otimizar o trabalho que já fazia antes, o nível de produtividade aumenta absurdamente. A diferença é impressionante. É como se tivéssemos uma extensão de capacidades. Não tem como competir.”

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Educação e outras áreas

Além de mudar paradigmas no trabalho dos advogados, a IA afeta diversos segmentos. Na publicidade e no marketing, robôs inteligentes publicam conteúdo customizado nas redes sociais, de acordo com o tema escolhido, os objetivos, o público-alvo e até o tipo de linguagem desejada. Para os desenvolvedores de software, o ChatGPT dá sugestões de melhoria em códigos de programação e base de dados, o que diminui consideravelmente o tempo que os profissionais levam para executar certas atividades. Na saúde, médicos usam o robô para pesquisas e preparação de apresentações em congressos. Na comunicação, jornalistas podem consultar o ChatGPT para obter dados e informações para uma reportagem como esta, por exemplo.

Uma das maiores transformações causadas pela IA se dá na área educacional, inclusive com riscos ao aprendizado. Afinal, estudantes podem “colar” do ChatGPT para fazer provas ou trabalhos. Isac Costa, que também é professor, afirma que existe hoje “um pacto da mediocridade no ensino” e não se deve culpar a IA por eventuais plágios em avaliações escolares ou acadêmicas, por exemplo.

“Os professores fingem que ensinam, os alunos fingem que aprendem e as provas são meramente formais, com os professores pedindo para o aluno regurgitar um conteúdo padronizado que foi dado em aula. Com o ChatGPT, essa fraude é exposta. Muitos professores terão de rever seus métodos de ensino”, diz. “Se o professor passa uma avaliação e o aluno consegue, com o ChatGPT ou outras ferramentas, enganar o professor, então aquela avaliação é inadequada. As avaliações não devem considerar apenas o armazenamento de conhecimento”, prossegue Costa. “Essa avaliação mecânica e enciclopédica precisa acabar. Hoje você tem Alexa, Google e a informação está a um clique dos alunos.”

Segundo Tiago Morelli, seja na escola, nos consultórios, nas redações, nas agências de publicidade ou em qualquer outro ambiente de trabalho, “as pessoas têm de começar a utilizar o ChatGPT ou outro tipo de IA ‘para ontem’”. “A IA é uma oportunidade de produzir melhor e aprender mais rápido. É uma revolução, algo que não tínhamos visto até então. Com o tempo, não haverá uma profissão sequer que não seja impactada pela IA. Umas serão mais, outras menos, mas para qualquer uma delas a IA será útil.”

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