Zelensky rebate Putin e mostra otimismo na negociação de cessar-fogo
Antes, Putin praticamente descartou a possibilidade e afirmou que a Ucrânia não “demonstra atitude séria” nas conversas
atualizado

Uma guerra não fica somente no front militar. As narrativas distintas fazem parte do conflito. Os presidentes Volodymyr Zelensky, da Ucrânia, e Vladimir Putin, da Rússia, protagonizaram mais uma vez lados antagônicos na noite desta terça-feira (15/3).
Zelensky demonstrou otimismo com as negociações de um possível cessar-fogo. Antes, Putin praticamente descartou a possibilidade.
“As reuniões continuam. Disseram-me que as posições nas negociações parecem mais realistas. No entanto, ainda é necessário mais tempo para que as decisões sejam do interesse da Ucrânia”, defendeu o ucraniano, em pronunciamento gravado.
Cercado de pressão por todos os lados, Putin, que ordenou a invasão e os bombardeios em 24 de fevereiro, não se mostra disposto a recuar.
Em comunicado oficial divulgado pelo Kremlin, sede do governo russo, Putin afirmou que a Ucrânia não “demonstra atitude séria” nas negociações por uma solução para o conflito que já dura 20 dias.

A relação conturbada entre Rússia e Ucrânia, que desencadeou conflito armado, tem deixado o mundo em alerta para uma possível grande guerra Anastasia Vlasova/Getty Images

A confusão, no entanto, não vem de hoje. Além da disputa por influência econômica e geopolítica, contexto histórico que se relaciona ao século 19 pode explicar o conflito Agustavop/ Getty Images

A localização estratégica da Ucrânia, entre a Rússia e a parte oriental da Europa, tem servido como uma zona de segurança para a antiga URSS por anos. Por isso, os russos consideram fundamental manter influência sobre o país vizinho, para evitar avanços de possíveis adversários nesse local Pawel.gaul/ Getty Images

Isso porque o grande território ucraniano impede que investidas militares sejam bem-sucedidas contra a capital russa. Uma Ucrânia aliada à Rússia deixa possíveis inimigos vindos da Europa a mais de 1,5 mil km de Moscou. Uma Ucrânia adversária, contudo, diminui a distância para pouco mais de 600 km Getty Images

Percebendo o interesse da Ucrânia em integrar a Otan, que é liderada pelos Estados Unidos, e fazer parte da União Europeia, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, ameaçou atacar o país, caso os ucranianos não desistissem da ideia Andre Borges/Esp. Metrópoles

Uma das exigências de Putin, portanto, é que o Ocidente garanta que a Ucrânia não se junte à organização liderada pelos Estados Unidos. Para os russos, a presença e o apoio da Otan aos ucranianos constituem ameaças à segurança do país Poca/Getty Images

A Rússia iniciou um treinamento militar junto à aliada Belarus, que faz fronteira com a Ucrânia, e invadiu o território ucraniano em 24 de fevereiro Kutay Tanir/Getty Images

Por outro lado, a Otan, composta por 30 países, reforçou a presença no Leste Europeu e colocou instalações militares em alerta OTAN/Divulgação

Apesar de ter ganhado os holofotes nas últimas semanas, o novo capítulo do impasse entre as duas nações foi reiniciado no fim de 2021, quando Putin posicionou 100 mil militares na fronteira com a Ucrânia. Os dois países, que no passado fizeram parte da União Soviética, têm velha disputa por território AFP

Além disso, para o governo ucraniano, o conflito é uma espécie de continuação da invasão russa à península da Crimeia, que ocorreu em 2014 e causou mais de 10 mil mortes. Na época, Moscou aproveitou uma crise política no país vizinho e a forte presença de russos na região para incorporá-la a seu território Elena Aleksandrovna Ermakova/ Getty Images

Desde então, os ucranianos acusam os russos de usar táticas de guerra híbrida para desestabilizar constantemente o país e financiar grupos separatistas que atentam contra a soberania do Estado Will & Deni McIntyre/ Getty Images

O conflito, iniciado em 24 de fevereiro, já impacta economicamente o mundo inteiro. Na Europa Ocidental, por exemplo, países temem a interrupção do fornecimento de gás natural, que é fundamental para vários deles Vostok/ Getty Images

Embora o Brasil não tenha laços econômicos tão relevantes com as duas nações, pode ser afetado pela provável disparada no preço do petróleo Vinícius Schmidt/Metrópoles
O líder russo fez as declarações em conversa telefônica com o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, de acordo com comunicado divulgado pelo Kremlin.
Putin também alegou que os líderes da União Europeia ignoraram as “ações criminais e desumanas” de forças militares ucranianas em Donetsk, onde teriam realizado um ataque com mísseis a uma área residencial.
O presidente russo trata a guerra como uma “operação especial na Ucrânia”. “Kiev não demonstra uma atitude séria para encontrar soluções mutuamente aceitáveis”, afirma o Kremlin.
Apelo
Michel declarou que enfatizou a “urgente necessidade” de encerrar a guerra durante a conversa com Putin. “A União Europeia está unida na condenação da agressão da Rússia, respondendo com sanções poderosas e fornecendo mais apoio à Ucrânia”, defendeu.
O presidente do Conselheiro Europeu pediu que Moscou retire as tropas do país vizinho, em um cessar-fogo imediato, e que Putin pare o “bombardeio indiscriminado” de civis. “A Rússia deve permitir urgentemente o acesso humanitário e a passagem segura”, solicitou.
Negociação fracassa
Nesta terça, fracassou novamente uma tentativa de atingir a paz. A reunião entre representantes dos presidentes Vladimir Putin, da Rússia, e Volodymyr Zelensky, da Ucrânia, terminou sem consenso, e os bombardeios no Leste Europeu continuarão.
O porta-voz ucraniano, Mykhailo Podoliyak, confirmou que um novo encontro ocorrerá nesta quarta-feira (16/3) – será a sexta tentativa de acordo.
“Vamos continuar amanhã. Um processo de negociação muito difícil. Existem contradições fundamentais. Mas definitivamente há espaço para concessões. Durante o intervalo, o trabalho continuará em subgrupos”, informou.
A negociação do cessar-fogo foi retomada após o encontro de segunda-feira (14/3) acabar com uma “pausa técnica”. Um formalismo que significa falta de concordância político-diplomática.
Biden vai à Europa
O recrudescimento da guerra fez o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, mudar de ideia e viajar à Europa. O norte-americano participará de uma reunião emergencial da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), na próxima semana.
A viagem é simbólica e estratégica. A intenção de Biden é demonstrar união e fazer com que o presidente russo, Vladimir Putin, recue. Além disso, o norte-americano negociará com líderes europeus mais sanções econômicas contra a Rússia.
Será a primeira visita de Biden ao continente após o início da guerra na Ucrânia, em 24 de fevereiro. A cúpula da aliança militar se reúne, em Bruxelas, em 24 de março.
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“Vamos abordar a invasão da Ucrânia pela Rússia, nosso forte apoio à Ucrânia, e fortalecer ainda mais a dissuasão e a defesa da Otan”, anunciou o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, ao ressaltar que o momento é “crítico”.
A porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, deu detalhes do que Biden fará. “Enquanto ele estiver lá, seu objetivo é se encontrar pessoalmente com seus colegas europeus e conversar, avaliar onde estamos neste momento do conflito na invasão da Ucrânia pela Rússia. Estamos incrivelmente alinhados até hoje”, adiantou.