A censura é uma realidade na Rússia. Porém, nos últimos dias o regime do presidente Vladimir Putin tem aumentado o nível de restrições contra a imprensa profissional. O objetivo é achatar a já combalida cobertura da guerra na Ucrânia.
O cerceamento tem afetado o funcionamento de jornais e profissionais de imprensa estão deixando o país. O Ministério da Justiça da Rússia e o órgão regulador de mídia russo Roskomnadzor restringiram o conteúdo do jornal alemão Bild e da rede de comunicação pública alemã Deutsche Welle — parceira do Metrópoles.
O governo russo classificou os veículos de comunicação como “agentes estrangeiros”. Na prática, o rótulo cerceia a atuação de meios de imprensa no país.
A punição obriga os veículos a indicar o rótulo em todas as publicações e apresentar demonstrativos financeiros e relatórios de atividades ao governo russo.
O diretor da Deutsche Welle para Rússia, Ucrânia e Europa Oriental, Christian Trippe, reclamou do cerceamento, mas garantiu a continuidade dos trabalhos.
“Nós, jornalistas, continuaremos a fazer o nosso trabalho e fornecer informações confiáveis para nosso público-alvo na Rússia”, informou em comunicado.
Jornal suspenso
O jornal independente Novaya Gazeta suspendeu a circulação até o fim da guerra na Ucrânia. Antes, a publicação sofreu dois alertas do governo russo.
“Recebemos outro aviso do Roskomnadzor. Depois disso, estamos suspendendo a publicação no site, em formato digital e impresso, até o fim da ‘operação especial no território da Ucrânia’”, disse o conselho editorial do Novaya Gazeta em nota.
O recrudescimento da censura ocorre após entrevista do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, à imprensa russa. A reprodução foi “desaconselhada”.
Por outro lado, coletivo de jornalistas ucranianos afirma que o governo tem criminalizado jornalistas, os responsabilizando pelos recentes ataques russos que atingiram pontos estratégicos do país.

A relação conturbada entre Rússia e Ucrânia, que desencadeou conflito armado, tem deixado o mundo em alerta para uma possível grande guerraAnastasia Vlasova/Getty Images

A confusão, no entanto, não vem de hoje. Além da disputa por influência econômica e geopolítica, contexto histórico que se relaciona ao século 19 pode explicar o conflito Agustavop/ Getty Images

A localização estratégica da Ucrânia, entre a Rússia e a parte oriental da Europa, tem servido como uma zona de segurança para a antiga URSS por anos. Por isso, os russos consideram fundamental manter influência sobre o país vizinho, para evitar avanços de possíveis adversários nesse localPawel.gaul/ Getty Images

Isso porque o grande território ucraniano impede que investidas militares sejam bem-sucedidas contra a capital russa. Uma Ucrânia aliada à Rússia deixa possíveis inimigos vindos da Europa a mais de 1,5 mil km de Moscou. Uma Ucrânia adversária, contudo, diminui a distância para pouco mais de 600 kmGetty Images

Percebendo o interesse da Ucrânia em integrar a Otan, que é liderada pelos Estados Unidos, e fazer parte da União Europeia, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, ameaçou atacar o país, caso os ucranianos não desistissem da ideiaAndre Borges/Esp. Metrópoles

Uma das exigências de Putin, portanto, é que o Ocidente garanta que a Ucrânia não se junte à organização liderada pelos Estados Unidos. Para os russos, a presença e o apoio da Otan aos ucranianos constituem ameaças à segurança do paísPoca/Getty Images

A Rússia iniciou um treinamento militar junto à aliada Belarus, que faz fronteira com a Ucrânia, e invadiu o território ucraniano em 24 de fevereiroKutay Tanir/Getty Images

Por outro lado, a Otan, composta por 30 países, reforçou a presença no Leste Europeu e colocou instalações militares em alerta OTAN/Divulgação

Apesar de ter ganhado os holofotes nas últimas semanas, o novo capítulo do impasse entre as duas nações foi reiniciado no fim de 2021, quando Putin posicionou 100 mil militares na fronteira com a Ucrânia. Os dois países, que no passado fizeram parte da União Soviética, têm velha disputa por territórioAFP

Além disso, para o governo ucraniano, o conflito é uma espécie de continuação da invasão russa à península da Crimeia, que ocorreu em 2014 e causou mais de 10 mil mortes. Na época, Moscou aproveitou uma crise política no país vizinho e a forte presença de russos na região para incorporá-la a seu territórioElena Aleksandrovna Ermakova/ Getty Images

Desde então, os ucranianos acusam os russos de usar táticas de guerra híbrida para desestabilizar constantemente o país e financiar grupos separatistas que atentam contra a soberania do EstadoWill & Deni McIntyre/ Getty Images

O conflito, iniciado em 24 de fevereiro, já impacta economicamente o mundo inteiro. Na Europa Ocidental, por exemplo, países temem a interrupção do fornecimento de gás natural, que é fundamental para vários delesVostok/ Getty Images

Embora o Brasil não tenha laços econômicos tão relevantes com as duas nações, pode ser afetado pela provável disparada no preço do petróleo Vinícius Schmidt/Metrópoles
Negociações de paz
Nesta terça-feira (29/3), representantes russos e ucranianos se reúnem em Istambul, na Turquia, para negociar um possível acordo de paz. O encontro ocorreria nessa segunda-feira (28/3), mas a delegação russa não chegou a tempo.
Tropas russas controlam a parte norte de Kiev, capital ucraniana e coração do poder. A informação foi confirmada por Zelensky.
“As tropas russas controlam o norte de Kiev, têm recursos e mão de obra. Eles estão tentando restaurar as unidades destruídas”, admitiu em pronunciamento.
O líder ucraniano afirmou que Chernihiv, Sumy, regiões de Kharkiv e Donbas, no sul da Ucrânia, vivem uma situação “tensa , muito difícil”.