metropoles.com

Diretor de memorial do Holocausto irá à Alemanha pela 1ª vez

Após relutância, diretor-executivo do Yad Vashem de Israel viajará ao país europeu. Ele alerta para o ressurgimento do antissemitismo

atualizado

Compartilhar notícia

Alex Kolomoisky/Yad Vashem
Foto colorida do diretor de memorial do Holocausto - Metrópoles
1 de 1 Foto colorida do diretor de memorial do Holocausto - Metrópoles - Foto: Alex Kolomoisky/Yad Vashem

O diretor-executivo do memorial Yad Vashem, Dani Dayan, é um homem amável e cordial, de palavras seguras também em espanhol. Seu porta-voz afirma que ele tem o coração ligado a esse idioma, que ainda pronuncia com um sotaque argentino remanescente de sua infância.

Dayan soa resoluto e contundente quando fala de seu trabalho e talvez um pouco mais cauteloso ao recordar vivências pessoais, como se estivesse medindo as palavras para não revelar demais. Mas ele sempre se mostra convencido da causa pela qual trabalha: defender o Estado de Israel e, principalmente, manter viva a memória do Holocausto.

“Israel seria um país muito mais robusto se houvesse no mundo mais 6 milhões de judeus e seus descendentes”, afirma Dayan em entrevista à DW na sede do Yad Vashem, em Jerusalém, o mais importante lugar do mundo dedicado à preservação da memória do Holocausto ou Shoah, o assassinato de milhões de judeus perpetrado pela Alemanha nazista. Para ele, não se pode compreender o atual Estado de Israel sem entender o impacto do Holocausto.

“Antissemitismo está ressurgindo em todo o mundo”

Nos últimos anos, Dayan vem observando com preocupação um aumento de incidentes antissemitas em todo o mundo. Ele lembra de seu tempo como cônsul israelense em Nova York, por exemplo.

“Pensei que o antissemitismo fosse estar bem no fim na minha agenda”, diz, mas em pouco menos de dois anos, ele registrou o assassinato de pelo menos 15 judeus nos Estados Unidos.

“É evidente que o antissemitismo está ressurgindo em todo o mundo, na Europa, na América Latina.” Dayan está, portanto, convencido da importância de manter viva a memória da Shoah.

“Há uma diferença importante entre a nossa geração e a geração do final dos anos 30. Eles pensavam ingenuamente: bem, eles queimam livros, queimam sinagogas, é muito ruim, mas eles não vão queimar seres humanos. Sabemos que sim, e que, se aconteceu uma vez, pode acontecer novamente.”

A hora dos negacionistas

A Alemanha também tem registrado um aumento nos atentados antissemitas nos últimos anos. Em 2021, a Associação Federal de Pesquisa e Informação sobre Antissemitismo (RIAS) registrou 2.738 incidentes, quase mil a mais do que em 2020. A RIAS estima ainda que o número de casos em que nenhuma reclamação formal é apresentada também seja elevado. Um fenômeno que muda as prioridades.

Dayan, israelense nascido na Argentina que viajou por todo o mundo, manteve sua decisão de não pôr os pés na Alemanha por muitos anos. Era sua própria maneira de manter viva a memória da Shoah.

Neste 24 de janeiro, no entanto, ele visitará Berlim pela primeira vez, para abrir uma exposição no Bundestag (parlamento alemão) de pertences de judeus que tiveram que fugir da Alemanha nazista.

“A melhor maneira de eu lembrar ao mundo hoje sobre o que aconteceu é visitar a Alemanha como diretor-executivo do Yad Vashem e abrir uma exposição no Bundestag”, diz ele.

O Yad Vashem, lembra Dayan, logo enfrentará novos desafios, devido ao perigo de que a memória do que aconteceu seja obscurecida pela idade avançada das últimas testemunhas diretas do Holocausto. Quando os últimos sobreviventes disserem adeus, será um “happy hour para os negacionistas”, adverte. A instituição que ele dirige está, portanto, dedicando grande parte de seus esforços para coletar mais testemunhos: “Estamos numa corrida contra o tempo.”

Críticas legítimas a Israel

Para Dayan, por outro lado, a defesa do Estado judaico não exclui as críticas à política israelense em tempos de tensão e conflito aberto com os palestinos. A crítica é “legítima”, mas deve ser distinguida do antissemitismo, diz o diretor do Yad Vashem.

“Todo israelense é mais crítico do governo de Israel do que talvez qualquer outra pessoa em qualquer outro lugar do mundo. Mas uma demonização de Israel, a deslegitimação de Israel como Estado judaico, isso é antissemitismo.”

Já tendo sido presidente do Conselho Yeshah, a organização guarda-chuva dos colonos israelenses nos territórios palestinos, ele também se diz convicto de que a existência de Israel é uma garantia de que não haverá outro Holocausto.

A necessidade de um Estado judeu

“Nós judeus aprendemos da maneira mais dura possível que precisamos de um Estado”, prossegue, Dani Dayan, lembrando o que aconteceu com o navio Saint Louis, que deixou a Alemanha em 1939 cheio de refugiados judeus fugindo dos nazistas.

“Chegou a Cuba, os passageiros tinham vistos, mas Cuba decidiu não os deixar entrar.” A mesma coisa aconteceu então nos Estados Unidos. O Saint Louis teve que voltar para a Alemanha, e a maior parte de seus tripulantes foi morta em campos de extermínio.

Dayan está convencido de que a existência de Israel “é a garantia de que não haverá outro Saint Louis. E se houver outro Saint Louis, ele terá um porto para onde ir.”

Compartilhar notícia