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Dividida, parte da indústria contesta destituição de líder da Fiesp

Grupo nega validade de assembleia que aprovou saída de Josué Gomes da Silva do cargo. Inédito, impasse na entidade deve terminar na Justiça

atualizado

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Fábio Vieira/Metrópoles
iamgem colorida presidente da fiesp josue gomes da silva vice presidente geraldo alckmin
1 de 1 iamgem colorida presidente da fiesp josue gomes da silva vice presidente geraldo alckmin - Foto: Fábio Vieira/Metrópoles

O grupo que apoia a permanência do empresário Josué Gomes da Silva à frente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) não aceitará o resultado da assembleia realizada nesta segunda-feira (16/1) na entidade. Na reunião, 47 sindicatos patronais votaram a favor da destituição de Silva do cargo. Houve somente um voto contra a medida.

Na prática, interlocutores de Silva contestam a validade da decisão. Eles argumentam que o empresário havia suspendido a reunião no fim da tarde. Depois disso, retirou-se do local acompanhado pelos líderes que o apoiam, em geral, ligados a setores de grande porte da indústria brasileira. Na sequência, o grupo de insurgentes, com a maioria entre representantes de sindicatos menores, abriu uma nova assembleia e deu início à votação.

Esse seria o motivo da contagem maciça contra Silva. Os grupos que contestam o resultado, no entanto, observam que os 47 votos dados a favor da destituição não representam nem sequer a metade dos 112 sindicatos patronais com direito a participar do pleito da Fiesp.

Com o impasse, o imbróglio inédito em curso na maior entidade empresarial do país tem tudo para terminar na Justiça. Mesmo porque os revoltosos argumentam que a deliberação na assembleia, que durou quatro horas e meia, foi válida.

Para essa turma, Josué Gomes deixou a Fiesp antes da votação final sem dar declarações e sem encerrar oficialmente a plenária. Para um advogado ligado aos sindicatos oposicionistas a reunião poderia prosseguir mesmo sem a presença do presidente da instituição.

Entenda a crise na Fiesp

A crise política na Fiesp teve início em outubro do ano passado, quando membros de sindicatos descontentes (eram 78, na época, depois passaram a ser 86) apresentaram um pedido de convocação de assembleia para tentar destituir Josué do cargo. Em reunião da diretoria no início de novembro, o presidente da Fiesp rechaçou a ofensiva, alegando que não havia elementos que justificassem a reunião.

O documento apresentado pelos sindicatos pedindo o encontro enumerava 12 itens com justificativas para a convocação da assembleia. Entre os motivos apresentados, estavam contestações sobre nomeações de assessores de Josué, além de críticas pela divulgação da carta “em defesa da democracia” durante a campanha eleitoral.

As declarações de Josué durante a campanha de 2022, simpáticas à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República, desagradaram os grupos da entidade que apoiavam o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

A decisão da Fiesp de divulgar a carta, em agosto, foi considerada um erro por atrelar a instituição à candidatura do petista. O documento teve apoio de apenas 14% dos sindicatos industriais.

A proximidade com Lula fez ainda com que Josué Gomes da Silva se tornasse o nome da preferência do presidente da República para assumir o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Em meados de dezembro, o presidente da Fiesp foi a Brasília e recebeu o convite formal de Lula para comandar a pasta. Em um primeiro momento, Josué não deu uma resposta ao petista e pediu um tempo para pensar. Dois dias depois, o empresário recusou o convite e decidiu viajar com a família para o exterior, onde passou a virada de ano.

Até receber o convite formal do presidente, Josué dizia a interlocutores e familiares que não pretendia assumir um cargo no governo federal e desejava permanecer à frente da Fiesp. Depois da conversa com Lula, em Brasília, o empresário cogitou aceitar o desafio, mas acabou optando, ao fim e ao cabo, por permanecer na Fiesp.

A eventual ida de Josué Gomes para o ministério de Lula era considerada uma espécie de “saída honrosa” do comando da Fiesp, em meio a uma grave crise política na federação.

Ontem, também na tentativa de dissuadir os opositores, a Fiesp organizou um evento que teve como convidados o vice-presidente, Geraldo Alckmin, e o ex-presidente Michel Temer (veja foto em destaque).

Quem é Josué Gomes da Silva

Empresário da Coteminas, Josué é filho de José Alencar (1931-2011), vice-presidente da República entre 2003 e 2010, nos dois governos de Lula.

Ele foi eleito presidente da Fiesp em julho do ano passado e assumiu o cargo em janeiro de 2022.

A candidatura de Josué ao comando da Fiesp teve o apoio de Skaf. Seu mandato à frente da entidade terminaria em 31 de dezembro de 2025.

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