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Caravana do desespero: TV sem plateia deixa caravanistas sem trabalho

Responsáveis por levar pessoas de todo o Brasil às plateias de programas, os profissionais relatam descaso de apresentadores e emissoras

atualizado

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Guilherme Prímola/Metrópoles
arte Metrópoles sobre fim das caravanas para auditórios de programas
1 de 1 arte Metrópoles sobre fim das caravanas para auditórios de programas - Foto: Guilherme Prímola/Metrópoles

O que seria do Programa Silvio Santos sem a participativa plateia que, em coro, responde todas as perguntas do apresentador? Ou do Domingão do Faustão, sem a presença divertida da cover do Michael Jackson em meio ao público? Desde os tempos do Chacrinha, os auditórios são peças-chaves das atrações televisas. Com a pandemia de Covid-19, porém, a presença popular foi a primeira a ser cortada das emissoras, deixando, assim, diversos profissionais sem emprego e renda.

Até a doença causada pelo novo coronavírus se alastrar mundo afora, os caravanistas, organizadores das caravanas, viviam dias agitados e bem remunerados nos bastidores dos principais programas da televisão. “Era um trabalho muito gratificante. Ajudava a realizar o sonho das pessoas”, afirma a carioca Andrea Marques, de 48 anos, que atuava na área há mais de seis anos.

Uma das responsáveis por lotar a plateia da maioria dos programas do SBT, Andrea relata o desespero ao receber a notícia sobre o fim dos auditórios. “Estava com uma caravana marcada para o Celso Portioli, iríamos gravar no dia 27 de março. Quando soube do cancelamento, fiquei muito apavorada. Achei que era o fim do mundo. Ainda estou muito assustada com tantas mortes”, lembra.

Caravanista Andrea Marques nos bastidores do Programa Eliana
Andrea Marques nos bastidores do Programa Eliana. “Sempre foi uma das apresentadoras mais doces, tirava fotos com todos ao fim das gravações”
Pouca ajuda e muito desamparo

Até o momento, o SBT foi a única emissora que se prontificou a ajudar os caravanistas durante o período em que estão parados. Em abril, o canal fez um cadastramento dos profissionais e deu início ao programa que antecipa 50% do cachê mensal, valor que será descontado apenas quando as atividades se normalizarem. A autorização foi dada por Leon Abravanel, sobrinho de Silvio Santos e diretor-geral de produção.

Com mais de 10 anos como caravanista, Cristiano Ciongoli, 44 anos, também tem passado por dificuldades financeiras. “Não falo só por mim, mas muitas das pessoas que fazem caravanas são senhoras que vivem, exclusivamente, desse ofício, há mais de 20 anos”, diz o paulista. Ele ainda informa que muitas pessoas não têm dinheiro para as contas básicas, como aluguel e alimentação. “O auxílio emergencial do governo ajudou, mas não é suficiente”, salienta.

Cristiano, que já levou pessoas para as plateias de programas da TV Globo, como o Caldeirão do Huck, Domingão do Faustão e Conversa com Bial, entre outros, e teve a oportunidade de conhecer diversos famosos, conta ter se decepcionado com a classe artística. “Eu, particularmente, enviei e-mails e mensagens nas redes sociais para vários. Se cada apresentador que a gente fez o auditório ajudasse o nosso grupo com um pouco, passaríamos por essa crise com mais dignidade”, desabafa.

Uma das poucas exceções a surpreender positivamente os caravanistas foi o cantor Luan Santana, que doou uma leva de cestas básicas à classe. “Conseguimos também com uma ONG mais alimentos e, assim, vamos levando”, pontuou Cristiano.

Caravanista Cristiano nos bastidores do Legendários da Record TV
Caravanista Cristiano Ciongoli nos bastidores do Legendários, da Record TV
Futuro incerto

Sem esperanças de que voltem a exercer a profissão tão cedo, os caravanistas precisam descobrir novas formas de ganhar a vida para não ficarem totalmente dependentes das doações. “Um amigo me emprestou um carro e tenho trabalhado como motorista de aplicativo. Como a situação não está fácil para ninguém, ele deverá vender o automóvel em breve. Daí, realmente, ainda não sei o que farei”, preocupa-se Cristiano.

O auxílio dado pelo SBT, no momento, também é a única fonte de renda de Andrea. “Antes da pandemia eu também fazia ‘freelas’ em uma boate, preparando drinques, só que a casa também está fechada. Tudo o que faço é no meio artístico, então está muito difícil ver uma luz no fim do túnel”, ressalta.

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