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Bancos fecham o cerco e empurram Americanas para recuperação judicial

O BTG Pactual obteve na Justiça o direito de bloquear R$ 1,2 bilhão da Americanas; é questão de tempo até que outros bancos façam o mesmo

atualizado

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Lemann e Esteves
1 de 1 Lemann e Esteves - Foto: Reprodução/Divulgação

A decisão da Justiça do Rio de Janeiro que garantiu ao BTG Pactual o direito de bloquear R$ 1,2 bilhão da Americanas, como contrapartida para o pagamento de dívidas, deixa a varejista em uma situação complicada.

O valor, em si, não é tão representativo, diante de um passivo total que deve ultrapassar os R$ 40 bilhões. O problema aqui é que o BTG provavelmente abriu o caminho para outros bancos também executarem dívidas e bloquearem recursos da Americanas, o que pode inviabilizar a operação da varejista e empurrá-la de vez para uma recuperação judicial.

Por recuperação judicial entende-se um rito formal percorrido por uma empresa que, muito endividada, chama seus credores para conversar e tentar renegociar e alongar os débitos. Caso não haja acordo, então a empresa estará em processo de falência.

Advogados ouvidos pelo Metrópoles dizem que, embora reversível, a decisão que beneficia o banco de André Esteves pode apressar o ingresso da Americanas no processo de recuperação judicial. Outros bancos, como Goldman Sachs e Bank of America (BofA) já ingressaram com pedidos similares ao do BTG para congelar recursos da varejista.

Nos próximos dias, a Americanas deve recorrer para tentar reverter os efeitos do bloqueio de recursos, e é possível que seja atendida. Mas o litígio promete ser longo, com os bancos tentando anular essa proteção a todo custo.

Com o dinheiro preso, é praticamente impossível operar uma empresa de varejo, que depende essencialmente da compra produtos de fornecedores e venda a consumidores. Ainda mais porque, diante do escândalo, muitos fornecedores já decidiram que só venderão para a Americanas mediante pagamento à vista.

“Que a Americanas entraria em recuperação judicial já era quase certo, mas a decisão de hoje a coloca em uma posição completamente diferente na mesa de negociação”, diz um advogado com experiência em processos de recuperação judicial.

Litígio

A briga na Justiça também dá sinais de que os bancos não estão dispostos a uma negociação amigável. A petição protocolada pelo BTG na Justiça para garantir a execução da dívida tem um tom muito duro – capaz até de causar estranheza em parte do mundo jurídico.

Na ação, o banco acusa os sócios de referência da Americanas, os bilionários Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles, de terem um papel ativo no problema contábil identificado no balanço da varejista.

“O caso em questão é a triste epítome de um país. Os três homens mais ricos do Brasil, ungidos como uma espécie de semideuses do capitalismo mundial ‘do bem’, são pegos com a mão no caixa daquela que, desde 1982, é uma das principais companhias do trio”, diz um trecho do pedido de liminar do BTG.

Além da participação na Americanas, os bilionários são sócios da Ambev e Kraft Heinz.

A narrativa acima do tom foi interpretada como uma tentativa de desgastar a imagem de Lemann, Sicupira e Telles. Pressionado, o trio poderia topar colocar dinheiro na Americanas, para remediar o endividamento e, assim, estancar rapidamente a crise.

Os bancos desejam que eles façam uma capitalização (injeção de recursos na empresa, por meio da compra de novas ações) de mais de R$ 10 bilhões. Até agora, a contraproposta do 3G que estaria à mesa seria de R$ 6 bilhões, valor considerado insuficiente pelos bancos, dado o tamanho do estrago.

O desentendimento sobre os valores é outro sintoma de que a conversa só será resolvida em um plano de recuperação judicial. Pela forma com que o BTG e os outros bancos tentam encurralar a Americanas, é possível que isso aconteça mais rápido do que se imagina.

Dívida é pagável?

O drama da situação atual é que a geração de caixa da Americanas não parece ser suficiente para fazer frente a uma dívida tão grande quanto a de R$ 40 bilhões.

“Cálculo básico: o Brasil tem juros básicos na casa dos 14%, então uma dívida de R$ 40 bilhões gera um custo financeiro de mais de R$ 4 bilhões ao ano. A Americanas não gera nem R$ 2 bilhões de caixa anualmente. É uma conta que não fecha”, explica um analista do mercado financeiro que pediu anonimato.

Os números parecem dizer que, sim, a Americanas deve entrar em recuperação judicial logo e, sim, é possível que nem as facilidades de negociação providas por um processo de recuperação judicial sejam suficientes para a empresa alongar e pagar suas dívidas.

Se na semana passada, quando a empresa admitiu que tem uma diferença contábil de R$ 20 bilhões em seu balanço (daí a raiz de todos os problemas e da multiplicação da dívida), parecia muito improvável que um negócio do tamanho da Americanas viesse a falir.

Agora os investidores, gestores e analistas já não acreditam mais na tese de “too big to fail” (ou, traduzindo a expressão em inglês, grande demais para falir).

É esperado que, com uma dívida desse tamanho, a Americanas seja obrigada a vender parte de seus negócios. Entre os prováveis candidatos a negociação estão o Hortifruti Natural da Terra, adquirido pela varejista em 2021, e uma rede de conveniência de postos de combustíveis.

A questão é que, se vender esses negócios, a Americanas terá menos fontes de receita e a geração de caixa tende a ser menor ainda. Com menos caixa, menor a chance de pagar as dívidas. É um círculo vicioso.

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