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De Samambaia para o UFC: Thai Lopes luta contra doenças para brilhar

Um ano após ser diagnosticada com doenças que espalham dores por seu corpo, lutadora Thaiany Lopes se aproxima de assinar com UFC

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Arquivo pessoal
Imagem colorida mostra a lutadora da MMA de Samambaia Thaiany Lopes - Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida mostra a lutadora da MMA de Samambaia Thaiany Lopes - Metrópoles - Foto: Arquivo pessoal

“Nada me para.” Esse é um lema da lutadora de MMA (Mixed Martial Arts) Thaiany Lopes. E não faltam obstáculos na vida dessa moradora de Samambaia. Ela descobriu há um ano que sofre de uma doença autoimune chamada espondiloartrite e também de fibromialgia. Condições que ameaçavam acabar com sua carreira e o sonho de chegar ao UFC.

Com o diagnóstico, veio a depressão. Então, ela, que estava tão acostumada a enfrentar as dores dos treinos rigorosos e das pancadas, passou a encarar também dores implacáveis no corpo e na alma. Mas nada disso a parou.

Thai, como é mais conhecida essa mulher de 22 anos de idade que nasceu em Caldas Novas (GO), vinha construindo uma carreira vitoriosa desde os 7 anos, quando começou a treinar jiu-jitsu junto com o irmão, Thalison, levados pelo pai, Marcos Vinícius Lopes Vaz, a um projeto social. A partir daí, foi colecionando títulos, como o de campeã internacional da NAGA Fighter (North American Grappling Association).

Aos 16, fez a migração para o MMA, treinada por Roger Vieira, 34 anos, grau preto de muay thai, da equipe RPLAY. Ele está com Thai desde então e sempre a considerou um grande talento para entrar no Ultimate Fighting Championship (UFC).

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Caminho para o UFC

Nas artes marciais mistas, venceu a única luta que fez como amadora e montou um currículo invicto de 5 vitórias como profissional, em ligas como a Samurai Fight Championship e a Centro Oeste Fight (COF). Até que, em setembro de 2022, sofrendo com dores pelo corpo, em especial na região sacro-ilíaca, logo abaixo da coluna lombar, e nas articulações, ela, que nunca havia sofrido contusões graves e mal ficava doente, foi diagnosticada com as doenças que mudaram sua vida.

“Foi a primeira vez que tive que parar de vez. Toda semana tinha que ir ao hospital, com dores muito fortes”, diz Thai, que chegava a tomar morfina, “mas nada passava”.

Antes do diagnóstico, Thai achou que o problema fosse excesso de treinamentos, mas a redução da carga não adiantou, nem as sessões de fisioterapia com sua esposa, Rayane Cardoso de Souza, 28 anos, que é fisioterapeuta. Foi então que Rayane levou Thai para uma consulta com uma reumatologista, que apontou a espondiloartrite. “Chorei muito, não aceitei de cara o diagnóstico”, conta Thai.

Elas procuraram outros médicos e iniciaram o tratamento, que não surtiu muito efeito. Veio, então, a depressão. E, depois, o diagnóstico de fibromialgia, doença reumatológica que atinge os músculos, causando também muitas dores. Uma médica chegou a sugerir que Thai desistisse da carreira. Mas ela foi em frente.

Hoje, toma remédios para depressão e um imunossupressor, fornecido gratuitamente pela farmácia de alto custo do Sistema Único de Saúde (SUS) – são duas doses por mês, que lhe custariam R$ 13 mil cada uma, não fosse o SUS. Voltou a treinar forte há três meses, respeitando suas limitações, com a mesma intensidade, mas dosando para poupar mais o corpo.

Família e ídolos

“A minha família é a minha base, sem eles eu não conseguiria continuar”, destaca Thai, referindo-se ao pai; à mãe, Lilia Mariano Oliveira Lopes; ao irmão e à esposa.
O pai, Marcos Vinícius, é a grande inspiração. Thai conta que ele passou dificuldades a vida toda, ficou sozinho no mundo aos 10 anos, quando perdeu a avó, que foi quem o criou. “Uma coisa que meu pai sempre falou pra mim foi: problema todo mundo vai ter sempre, então a gente tem que aprender a enfrentar de cabeça erguida”, lembra.

Outro que a inspira é um amigo que aos 53 anos perdeu os movimentos do corpo todo e hoje é acamado. “Vejo ele todos os dias em cima daquela cama, e não reclama, faz a fisioterapia e dá o melhor dele, sem ficar choramingando”, afirma. “ Eu tenho dias bons e outros nem tanto, mas tento colocar na minha cabeça que meu corpo vai doer de qualquer forma, treinando ou não. O importante é continuar, levantar a guarda, levantar a cabeça”, acrescenta a atleta, que tem licenciatura em educação física e está fazendo bacharelado.

Aí vem sua segunda família, formada pelo treinador, Roger, pelo empresário, Glauber Fernandes, e pelos companheiros da equipe RPLAY. “O Roger foi uma das pessoas que mais me acolheu quando eu recebi o diagnóstico. Eu estava sem academia, estava parada, mandei mensagem pedindo acolhimento e ele me acolheu na hora, dizendo: ‘Vamos treinar, vamos fazer sua carreira, vamos descobrir como passar por cima disso’”, completa.

Já Glauber ela considera um “paizão”. Sem plano de saúde para fazer o tratamento e sem saber como pagar por um, ela a procurou e, além de o empresário conseguir o plano, fechou contrato com Thai.

No esporte, suas grandes referências são Amanda Nunes e Charles do Bronx. Amanda, recentemente aposentada, mas ainda detentora dos cinturões de peso-pena e peso-galo do UFC, é a maior lutadora de todos os tempos da organização, mas também é um exemplo de família para Thai, que, assim como Amanda, quer ter filhos. Da multicampeã, veio um vídeo de apoio, desejando muita luz e força. “Você é guerreira, e guerreira tem que lutar, dentro e fora do cage [o octógono]”, diz Amanda na mensagem.

Já Charles do Bronx, ex-campeão peso-leve do UFC, saiu da favela e foi diagnosticado aos 7 anos com febre reumática e sopro no coração. Sua superação ajuda Thai a acreditar. Em janeiro, ela ganhou de Rayane, como presente de aniversário, uma viagem para ver o UFC Rio, onde teve a oportunidade de conversar com Charles, e dele receber força para não desistir. “Você vai chegar lá, esses problemas que a gente passa são só pra deixar a gente mais forte”, disse o campeão para ela.

O sonho do UFC agora está se aproximando. Glauber recebeu um e-mail da organização perguntando se Thai estava pronta para lutar, e eles responderam que sim. A assinatura do contrato está cada vez mais perto. “A gente vai chegar e mostrar que eles não vão perder tempo colocando a gente lá. A gente vai vencer”, garante Roger. “A Thai sempre foi uma vencedora, ela nasceu pra isso”, acrescenta. Thaiany Lopes sabe disso. E não vai parar.

PERFIL

  • Thaiany Lopes
  • Peso: 57 kg
  • Altura: 1,62 m
  • Peso-mosca
  • 5 lutas profissionais de MMA e 5 vitórias

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