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“Brasil precisa de reforma, não de estímulos pontuais”, diz economista

Maurício F. Bento, diretor do Instituto de Formação de Líderes de SP, diz que pacote para indústria automotiva não terá impacto estrutural

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1 de 1 Imagem colorida de indústria automobilística - Foto: Getty Images

As medidas de incentivo à indústria automobilística anunciadas no início da noite desta segunda-feira (5/5) pelo governo federal podem funcionar no curto prazo, mas não têm capacidade de causar efeitos estruturais no setor.

A avaliação é do economista Maurício F. Bento, diretor do Instituto de Formação de Líderes de São Paulo (IFL-SP), com passagens pelo Charles Koch Institute (EUA) e pela Escola Paulista de Contas Públicas do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP).

O programa prevê desconto de R$ 2 mil a R$ 8 mil no preço final de carros, além de subsídios para a redução do valor de caminhões. O governo pretende gastar cerca de R$ 1,5 bilhão com o pacote: R$ 500 milhões para carros, R$ 700 milhões para caminhões e R$ 300 milhões para vans e ônibus.

“É um programa relativamente pequeno. O que se espera é que talvez aumente a compra de carros e caminhões em um primeiro momento, mas não dá para dizer que haverá um efeito estrutural para a indústria”, afirma Bento. “É apenas um estímulo de curto prazo. Você pega R$ 700 milhões, subsidia essa compra, mas não necessariamente há um impacto de longo prazo.”

Para o diretor do IFL-SP, o governo federal deveria concentrar seus esforços na aprovação da reforma tributária, em vez de levar a cabo “medidas pontuais de estímulo”.

“O Brasil precisa pensar em reformas, não em estímulos pontuais. O que mudou o país de patamar nas últimas décadas foi uma agenda de reformas e não simplesmente programas de incentivos. Esse tipo de pacote que o governo anunciou hoje é uma medida fiscal expansionista”, diz o economista.

“Sabemos que tem um efeito de curto prazo. Você dá subsídio para trocar caminhão, comprar ônibus, as empresas vão renovar suas frotas… Pode aumentar as vendas no curto prazo, mas não garante que esses efeitos permanecerão em 2024, 2025 e para frente”, afirma Bento.

“Para você manter a atividade da indústria em um nível permanentemente mais elevado, precisa mudar o patamar do país. E essa mudança de patamar só vem com uma agenda de reformas”, conclui.

Questão fiscal

Em um momento no qual a equipe econômica trabalha pela aprovação do novo marco fiscal, que já passou na Câmara e ainda precisa ser analisado no Senado, o pacote para a indústria automobilística coloca ainda mais pressão sobre as contas públicas, alerta Bento.

“Uma questão muito relevante para o país hoje é a questão fiscal. O governo está muito apertado há alguns anos”, destaca o diretor do IFL-SP. “Este governo já deu reajustes para servidores, já anunciou concursos públicos, já aumentou gastos sociais, já aumentou subsídios e agora lança um programa para o setor automobilístico. Qual será o impacto fiscal disso tudo? É uma incógnita.”

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