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Letícia Colin: “A Rosa me ensina a pensar o sexo com menos hipocrisia”

A atriz conversou com o Metrópoles sobre o sucesso de sua personagem, uma garota de programa

atualizado

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Paulo Belotte/TV Globo
Segundo Sol
1 de 1 Segundo Sol - Foto: Paulo Belotte/TV Globo

Antes de Segundo Sol, Letícia Colin havia arrancado elogios da crítica e do público interpretando a  princesa Leopoldina em Novo Mundo. Agora, na pele da prostituta Rosa, a atriz roubou a cena da novela das nove. Reafirmando seu talento, ela se tornou a melhor personagem da trama de João Emmanuel Carneiro.

Em entrevista ao Metrópoles, a estrela da vez fala sobre o marcante papel como garota de programa e seu amadurecimento ao longo da carreira. Cheia de nuances, Rosa tem tido várias reviravoltas na novela. Recentemente, a personagem humilhou o pai, Agenor (Roberto Bonfim), no restaurante em que ele trabalha, e virou sócia de Laureta (Adriana Esteves). O público, é claro, vibra a cada cena!

Como está a repercussão da novela?
Eu adoro ver novela. Assisto e fico envolvida com cada virada da trama. Segundo Sol é muito dinâmica e tem diversos ganchos. Então, não dá para perder nem um dia sequer, senão você deixa escapar muitas coisas. A gente se envolve com a produção de um jeito muito curioso.

Você tinha sotaque em Novo Mundo e agora entrou no “baianês” em Segundo Sol. Como é mudar tanto assim o jeito de falar?
Adoro personagens que me desafiam. Sempre quis isso para a minha carreira, pois não é fácil. Por exemplo, conseguir levar para cada cena a verdade, o realismo do sotaque, o drama de Rosa, que é uma personagem cheia de conflitos… Ela tem um núcleo familiar problemático, um lugar de muito sofrimento. O pai é machista, o trabalho é desgastante, havia a dificuldade de lidar com a patroa dela – a Laureta [Adriana Esteves] – e a vida amorosa atribulada. Então, Rosa sofre e eu sofro por ela.

Ela tem dois amores, o Ícaro (Chay Suede) e o Valentim (Danilo Mesquita). Como fica essa questão?
Eu não sei como vai ficar. Ainda bem que essa decisão não é minhas (risos)! Eu adoro contracenar com os dois. Tem o Danilo, o Chay, a Nanda [Costa, a Maura], a Adriana e outros grandes atores. Os meninos são da minha geração, a gente se joga muito, troca bastante e é superlegal. O fato de a gente se conhecer e ter quase a mesma idade, faz com que tenhamos muitas coisas em comum. Não tenho a menor ideia de como vai ficar e adoro estar na cena com os dois.

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Você tem recebido muitas mensagens por viver uma garota de programa?
Diretamente não, mas as pessoas falam que conhecem alguém. Ainda existe muito tabu. A vida da Rosa também passa por isso, apesar de ela ter uma opinião muito livre sobre a própria profissão. As pessoas dizem “eu conheci uma moça assim”, e contam a história na terceira pessoa. O legal é a discussão. Fico muito feliz de conseguirem enxergar e ter um respeito muito grande pela Rosa. Pelo menos é o que sinto na internet.

Você está em ótima forma. Como faz para ter esse corpo?
Eu estou malhando para caramba, comendo melhor, me cuidando e tendo mais disciplina no meu dia a dia. Coisas que a maturidade dos 28 anos me trouxe. Sou jovem, mas deixava muito de lado essas questões. Estou mais equilibrada.

E você está arrasando ao mostrar sua sensualidade…
Para mim, também é uma surpresa. Por mais que eu tenha uma trajetória longa, pois comecei a trabalhar muito cedo, não dá para imaginar o quanto pode render. O legal de ter uma personagem tão desafiadora é a opção de fazer uma composição complexa. Mirei num alvo difícil, e isso me trouxe muitos problemas. Foi um caminho de bastante trabalho. Me surpreendo quando a cena chega, toca e comove de verdade. Todo dia é uma surpresa maravilhosa, fruto de muita dedicação.

Mas você tem noção da repercussão da Rosa?
Estou trabalhando muito e vejo bastante coisa pela internet, como o que comentam no Twitter e Instagram. Mas pode ser uma “bolha”. Sempre desconfio um pouco. Há pessoas que elogiam, mas como a ‘unanimidade’ é burra, já li gente criticando. É normal as opiniões serem diferentes. Mesmo com as pessoas falando, para mim, o jogo ainda não está ganho. Há um percurso para ser feito e fico nervosa. Só vou sossegar quando a novela terminar.

É a primeira vez que você faz cenas mais quentes na televisão. Como está sendo isso?
É uma história de amor, de romance. A Rosa me ensina a pensar o sexo de uma maneira mais saudável, com menos preconceito e hipocrisia. Tudo vai por esse caminho mais natural, orgânico. Um casal jovem que se ama, com uma química louca, que, quando se encosta, sai faísca. O espectador merece ver essa história de um jeito honesto. São novos tempos e a interpretação tem ido para um nível bem realista. A gente está aprendendo muito com a linguagem das séries e do cinema. As cenas de amor vêm nesse pacote. E as pessoas adoram.

Houve uma cena em que foi dito “prostituição é uma profissão como outra qualquer”, e isso causou muito questionamento nas redes sociais. Como você enxerga essa questão?
A gente tem que pensar sobre isso mesmo. Não existe padronização de nada. A prostituição é uma profissão. Hoje, penso assim. E não acho que seja pior ou melhor, mais difícil ou mais fácil. Cada atividade tem sua peculiaridade. Na prostituição de luxo, as pessoas desejam ascender mais rápido financeiramente. Existe a [prostituição] que vem da miséria, da tragédia humana, da situação socioeconômica do país, quando a mulher não vê outra alternativa, pois não teve formação familiar e cultural.
Mas pesquisei que há muitas pessoas que fazem faculdade e não veem problema em ganhar dinheiro assim. E isso não as desmerece. Elas não estão presas nesse sistema. A Rosa fica nesse ínterim. Ela tem um lance de uma autoestima que não foi bem construída ao longo da vida. Essa é uma das possibilidades. Agora, existem mulheres superfortes, com uma formação tão interessante da psique, da relação com o corpo.

Você não tem receio de que a profissão ganhe um certo glamour, já que a Rosa é um pouco heroína?
É sempre sensacional fazer personagens que inspiram coragem e liberdade. Se a Rosa puder fazer isso, independentemente da sua opção de vida, as pessoas fazem suas escolhas. Já se foi o tempo de bater no vilão de guarda-chuva para representar o real. A Rosa é uma personagem que inspira justiça social, em busca de ser feliz. Ela também sofre e as pessoas veem isso.

As novelas atuais estão mostrando papéis femininos muito fortes. A Rosa é uma personagem independente, que vai à luta. Você também vai por esse caminho da mulher feminista, poderosa?
Estou aprendendo a ser, a me descobrir. Agora estou entrando nessa fase mais madura da minha vida, me formando como mulher. Com certeza, o encontro com a Rosa – as falas dela, os conflitos, as contradições – têm me mudado também. Sei que vou sair uma mulher mais forte, melhor, por ter ouvido e acolhido essa personagem na minha vida. Estou sendo transformada e isso é irreversível.

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