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Donald Trump é o presidente errado para nosso país, diz Michelle Obama

Ex-primeira-dama americana encerra primeira noite da Convenção Nacional Democrata com um discurso comovente aos eleitores

atualizado

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Anda Chu/Digital First Media/The Mercury News via Getty Images
Michelle Obama
1 de 1 Michelle Obama - Foto: Anda Chu/Digital First Media/The Mercury News via Getty Images

Em um discurso contundente, a ex-primeira-dama dos Estados Unidos Michelle Obama condensou a mensagem da primeira noite de convenção democrata. “Deixe-me ser o mais honesta e clara que eu puder: Donald Trump é o presidente errado para nosso país”, afirmou, no evento que confirmará Joe Biden como candidato democrata à Casa Branca.

A fala de Michelle foi o clímax de uma noite que, como ela, explorou o tom emocional. Trump foi apresentado nos discursos como um grande risco ao país, pela ameaça à democracia, à saúde da população e à economia americana, além de postura divisiva. A chapa composta por Biden e Kamala Harris, por sua vez, foi apresentada como a solução para tirar os Estados Unidos da crise.

“Ele teve tempo mais do que suficiente para provar que pode fazer o trabalho, mas ele está claramente perdido. Ele não está à altura do momento, simplesmente não pode ser quem ele precisa ser para nós. É o que é”, disse Michelle. Há poucos dias, Trump usou a frase “é o que é” para responder a uma pergunta sobre a alta taxa de mortalidade por covid-19 nos EUA.

O evento de quatro dias é online neste ano, em razão das restrições de reunião de pessoas durante a pandemia de coronavírus. Em discurso gravado, Michelle pediu que os eleitores que não votaram em 2016 porque não se empolgaram por Hillary Clinton saiam de casa desta vez para eleger Biden.

“Sempre que olhamos para a Casa Branca em busca de alguma liderança ou consolo ou qualquer semblante de estabilidade, o que recebemos é caos, divisão e uma falta de empatia total e absoluta”, disse Michelle.

Desde o final de 2018, quando lançou o livro “Minha História”, Michelle Obama tem tido um papel poderoso entre o eleitorado democrata. Enquanto Barack Obama se limita a aparições cirúrgicas, Michelle ocupou espaços em praticamente todas as plataformas: livro, turnê de lançamento da obra em proporção similar a show de estrela pop, documentário e, mais recentemente, podcast.

Ela repete que não gosta de política – na noite de ontem, disse que “odeia” – e usa sua experiência pessoal para se conectar com o público. A receita fez da ex-primeira dama uma das figuras mais populares do partido.

O tom anti-Trump e a favor de uma unificação deixou pouco espaço para a discussão de propostas da campanha democrata. Além da moderada e carismática Michelle Obama, os pontos-chave da estreia do partido democrata foram o comprometimento de Bernie Sanders com a eleição de Biden e a aparição de quatro republicanos entre os presentes.

Sanders prometeu trabalhar “até com conservadores” para derrotar o “autoritarismo” de Trump. A posição do senador independente, que teve destaque na programação de ontem, marca um claro contraste com sua postura de 2016, quando questionou nos bastidores a legitimidade da indicação de Hillary Clinton.

Tendo no mesmo evento Sanders, baluarte da ala progressista, e republicanos de longa data, como o ex-governador de Ohio, John Kasich, o partido buscava mostrar que o sentimento anti-Trump une esquerda e direita. “Em tempos normais, algo assim provavelmente não aconteceria. Mas estes não são tempos normais”, disse Kasich, acompanhado de outras três republicanas: a ex-governadora de Nova Jersey, Christine Whitman; a executiva e ex-candidata ao governo da Califórnia Meg Whitman; e a ex-deputada por Nova York Susan Molinari.

Vídeos de pessoas comuns contando suas histórias eram intercalados com os discursos políticos. Os depoimentos muitas vezes não eram de eleitores tipicamente democratas, em um aceno aos independentes e moderados. Kristin Urquiza, uma jovem cujo pai de 65 anos morreu de covid-19, deu o mais forte testemunho contra Trump. Ao contar sobre a morte do pai, disse que ele era saudável. “Sua única condição (doença) preexistente era confiar em Donald Trump. E por isso ele pagou com sua vida”, disse Kristin.

O irmão de George Floyd, Philonis Floyd, também fez uma aparição, que foi seguida de um minuto de silêncio. “George deveria estar vivo hoje”, disse sobre o irmão, negro, morto por policiais brancos em Mineápolis em maio. A questão racial foi parte importante do programa no primeiro dia da convenção, em um esforço do partido para mostrar diversidade, uma plataforma crucial para a campanha de Biden.

Duas democratas negras estiveram entre os primeiros discursos da noite: Gwen Moore, deputada de Wisconsin, e a prefeita de Washington, Muriel Bowser, que fez a transmissão na praça Black Lives Matter, ponto de encontro dos protestos antirracismo de junho. As duas chamaram Kamala Harris de “irmã”, reforçando a importância de ter a primeira candidata a vice-presidente negra em um grande partido. Michelle Obama não fez menção ao nome de Kamala. Segundo a CNN, o vídeo da ex-primeira dama foi gravado antes do anúncio de Biden sobre a escolha da vice.

Voto

Diante das investidas de Trump contra a ampliação do voto pelo correio, os democratas pediram empenho dos eleitores para votar. “Nós temos que vestir nossos sapatos confortáveis, colocar nossas máscaras, pegar uma sacola com jantar e talvez café da manhã também, porque nós precisamos estar dispostos a ficar na fila uma noite inteira se for preciso”, disse Michelle Obama. Na semana passada, Barack Obama já tinha pedido que os americanos votassem o mais cedo possível para evitar problemas.

“Durante o mandato deste presidente, o impensável se tornou normal. Ele tentou impedir que as pessoas votassem, minou o serviço postal dos EUA, posicionou os militares e agentes federais contra manifestantes pacíficos, ameaçou atrasar as eleições e sugeriu que não deixaria o cargo se perder. Isso não é normal e não devemos tratar como se fosse”, disse Bernie Sanders. As senadoras Catherine Cortez Mastro, de Nevada, e Amy Klobuchar, de Minnesota, também defenderam o sistema de voto por correio — adotado em todos os estados e ampliado neste ano em razão da pandemia.

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