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Como as habilidades digitais podem aumentar o seu salário (e o PIB)

O Metrópoles ouviu relatos de quem mergulhou no mundo da tecnologia e viu o salário triplicar; PIB pode crescer até R$ 325 bilhões por ano

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Qi Yang/ Getty Images
Mulher em pé em frente a uma tela com realidade aumentada - Metrópoles
1 de 1 Mulher em pé em frente a uma tela com realidade aumentada - Metrópoles - Foto: Qi Yang/ Getty Images

Nascida no pequeno município de Cruz, no litoral cearense, cidade de cerca de 25 mil habitantes localizada às margens do Rio Acaraú, Aurila Sabrina Alves tem 29 anos e uma filha de 10 – foi mãe muito jovem, aos 18 anos, e teve de interromper os estudos para cuidar da criança.

Durante a pandemia de Covid-19, com a intensificação do uso da tecnologia no dia a dia, decidiu buscar conhecimento na área e procurou cursos online para dar os primeiros passos. Vislumbrou ali uma oportunidade de carreira.

Em outubro do ano passado, Aurila se inscreveu no Desenvolve, um programa gratuito de formação e inclusão em tecnologia oferecido pelo Grupo Boticário a pessoas de baixa renda e a grupos minoritários.

Após três meses de curso, foi contratada e hoje faz parte do time de desenvolvedores da empresa. Sua renda mensal aumentou três vezes em relação ao que ganhava antes da imersão tecnológica.

“Começar a estudar tecnologia e estar trabalhando com isso hoje transformou a minha vida. Hoje eu posso fazer planos para o futuro, pensar no futuro da minha filha”, afirmou Aurila, em entrevista ao Metrópoles. “Estou construindo uma carreira sólida, e antes eu não tinha essa oportunidade. Eu posso pensar em como estarei como profissional daqui a cinco ou 10 anos, trabalhando com tecnologia”, completa.

O programa do Boticário oferece seis meses de aulas online, com carga semanal de 20 horas, além de acompanhamento e mentorias permanentes com profissionais do grupo. Durante o curso, os alunos também aprendem noções básicas de inglês e espanhol, têm acesso a conteúdos extras em eventos presenciais, participam de projetos e workshops sobre empregabilidade e, geralmente, recebem propostas de trabalho ainda durante o período de estudos, como aconteceu com Aurila. Mas conciliar a maternidade com o curso e o novo trabalho não foi fácil.

“O mercado de trabalho é ingrato com as mulheres e com as mulheres que são mães. Temos muita dificuldade por sermos mulheres, já tem uma diferença. Quando você é mãe, é maior ainda. E quando você é uma mãe que não conseguiu terminar os estudos nem fazer uma faculdade, isso gera um abismo”, relata. “Foi muito difícil no começo. Eu trabalhava oito horas por dia. Tive que sacrificar noites com a minha filha, fim de semana, datas comemorativas, mas sempre com a minha parceirinha do lado, sempre me incentivando.”

Aurila conta que sua maior incentivadora para os estudos foi a própria filha. “Foi um trato que eu fiz com ela, que me deu o maior incentivo para estudar, ficou muito feliz. E o fato de ser um trabalho remoto também me ajuda nisso. Eu consigo trabalhar de casa e acompanhar a minha filha. O benefício para uma mãe é indescritível. Quando temos esse tipo de oportunidade, isso preenche um pouco essa lacuna, esse abismo que existe”, diz.

“A minha renda triplicou. Antes do curso, o que eu ganhava dava para pagar o aluguel e a comida. Era isso, bem apertado, ainda mais com uma criança. Hoje, eu consigo dar mais oportunidades para a minha filha. Minha qualidade de vida melhorou muito”, afirma Aurila.

Como a tecnologia aumenta o salário e o PIB

Além dos efeitos positivos para os profissionais, que se qualificam e ampliam suas oportunidades de trabalho, o investimento em habilidades digitais também gera impacto sobre o Produto Interno Bruto (PIB) dos países. Uma pesquisa realizada pela Amazon Web Services (AWS) e pelo Gallup com 30 mil trabalhadores e 9,3 mil recrutadores em 19 países, entre os quais o Brasil, mostra que o aperfeiçoamento digital tem potencial para expandir o PIB brasileiro em cerca de R$ 325 bilhões por ano, por alavancar a renda e aumentar a produtividade da força de trabalho. Em relação ao PIB global, o crescimento estimado é de US$ 6 trilhões (R$ 31,7 trilhões) .

Segundo o levantamento, os profissionais brasileiros que possuem habilidades digitais avançadas (como arquitetura de nuvem, desenvolvimento de software e machine learning) recebem, em média, um salário 59% maior do que trabalhadores que ocupam funções similares, mas não têm as mesmas habilidades. Traduzindo em números, o rendimento extra pode chegar a R$ 32 mil por ano.

