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Por que dados fracos da China trouxeram temores ao Brasil

China divulgou dados abaixo do esperado na atividade econômica. Potencial de impacto no Brasil ajudou dólar a superar R$ 5,10 na semana

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presidente da China, Xi Jinping sentado em mesa - metrópoles
1 de 1 presidente da China, Xi Jinping sentado em mesa - metrópoles - Foto: Lintao Zhang/Getty Images

A economia chinesa enviou sinais contraditórios aos mercados globais nesta semana e, apesar de dados positivos do Produto Interno Bruto (PIB), caminha para ter no horizonte um crescimento menor do que em anos de ouro nas décadas passadas.

No Brasil, economistas, empresas e governo estarão de olho nessas movimentações. O apetite de Pequim é chave nas contas nacionais: a China é desde 2009 o maior parceiro comercial do país e compra quase um terço das exportações brasileiras, perto de US$ 90 bilhões no ano passado.

Da leva de más notícias, dados na quarta-feira (31/5) mostraram que a atividade manufatureira chinesa caiu em maio para seu menor nível desde dezembro. O índice gerente de compras (o PMI), que funciona como uma prévia da atividade, ficou em 48,8, abaixo das expectativas. Um índice abaixo de 50 costuma ser sinal de alerta para uma atividade fraca.

Um dia depois, na quinta-feira (1º/6), o governo chinês informou que o PIB do país cresceu 4,5% no primeiro trimestre na comparação com o mesmo período de 2022. O mercado projetava alta menor, de 4%. Em efeito contrário ao do PMI no dia anterior, o número animou as bolsas globais nas horas seguintes.

Somou-se a isso a notícia de que a China pode divulgar um novo pacote de estímulos, possibilidade que fez ações de siderúrgicas e mineradoras dispararem. Na bolsa brasileira, Vale e CSN subiram mais de 4% cada só na sexta-feira (2/6).

“As siderúrgicas sobem forte acompanhando o movimento do minério de ferro, após divulgação de notícias sobre um possível novo pacote de estímulos da China para o seu mercado imobiliário”, explicou a Ativa Investimentos sobre a movimentação.

Apetite menor

Apesar do otimismo após o resultado do PIB, é dado como certo que a China não deve, sozinha, ser capaz de alavancar a economia global (e brasileira) como ocorreu nos anos 2000 e 2010. Na época, a China chegou a ter crescimento de dois dígitos.

Quanto mais a demanda na China acelera, mais sobem os preços internacionais de commodities que o Brasil exporta, como grãos, minério de ferro e petróleo.

Para este ano, a meta do governo chinês é crescer “apenas” 5%. A expectativa do mercado é que a alta possa chegar perto de 6%, mas nada além disso.

“Algumas mudanças de programas econômicos na China, irão reduzir, a longo prazo, o patamar de crescimento. Hoje, eles estão mais preocupados com o crescimento econômico de longuíssimo prazo do que com o desempenho de curto prazo, e isso vem redirecionando todo o esforço de investimento estatal. Como resultado, temos um crescimento estruturalmente menor”, diz o economista Sillas de Souza Cezar, professor de economia da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP).

Em vez de ações imediatas para acelerar a atividade econômica, o governo chinês tem focado, por exemplo, na produção e pesquisa de semicondutores, um dos insumos na batalha comercial com os Estados Unidos.

Risco ajudou a derrubar dólar

O risco de desaceleração na China chegou a derrubar a bolsa brasileira após a divulgação do PMI. O dólar atingiu sua maior cotação em dois meses na quarta-feira, quando voltou a ficar acima de US$ 5,10.

Há duas semanas, a China já havia acendido o alerta entre economistas ao divulgar dados abaixo do esperado para abril em indústria e varejo.

De lá para cá, analistas do banco Fibra calcularam que a desvalorização do real vista até meados desta semana se deveu sobretudo ao risco chinês. Grosso modo, com commodities tendo preço menor, entram menos dólares no Brasil e o real se desvaloriza.

“A razão fundamental por trás disso reside na desconfiança (que renasceu) de desaceleração da economia chinesa, ainda mais quando as expectativas de crescimento para 2023 se situam no forte intervalo entre 5,5% e 6,0%”, escreveu o economista-chefe do banco Fibra, Marco Maciel.

No curto prazo, a preocupação nos mercados foi em parte deixada de lado depois dos dados do PIB chinês e com o resultado forte do PIB brasileiro, e o dólar fechou a semana novamente abaixo de R$ 5. Mas as dúvidas seguem no radar.

Efeito chinês

Por ora, os chineses foram centrais em dois fatores que ajudaram o PIB brasileiro a crescer acima das expectativas no primeiro trimestre: as exportações da agropecuária e, de forma indireta, a demanda por commodities que ajudou os preços internacionais a baterem recorde nos últimos anos.

Para o futuro próximo, Cezar, da FAAP, aponta que chineses não vão deixar de comprar produtos brasileiros e que os investimentos diretos no Brasil já estão relativamente estruturados. O maior efeito é pela via indireta, com uma desaceleração da economia global.

“Uma desaceleração na China pode comprometer outros países que, diante de menores receitas de exportações, podem vir a comprar menos do Brasil ou também reduzirem seus investimentos”, explica Cezar.

A visão geral, no entanto, é que ainda não há um cenário totalmente negativo no horizonte. “Os efeitos não devem ser expressivos ao ponto de causar pânico”, diz o economista. Os próximos meses deixarão mais claros o quanto se poderá contar com o “efeito chinês” neste ano.

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