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Laila Garin: “Não sou oradora política, meu melhor discurso é a arte”

Premiada atriz chega a Brasília nesta sexta (8/2) com Gota d’Água [a seco], espetáculo na estrada há três anos

atualizado

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Annnelize Tozetto/Divulgação
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1 de 1 imagem colorida mostra atriz laila garin- metrópoles - Foto: Annnelize Tozetto/Divulgação

O público brasiliense terá a oportunidade de assistir, de perto, a uma das mil e uma faces de Laila Garin. A atriz – reconhecida por trabalhos na TV, cinema, musicais e, recentemente, em 3%, da Netflix – desembarca na capital para sessões do espetáculo Gota d’água [a seco], de sexta (8/2) a domingo (10), no Teatro Unip (913 Sul). Esta será a primeira vez que Brasília recebe a adaptação do texto de Chico Buarque e Paulo Pontes, encenado por Bibi Ferreira, em 1975.

Na montagem, Joana, vivida por Laila, é moradora do conjunto habitacional Vila do Meio-Dia, mãe de dois filhos, frutos de seu casamento com Jasão, alguns anos mais novo do que ela. Compositor popular, Jasão, interpretado pelo ator Alejandro Claveaux, é aliciado pelo empresário Creonte, que o ajuda a fazer sucesso e termina por largar Joana para se casar com a filha do milionário.

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“Tentamos fazer uma peça não maniqueísta. Todos têm um pouco do Jasão e de Joana dentro de si”, ressalta Laila Garin

 

A trama passional, que culmina na vingança de Joana, tem como pano de fundo as injustiças sociais pelas quais os moradores do local passam, vítimas da exploração do próprio Creonte. “Dá uma tristeza ver como os temas permanecem atuais e as coisas não mudaram. Ao mesmo tempo, podemos ter consciência de que a natureza humana é a de explorar. Tem sempre essa necessidade social do homem de ter privilégios em detrimento do outro”, explica Laila, em entrevista ao Metrópoles.

A nova versão da peça, dirigida pelo dramaturgo Rafael Gomes, aprofunda o olhar político sobre os embates do casal, suas ideologias, ações e sentimentos. “Tentamos fazer uma peça não maniqueísta, para que as pessoas percebam que todo mundo tem um pouco de Joana e de Jasão dentro de si. São questões éticas sobre até onde abrimos mão de nossos princípios, ou quando deixamos de lutar por justiça e igualdade pelo nosso bem individual. A plateia sempre acaba se identificando”, pontua a atriz.

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Reconhecimento
Na estrada desde 2016, o espetáculo chega a Brasília com 13 importantes prêmios na bagagem. Entre eles estão o Cesgranrio, Bibi Ferreira e Aplauso Brasil, de Melhor Atriz, e o Reverência, de Melhor Atriz em musical, ambos para Laila Garin.

“Simbolicamente foi muito lindo ganhar o Bibi Ferreira, a vida parece fazer sentido quando coisas assim acontecem. Quando eu era adolescente, ouvi a gravação de trechos do espetáculo, minha mãe tinha uma fita cassete da peça. Fiquei abismada com aquele poder vocal, com a forma que aquela mulher cantava e interpretava e com a poesia daquele texto metrificado e rimado. Foi aí que eu comecei a sonhar em fazer Joana”, relembra a atriz.

No palco, os atores são acompanhados por cinco músicos sob a direção musical de Pedro Luís. A trilha sonora de Luís também foi considerada a melhor, assim como saiu do repertório do espetáculo a melhor canção original ou adaptada, pelo prêmio Cenym.

Edson Lopes Jr/Divulgação
Traição, vingança e questões socioculturais permeiam a obra que marcou época na década de 1970

 

Criminalização artística
Laila lamenta a atual demonização da classe artística por parte da sociedade. “Uma pena, mas é só a ponta do iceberg, é fruto de muita coisa. É triste você ver uma sociedade que não entende o papel da arte. É não entender o lugar da poesia, lugar da reflexão, da empatia, da compaixão, da filosofia. A gente está vivendo tempos medíocres”, critica.

A atriz salienta que, enquanto artista, a melhor maneira de se manifestar contra o que está acontecendo é continuar fazendo o seu trabalho. “Não sou oradora política, o meu melhor discurso é a arte. Tenho o privilégio de ter em Gota d’Água um texto tão bom que fala sobre todas essas questões de uma maneira melhor do que eu poderia falar”, completa Garin.

Estou calma, observando como a gente pode tocar, de verdade, as pessoas. Quero conversar num nível mais delicado, porque o combate, a guerra e a discussão não são a minha via. A minha grande questão como artista é conseguir dialogar de fato, é tocar realmente os corações das pessoas

Laila Garin

O lugar da mulher no mundo
Tanto no texto original quanto na adaptação de Rafael Gomes, a posição social da mulher é uma das questões que permeiam todo o espetáculo. “Nós decidimos incluir a faixa Mulheres de Atenas na nossa montagem pois queríamos falar do poder da mulher. Dessa mulher que não faz concessão, que não abandona os filhos, não aceita ser traída e abandonada, que não faz conchavos com quem ela não compactua. É o poder da mulher como intuição, como mãe, feiticeira e bruxa”, considera.

Laila ressalta a importância do teatro para semear discussões, em especial, no atual contexto político e social do Brasil. “Durante esses três anos e, principalmente, na nossa última turnê, que culminou justamente com o período de eleições, tivemos clareza que, além de o tema ser necessário, era anseio do próprio público se ver espelhado no palco”, conclui.

Annnelize Tozetto/ Divulgação
Por sua interpretação de Joana, Laila Garin ganhou importantes prêmios teatrais, entre eles o Bibi Ferreira e o Reverência, de Melhor Atriz

 

Gota d’Água [a seco]
De sexta-feira (8/2) a domingo (10). Sexta e sábado, às 20h, e domingo, às 19h. No Teatro Unip (913 Sul). Ingressos: R$ 35 (meia-entrada). Não recomendado para menores de 14 anos

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