“Nós medimos o nível de habilidades digitais dos trabalhadores, se básico, intermediário ou avançado. Então, comparamos os salários recebidos por esses profissionais com outros profissionais que não possuíam nenhuma habilidade digital como parte do seu trabalho. Também levamos em consideração nível educacional, gênero, idade, entre outros fatores. Percebemos uma diferença salarial substancial favorável àqueles trabalhadores que tinham habilidades digitais”, explica Jonathan Rothwell, economista-chefe do Gallup, ouvido pelo Metrópoles.

“Esses trabalhadores ganham mais, em geral, porque efetivamente eles são mais produtivos. Na perspectiva das companhias, encontramos evidências de que as empresas que investem mais em tecnologia e em trabalhadores com boas habilidades digitais registram maiores lucros do que aquelas que não apresentam o mesmo grau de avanço digital”, prossegue Rothwell.

“Empresas podem, na prática, economizar dinheiro quando são mais eficientes e digitais. Para muitas empresas, o conteúdo online é o que mais vende. Nesse sentido, ter profissionais com habilidades digitais na linha de frente é muito relevante para a companhia.”

Segundo Cleber Morais, diretor-geral para o Setor Corporativo da AWS Brasil, o aumento da média salarial dos profissionais com habilidades digitais avançadas é uma dinâmica natural da nova realidade do mercado de trabalho. “Isso tem a ver com a lei da oferta e da procura. A partir do momento em que há uma necessidade de entrada no mercado da tecnologia e uma disputa no mercado por pessoas capacitadas, isso faz com que a média salarial aumente”, afirma. “Não só a média salarial, mas a satisfação do funcionário por estar recebendo uma capacitação, aprendendo novas tecnologias.”

“A correlação entre o desenvolvimento de habilidades digitais avançadas e o PIB vem sendo um grande diferencial para vários países que têm adotado essa transformação digital como um arcabouço de crescimento dos seus negócios”, completa Morais.

Um dos desafios das empresas que investem cada vez mais na formação digital de seus funcionários e colaboradores é a escassez de talentos. A pesquisa aponta que 76% das companhias enfrentam algum tipo de dificuldade para encontrar profissionais com o perfil desejado. Metade delas diz que faltam candidatos com os atributos procurados.

“As empresas vêm tentando, de fato, preencher vagas nesse segmento, mas esbarram em uma oferta ainda muito pequena para essas posições”, diz Rothwell. “Há uma série de elementos que indicam que ainda não há um número suficiente de profissionais que tenham esse nível avançado de habilidades digitais demandado pelas empresas atualmente.”

“Mudou totalmente a minha vida”

Assim como aconteceu com Aurila, a especialização em tecnologia transformou a vida de Naiara Gomes, de 26 anos. Natural de Feira de Santana, na Bahia, graduada em Ciências Contábeis e com 10 anos de experiência profissional na área quando decidiu fazer um curso para se capacitar digitalmente, ela teve de encarar uma dura jornada após se inscrever no Desenvolve, conciliando o trabalho em horário comercial – única fonte de renda da família – com os estudos. Após três meses, foi contratada pelo Boticário, empresa na qual atua como desenvolvedora web.

“Foi muito difícil. Eu trabalhava em tempo integral e, quando chegava em casa, precisava estudar. Foi bem puxado, eu senti bastante nos primeiros dias. Mas eu sabia que era uma oportunidade que precisava agarrar, que eu poderia mudar de vida. Foi justamente o que aconteceu”, conta Naiara. “Hoje eu sinto que tenho uma formação. Era tudo de que eu precisava para mergulhar de cabeça em um mercado tão amplo, que abre tantas possibilidades em tecnologia. Eu tenho hoje uma carreira em tecnologia por causa desse curso e me sinto preparada para encarar qualquer desafio.”

Além do desenvolvimento como profissional, Naiara teve um retorno financeiro significativo e rápido. “Mudou totalmente a minha vida. Eu recebia um salário mínimo e meio e minha renda triplicou por causa do curso e dessa formação”, diz. “As pessoas devem acreditar e se esforçar para isso. Não é fácil, mas é muito possível. Eu não sabia uma linha de código quando comecei o curso e me dediquei e estudei muito. Deu tudo certo. O mercado de tecnologia veio para mudar a vida de todo mundo.”

O discurso de Naiara sobre os benefícios trazidos pelo desenvolvimento em habilidades digitais encontra eco na voz de Aurila – que, além de cuidar da filha, também ajuda os pais e irmãos. “Ter uma profissão, conseguir se desenvolver, pensar que hoje eu estou no começo da carreira como desenvolvedora e vou continuar aprendendo e progredindo é muito bom”, afirma, emocionada. “Com o tempo, eu posso dar um futuro ainda melhor para a minha filha e ter melhores oportunidades para mim, para ela e para toda a minha família.”

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