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Rodízio para a faixa de capitão da Seleção Brasileira dá o que falar

Em toda a história do Brasil em Mundiais, é a primeira vez que o sistema de rotação de capitães é utilizado

atualizado

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WILLIAM VOLCOV/BRAZIL PHOTO PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
BRASIL X HONDURAS seleção brasileira
1 de 1 BRASIL X HONDURAS seleção brasileira - Foto: WILLIAM VOLCOV/BRAZIL PHOTO PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Os estrangeiros consideram curioso, os brasileiros já aceitam, e quem não é do futebol geralmente acha o máximo. A ideia do técnico Tite de revezar a faixa de capitão da Seleção Brasileira a cada partida é uma inovação na história da equipe em Copas do Mundo e uma exceção na modalidade, pois carregar a braçadeira de qualquer time costuma ser sinônimo de respeito e reconhecimento.

Em toda a história da Seleção em Mundiais, é a primeira vez que o sistema de rotação de capitães é utilizado. O Brasil começou com o lateral esquerdo Marcelo, escalado na função contra a Suíça, depois teve Thiago Silva diante da Costa Rica e deverá contar com outro nome escolhido para o jogo para enfrentar a Sérvia. A definição é sempre anunciada às vésperas de cada jogo.

A própria Fifa foi pega de surpresa. Poucos dias antes da Copa do Mundo, o site oficial da entidade publicou reportagem em que indicou Neymar como o capitão do Brasil. O camisa 10, porém, só teve essa oportunidade com Tite em uma ocasião – na partida contra o Paraguai, em São Paulo, no ano passado, pelas Eliminatórias do Mundial da Rússia.

O treinador prega ser válido o rodízio para promover uma divisão de responsabilidades e não deixar um jogador só com o papel de líder. A rotatividade também é uma ferramenta para dar moral e premiar os destaques da equipe. Prova disso é Tite ter definido 15 capitães diferentes em 22 jogos no comando. Quem mais esteve no cargo foi o lateral direito Daniel Alves, quatro vezes, seguido pelo zagueiro Miranda, com três.

O sistema causa estranhamento em jornalistas de outros países, que costumam questionar Tite sobre o assunto nas entrevistas. Em clubes europeus, há uma hierarquia de capitães, em certas vezes com até quatro opções para o posto. Mexer nessa posição costuma ser delicado, além de envolver vaidades.

“Antes da Copa, coloquei para vocês que havia uma série de atletas com maturidade suficiente para continuar esse rodízio de capitães”, disse Tite na última semana. O elenco garante entender a posição do treinador. A equipe assimilou desde a estreia dele, em junho de 2016, que as vagas de titular estariam em disputa aberta, mas a braçadeira de capitão jamais teria dono.

Opiniões
Para quem tem experiência na área de gestão de pessoas, a iniciativa de Tite ajuda a Seleção a se fortalecer. “À medida que o Tite coloca a faixa no braço de vários jogadores, está dando a devida importância para cada um deles. Se ele só deixa o Neymar como capitão, é como se o Neymar fosse o diretor da Seleção, como se só ele fosse importante”, disse o master coach da Sociedade Brasileira de Coaching (SBCoaching), Liamar Fernandes, que trabalha há 43 anos com desenvolvimento e gestão de pessoas.

Segundo Liamar Fernandes, o fato de conseguir se relacionar bem com o elenco e ganhar respeito pela decisão incomum no futebol confere ao treinador habilidades desejadas em líderes de grandes empresas.

Já para o especialista em gestão e liderança Renato Grinberg, a postura com os capitães se assemelha a uma abordagem moderna no mercado empresarial chamada “open space”. Nela, desde funcionários mais simples até os diretores corporativos dividem o mesmo espaço, em um processo de empoderar quem poderia se sentir inferior.

Por outro lado, o presidente da Associação Paulista de Psicologia do Esporte, João Ricardo Cozac, considera o processo como negativo. “Esse tipo de situação fragiliza ainda mais a noção de união, de coesão, de grupo, de força de equipe. A ausência de um líder acaba fragilizando ainda mais o universo tanto individual como coletivo do time”, analisou.

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