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Para disputar Mundial, atletas da Ceilândia vendem alfajores

Campeões brasileiros de Muay Thai, com vaga para lutar na Tailândia, ficam até o início das madrugadas em busca de recursos para viagem

atualizado

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Thiago S. Araujo/Especial para o Metrópoles
Aldeia-Top-Team
1 de 1 Aldeia-Top-Team - Foto: Thiago S. Araujo/Especial para o Metrópoles

Uma academia de muay thai na Ceilândia, que realiza um projeto social com oito jovens, conquistou o que parecia improvável: classificar quatro deles para o Mundial da modalidade, em março deste ano, na Tailândia. Sem qualquer tipo de apoio ou patrocínio, o técnico Edmar da Costa, o Mazinho, agora luta para arrecadar o dinheiro para custear outras despesas, como a hospedagem em Pattaya, cidade a cerca de 150km de distância da capital Bangkok, que sediará a competição. Para tanto, ele conta com a ajuda dos atletas na missão: eles saem pelas ruas da cidade durante a noite vendendo alfajores e grande parte dos valores tem como destino uma espécie de fundo destinado à viagem.

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No início, ainda visando o Campeonato Brasileiro da modalidade, as vendas ocorriam de quinta a sábado. As conquistas na competição e as vagas para lutar na Ásia, aliadas às férias escolares, promoveram um verdadeiro mutirão: a comercialização dos quitutes agora ocorre de segunda a segunda, visando garantir alguma tranquilidade na Tailândia. Além dos alfajores, a academia também disponibilizou uma vaquinha on-line para tentar ajudar na arrecadação dos fundos.

“Já conseguimos custear todas as passagens, mas ainda precisamos remar bastante para levantar o dinheiro da hospedagem, da inscrição e da alimentação”, celebra o treinador, que também assume a responsabilidade pelos lutadores: em muitos casos, é Mazinho quem atende pela figura paterna dos jovens atletas, chegando a ir às escolas em época de reunião de pais e mestres, período em que ele verifica, e cobra, o bom desempenho também dentro da sala de aula.

A criação de um projeto social na Aldeia Muay Thai foi uma ideia do próprio Mazinho. Também oriundo de um projeto semelhante de iniciação ao esporte, ele via na atitude uma forma de retribuir à modalidade. A situação, porém, foi além, com os pupilos do técnico se tornando uma verdadeira “tropa de elite”, que conquistou importantes vitórias e competições pelo Brasil. Na parede, medalhas e cinturões mostram a dimensão dos triunfos dos atletas, com idades que vão dos 10 aos 19 anos. “Nada é meu, é tudo dos meninos”, comemora Mazinho, sem esconder o orgulho.

Bicampeão brasileiro
Entre os talentos revelados pelo projeto está Diego Magalhães, 15 anos. Já em 2019, ele flertou com a possibilidade de lutar na Tailândia depois de conquistar o Campeonato Brasileiro. Ele, porém, esbarrou na falta de condições para viajar, mas o bicampeonato aliado à venda dos alfajores permitiu que ele realizasse o sonho de viajar para o exterior pela primeira vez, algo comum para a delegação de seis atletas da Aldeia que irá para a Ásia (além dos quatro atletas e do técnico Mazinho, o grupo estará acompanhado ainda do auxiliar do treinador, Gabriel Luka).

“Agora as coisas deram certo. Com certeza vai ser uma viagem inesquecível e eu espero ser campeão. Espero também conseguir comer escorpião”, garante o atleta, em meio a sorrisos sobre o prato inusitado para a cultura ocidental.

Além da ansiedade por lutar na meca da modalidade, a apreensão por passar quase 40 horas entre voos e aeroportos para chegar até Pattaya ditam o tom das expectativas para o Mundial.

“Estou bem ansiosa. Vai ser emocionante sair do Brasil pela primeira vez. Espero poder chegar lá e fazer o que eu treinei. Vai ser muito interessante poder acompanhar os lutadores profissionais tailandeses. Eu esperava ser campeã mundial, mas não sabia que teria a oportunidade tão cedo”, afirma Ana Clara de Castro, conhecida como Ana Canelinha, de 13 anos.

Aos 37 anos, Jaqueline Costa, esposa de Mazinho, já se preparava para pendurar as luvas. Após a gravidez da pequena Lisbela, figura frequente no centro de treinamento durante as atividades, ela voltou as atenções ao treinos focada em se despedir das competições no Brasileiro. Os planos, porém, mudaram, após a conquista do título e do posto de melhor atleta da competição, entre todas as divisões.

“Eu já estava há um tempo sem lutar. Voltei a competir em 2019 e fiz algumas lutas só para pegar ritmo para o Brasileiro, onde eu pensava em encerrar a carreira. Meus primeiros nocautes acabaram sendo lá. Agora, espero voltar para Brasília campeã mundial para fechar esse ciclo de competições com chave de ouro”, revela.

A lutadora agora se divide entre os treinos e a faculdade de nutrição. Ela sentiu a necessidade de voltar aos estudos justamente para poder ajudar os demais atletas, que não podem contratar um nutricionista para nortear a alimentação.

Para Karoline de Oliveira, 19 anos, única maior de idade do projeto, além da oportunidade de elevar o nível do muay thai, viajar para a Tailândia abrirá novos horizontes também em outros aspectos.

“Estou bastante ansiosa, a ficha ainda não caiu. Sempre sonhei viver tudo o que estou vivendo, mas não esperava que iria tão longe. Só de ir pra São Paulo de avião eu já fico agoniada, imagina para tão mais longe. Vai ser uma experiência legal, vou ficar observando as pessoas falando outras línguas e vou poder conhecer outras culturas”, celebra.

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